Este texto foi escrito de memória, dez meses depois da visita à Suécia

Já não é novidade para ninguém que a vida está repleta de surpresas. E esta pequena história conta uma delas. Pois também sabemos o que é uma companhia de aviação lowcost. Os mais experientes saberão todos os pequenos truques que estas empresas aplicam para ver reduzidas as despesas, podendo continuar a aliciar os felizardos clientes com taxas reduzidas, por vezes rídiculas. Um dos expedientes é a utilização de aeroportos afastados das cidades cujo destino consta no “bilhete”. Frankfurt-Hahn, um dos principais hubs da Ryanair fica tão longe de Frankfurt que a Cidade processou a operadora irlandesa por publicidade enganosa, ou coisa que o valha. O aeroporto de Bruxelas para a qual esta companhia voa, é tão de Bruxelas como Beja seria de Lisboa. E, para atalhar texto, o Estocolmo que a Ryanair fica na realidade a 100 km da capital sueca, e chama-se Nikoping. E foi ai que fui parar, quando, vindo de Praga, decidi gastar a copiosa quantia de 35 Eur, tudo incluido, para passar uns dias em Estocolmo.

O que para muitos seria um precalço, aqui para o que vos escreve foi uma benção. Passando um dia e meio em Nikoping conheci uma Suécia que escapará ao lado do turista mainstream. Fiz um amigo, que diligentemente nos guiou por aquela pequenina cidade. E que memórias ficaram! A chegada, ao cair da noite, numa latitude onde a meio da tarde o sol já vai desaparecendo. E de como ele nos esperou no aeroporto, e caminhámos da paragem do autocarro até sua casa. O frio que não morde, a paisagem de um Inverno ainda com sabor a Outono, atravessando parques com toques de bosque, cobertos de folhagem dourada no chão, como um tapete desdobrado para receber hóspedes de tão elevada honra.

No apartamento, uma demonstração: como é que técnicas de construção e materiais adequados permitem que se esteja em casa em mangas de camisa quando no exterior estão 10 graus negativos. Sem aquecimento, claro. Milagre? Não. É a forma de construir à sueca. Funciona, impressiona e faz inveja. Mas porquê que neste país de brandos costumes e invernos amenos uma pessoa tem de tilintar de frio entre Novembro e Março, andar de cachecol em casa e pagar uma conta brutal de electricidade por causa daquele radiador que com sorte oferece algum consolo à sola dos pés?

O serão decorre em caloroso convívio. É a primeira machadada na sólida árvore de ideias transmitidas de boca sobre a natureza dos suecos. Lá para o fim desta estadia de cinco dias, o enorme gigante há-de ceder, e atingir o chão sob o grito de “madeiraaaaaaaa”. Mas a seu tempo lá iremos. O problema desse primeiro dia em terras do rei Gustavo foi mesmo ir para a cama. Brincadeira puxa brincadeira, conversa puxa conversa, e mesmo depois de um dia cansativo de viagem, as horas foram passando, e eram já umas quatro da madrugada quando se der a sessão por terminada.

O dia acordou tristonho, cinzentão, chuvoso, mesmo. Mas isso não impediu a exploração da castiça cidade. Talvez nem chegue a tal. Talvez se fique pelo título de vila, exista-o ou não na Suécia. As ruas são simpáticas, assim como o parecem ser as pessoas. O nosso inusitado guia passa o dia a falar com os seus concidadãos, e nós perguntamos ingenuamente: “Conheces?” ao que ele invariavelmente responde “Não, mas apeteceu-me falar com ele”. Os suecos, frios? Sim, sim… experimentem lá falar com um total desconhecido, mesmo numa cidadezinha de província portuguesa e verão.

Almoço? Mais uma machadada no tronco. Então a Suécia é intoleravelmente cara? Toma lá uma pizza, mesmo à maneira por 5 Euros. Espera! Isso não é o que se paga num qualquer “shopping” português por um raquítico menu na Pizza Hut? Toing! E vai mais uma. O resto do dia é passado a andar, de um lado para o outro, a ver, a sentir, a apalpar a atmosfera. E que agradável é. Não cabe em palavras, e a câmara ficou em casa, excluida (estupidamente, lição aprendida) por racionamento do espaço disponível em bagagem. São pormenores encantadores, a rua principal, pedestre, cheia de vida, com lojas bem arranjadas, chamativas. Num estaminé especializado em queijos, que o Danny faz questão de nos mostrar com o entusiasmo que só um cliente habitual pode ter encontramos uma bandeja com marmelada….. portuguesa! A conversa fácil dos simpáticos suecos e o seu generalizado à vontade com a língua inglesa permite-nos explicar que somos da terra da marmelada. Sorrisos, entusiasmo, boa-disposição.

A noite cai, de novo prematuramente. E nisto está na hora de apanhar o comboio para Estocolmo. Tempo de adeus. A Nikoping e ao Kenny, que mais tarde me retribuiria a visita, passando uns quantos dias no meu apartamento de Praga.

Nota Importante: Por cortesia da bosta do serviço móvel SAPO, perdi o longo texto que escrevi sobre os restantes dias na Suécia, nomeadamente em Estocolmo. Lamento, mas não tornarei a reescrever. E se pensa em aderir a um serviço de internet móvel, esqueça o SAPO. É mau de mais, e não é de hoje nem desta zona.

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