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Finalmente decidi-me a aventurar-me um pouco fora dos roteiros convencionais de Istanbul. Na véspera, ao serão, tinha estudado cuidadosamente o plano para chegar a Miniaturk, um parque feito de miniaturas de monumentos e edíficios de significado histórico da Turquia. Segundo apurei no decorrer da investigação, apanharia o autocarro numa paragem com acesso a partir do metro Osmanbey, ou seja, uma estação antes de Taksim. Até tinha tomado nota dos horários. E lá fui.

Chegado à paragem, espero, espero, espero e nada. O autocarro aguardado passaria de 30 em 30 min e já estou ali há 45 minutos. Começo a perguntar em cada um que pára, mas sem sorte. A resposta é sempre negativa. Nenhum vai para Miniaturk. Já se passou uma hora, vi todos os números de autocarros repetidas vezes, mas nada do que preciso (fica a informação para quem necessitar:  é o 54 HT). Desisto. Começo a caminhar lentamente avenida abaixo, procurando respirar fundo e afastar o sentimento negativo. Todos estes dias em Istanbul foram passados no limite, com qualquer pormenor menos agradável a precipitar uma crise de ânimo.

E ia assim, embrenhado nestes pensamentos, quando… nem quero acreditar… um autocarro com um claro 54 HT está parado no trânsito mesmo à minha frente. Olho em redor e vejo uma paragem a uns 100 metros para trás de mim. Toca de correr mesmo a tempo de entrar.

Tomo um lugar, olho para o monitor com o nome da paragens que se seguem mas não vejo Miniaturk. Mau. Será que alguma coisa mudou. Tudo é possível. Resta aguardar e esperar o melhor. E o melhor acontece, mas muito, muito tempo depois. Aquele autocarro dá voltas e mais voltas, por vezes aproximando-se do meu objectivo, outra vezes virando-lhe as costas. Por fim aparece a esperada palavra no monitor: Miniaturk.

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Localizado à beira do “golden horn”, mesmo no seu fim, este parque merece uma visita. Bilhete: 10 TL, ou seja, um pouco menos de 4 Eur. Mas assim que entrei fiquei rendido, boca aberta, excitação, vontade de ver tudo aquilo com a atenção merecida. Os modelos estão espectaculares. Bem feitos e diversificados. Não vou descrever aqui tudo o que vi. Há aldeias históricas do Curdistão, mesquitas de talhe elaborado, os grandes monumentos de Istanbul, o estádio olímpico… enfim… um mundo. No interior do parque há um pequeno museu dedicado à chamada Guerra da Independência, existem diversões para a pequenada, cafés… um espaço para se passarem um par de horas sobretudo se o tempo estiver ideal, como era o caso. Alguns modelos são tão realistas que o Emre, vendo as minhas fotografias, ficou confundido… nalguns casos nem queria acreditar que não era o local real.

Terminada a visita, saio do parque com um grande sorriso. A disposição para o dia mudou completamente. Verifico o GPS e vejo que não estou longe do Museu de Electricidade, instalado numa antiga central, e muito gabado nos guias. Porque não… ? Vou até lá, de facto é perto. Mas está encerrado. Um simpático segurança deixa-me atravessar o espaço exterior para poder sair pela outra ponta e ter acesso ao autocarro. Sendo assim o destino seguinte será Ayup.

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Compro uma Coca-Cola por uma ninharia, apanho o autocarro para poupar tempo e energia,que ainda estou a 3 km e não há nada de especial no caminho. Ayup é um local sagrado do Islão. Acredita-se que estará ali sepultado este homem santo, o porta-bandeira do Profeta. Num dia normal há sempre peregrinos que ali se deslocam, mas estamos no Bayram – uma festa religiosa que se pode ver como equivalente ao nosso Natal – e há uma enorme multidão a acorrer ao complexo de mesquitas e tombas que se encontram em Ayup.

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Quero subir a Pierre Loti, um topo de colina que ganhou o seu nome deste francês que em finais do século XIX se apaixonou por Istanbul e que, pelo que fui lendo aqui e acolá e pelas imagens que vi, era um dos objectivos prioritários da visita à cidade. Mas decididamente não era o dia adequado. Existe um teleférico que permite aos visitantes ultrapassar a encosta íngreme mas a fila de espera era tão longa que desisti e fui a pé. O acesso é feito através deum vasto cemitério, que se encontrava cheio de pessoas que visitavam os entes queridos falecidos.

Lá em cima, encontrei o café que oferece fabulosas vistas sobre aquela parte da cidade, mas se num dia normal é recatado, nesta tarde estava repleto e era impossível considerar ficar por ali um bocado. Tirei umas fotos, e desci de novo pelo cemitério.

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Depois foi caminhar. Transpus os cerca de 5 km até à ponte de Galata, mas vi muita coisa interessante pelo caminho. O dia tinha aquele ambiente que em Lisboa corresponde a uma tarde de Sábado cheia de sol, com muita gente nos espaços abertos a passear e a relaxar. Pequenos barcos acostados com gente sentada no seu interior a beber chá ou a efectuar pequenas reparações. Alguns destes barcos são pequenas tascas improvisadas onde se vendem refeições de peixe grelhado na hora com muitos vegetais e o omnipresente chá a acompanhar.

Vejo um hidroavião que ganha posição para descolar, e mais à frente encontro a sua base. Pelo que percebo trata-se de uma carreira regular para Bursa.

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Quase a terminar a expedição, aventuro-me no bairro de Balat, pobre, pictoresco. Há uma rua especialmente recomendada, de fácil acesso, e que funciona como uma introdução ao bairro. Chama-se Vodina, e corre paralela à avenida marginal. Este foi um dia em que tentei ser um turista convencional, seguir uma rota com o guia na mão, mas não resultou. Não sei como fazer. Perdi-me, enervei-me, andei para trás e para a frente. Não, prefiro o meu método, vagabundear, ver o que se me atravessar no caminho, que será o que o meu instinto me trouxer.

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Eventualmente cheguei a Eminem, que está ainda mais repleto de gente do que o normal. A fome aperta, a sede nem falar, e os músculos precisam de algum descanso. Olhem, faço uma pequena loucura, sento-me na esplanada de um dos restaurantes da ponte, encomendo uma mega-cerveja de 0,70l e uma sandes de queijo branco. Que delícia! Uso um pouco a Internet, observo, relaxo. Quando pago e me levanto já o sol emite os seus últimos raios do dia. Ainda ando um pouco mais por uma zona que me tem intrigado: Karakoy, que é onde os enormes paquetes de luxo atracam para “vomitar” as multidões de turistas. Não há muito a reportar… hoteis, restaurantes. Subo a pé até Taksim, por um Beyoglu cheio de vida, apesar de já ter caido a noite. Aproveito para dar uma vista de olhos na “rua francesa”, que de facto tem um ambiente diferente a esta hora.

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