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Na véspera de deixar Kayakoy decidi repousar. De qualquer modo o meu anfitrião ausente deveria aparecer nessa manhã, e achei de bom tom estar em casa para o receber.  Levantei-me, estiquei os ossos, e instalei-me no sofá exterior, como sempre, ao sol, acomodado pela pilha de almofadas, de livro na mão.

Aquilo foi uma manhã de preguiça, dedidada a retemperar forças. Com o avançar do relógio cheguei a considerar que afinal o Semih não viria. A Ozden tinha-me semeado essa dúvida, com o seu olhar gozão, carregado com a interrogação “será que vem mesmo?”. E agora, já era meio-dia e nada de Semih & Sophie.

E às tantas já nem sei se prefiro assim. Gostei deles, mas… e que tal um dia inteiro de “dolce far niente”? Mas as fantasias foram interrompidas. Um táxi pára no caminho e levanto-me para dar as boas-vindas aos que chegam. O Semih já está à conversa com o velho Ali curdo. Sacos continuam a sair do interior do carro. E pronto, chegaram, vou ter companhia para o dia.

Enquanto se instalavam tentei ajudar como pude. O Semih ia dando indicações e eu procurava segui-las. Pusemos a Internet a funcionar com o novo router… o anterior tinha sido queimado durante uma trovoada.

Prepararam uns petiscos para almoçar. Comemos nas calmas, à turco, enquanto conversávamos. Os meus pobres amigos tinham passado a noite no autocarro, e, claro, estavam cansados, ainda mais que eu. Acabaram por adormecer, na modorra de um início de tarde quente.

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Mais tarde, já para o fim do dia, o Semih propôs irmos dar uma volta para esticar as pernas. Claro que achei muito bem. E fomos, os três, sempre à conversa, que com aqueles dois os temas são sempre interessantes. “Roubámos” romãs das árvores, que nesta altura altura do ano estão carregadas daqueles frutos… e figos… e amoras. Enquanto o Semih ia contando histórias dali e dacolá. Sobre vizinhos e sobre a cidade antiga. Sobre as montanhas e sobre os pastores. E sobre as maravilhas da comida turca e tudo o mais.

Fomos visitar a amiga da Ozden que faz bijuteria junto à entrada da antiga Kayakoy e deliciei-me com a cara de espanto do meu amigo quando ma tentou apresentar e eu lhe disse que já tinha o prazer de conhecer.

Ficámos ali sentados, um bom bocado. Com mais uma para a conversa, ainda melhor, mesmo se ela pouco inglês falasse. Descobri que, tal como eu, era licenciada em História,tinha dado aulas, mas tinha-se incompatibilizado com o sistema de ensino, viciado, de programa duvidoso, carregado de nacionalismo. Seguiu um rumo diferente, rebelde, e ali está, uma verdadeira “hippie”, que será o seu rumo provavelmente até ao fim.

Passámos pela loja, pagámos uma dolorosa conta e fomos para casa preparar o jantar. Mais fértil conversação se seguiu, desta vez acompanhada de raki como manda a tradição. E às tantas a noite acabou. O Semih foi trabalhar, eu, tendo que acordar às 6:30, meti-me na cama.

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