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O despertador apitou às 6:30. Senti logo que ainda era de noite, mas aquela era a hora a que tinha que me levantar. Desse por onde desse teria que estar em Fetyeh para apanhar o autocarro das 9, que faria a ligação para o meu voo, que descolaria pelas 10:55 de Dalaman.

Havia alguma insegurança no ar porque não sabia ao certo a que horas teria “dolmus” para a cidade. No restaurante tinham dito que às 8h, mas nunca se sabia, que isto fora de época…. depois, fizeram um telefonema e disseram que afinal, às 7h, o que me pareceu muita fruta após as reticências para a ligação das 8.

E foi assim que fiz pela enésima vez aqueles dois quilómetros, em passo rápido, de forma a estar na paragem pelo menos às sete. Veio a hora e nada. Nem “dolmus” nem companheiros de viagem. Pelas 7:15 duas miúdas em uniforme escolar vieram plantar-se ali. Menos mal. Pouco depos, pára um carro em frente à paragem, sa uma outra rapariga pronta para a escola, que me diz qualquer coisa, primeiro em turco e, depois, vendo a minha expressão, em inglês. Diz para eu entrar no carro. Bom. Entrar no carro. Aproximo-me e pergunto ao senhor do volante se me está a oferecer uma boleia para Fetyeh. Diz que sim, para eu entrar lá para trás. E foi assim que sem pedir, ganhei uma viagem que me resolveu um problema e me poupou uns Euros.

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O meu anjo salvador é professor. Faz a viagem até Fetyeh, deixa lá o carro e apanha um “dolmus” para uma aldeia a 14 km de distância, onde dá aulas. Fala alemão fluente, mas inglês nem por isso. Dá mesmo assim para falar um pouco. Conto-lhe o meu plano de viagem e exulta quando ouve falar em Dyarbakir, porque já lá deu aulas. Fica ainda mais entusiasmado quando lhe digo que fiquei em casa de um amigo mesmo em frente do curdo Ali. Pela expressão fica claro que o tem em elevada consideração.

Com isto chego a Fetyeh com bastante tempo para gastar. Quase uma hora e meia. O sol tinha acabado de se levantar, as primeiras pessoas iniciavam as suas tarefas diárias. As cores estão ainda muito quentes. Uma boa altura para umas fotografias.

Há uma ironia no ar que quero transmitir: há dois anos, quando estive na Grécia, passei bastante tempo em Rhodes. Ora na altura ocurreu-me fazer uma expedição rápida à Turquia, apenas para “colocar a minha bandeirinha” no país. Olhei, estudei… ia custar 60 Eur mais o visto. Acabei por afastar a ideia, até porque, segundo me parecia, não havia nada de especialmente interessante por aquela região. E esta é a ironia… na altura, não tinha sequer ouvido falar em Kayakoy, e agora, dois anos volvidos, foi esta cidade fantasma a principal motivação de uma visita de quase um mês à Turquia.

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Mas numa coisa tinha estado certo: não havia nada (para além de Kayakoy, claro) na região para mim. Decididamente os dias que aqui passei foram excessivos. Acho que me entusiasmei com as imagens do Mediterrâneo, esquecendo-me de como as coisas não são assim tão diferentes “lá em casa”.

Andei pelo porto de recreio de Fetyeh até se fazerem horas de procurar o autocarro para o aeroporto. Lá estava ele, conforme o previsto, e mais uma vez o plano correu às mil maravilhas. No aeroporto comi uma sandes, comprada num snack-bar com um toque muito anos setenta que me deliciou. Aquele aeroporto (Dalaman) é todo ele assim, com um toque nostálgico que me encantou.

Quando chego ao Sabiha Gogkcen ao fim da manhã já me sinto em casa. Que diferença para quando ali me vi, há uns dias atrás, inseguro, como sempre me sinto na primeira abordagem a um país novo. Foi entrar para o autocarro, que desta vez chegou ao centro sem grandes problemas de trânsito e apear-me em Taksim.

Sinto-me fresco, e mesmo com a mochila caminho com alegria. Páro a namorar uma loja de comida e o convite dos empregados convenceu-me. Encomendo um menu, uma sandes de kebab e uma Coca-Cola, por 8,5 TL. Sinto-me ainda melhor. Está na hora de procurar o Museu Militar.

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Chego sem dificuldade, depois de perguntar no portão errado, de onde me apontam o caminho correcto. O museu é moderno, com gente simpática. Deixo a mochila no bengaleiro. Pago 5 TL pelo bilhete e 10 TL pelo direito de usar a câmara. Nada mau. Cerca de 5 Euros. Veio-se a revelar dinheiro bem gasto.  A exibição é boa, bem organizada, extensa, toda ela legendada em inglês. Existe gente a visitar, um misto de locais e de turistas, mas na quantidade certa.

Talvez o melhor tenha sido mesmo o concerto de música Mehmet, uma cacofonia de origem militar, tocada com instrumentos tradicionais quase sempre acompanhados com vozes marciais. O pequeno senão: esperava que o concerto fosse ao ar livre mas não, foi num auditório que existe no interior do museu. Preferiria a luz natural por causa da fotografia e creio que de uma forma geral teria resultado melhor, mas não me posso queixar. Uma visita a um museu de qualidade com um concerto incluido, por aquele preço, é uma verdadeira pechincha.

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E digo mais… se bem que seja possível assistir à actuação da banda militar noutros locais, aqui, no museu, é certinho. Todos os dias em que está aberto, entre as 15 e as 16. A actuação é prececida de um video explicativo, legendado em inglês, e depois começa a “barulheira”. E se o é! Afinal, na origem, esteve a exploração do impacto psicológico sobre o inimigo daquela chinfrineira incrível. Em 1453, quando Constantinopla caiu para os turcos, o ataque principal foi acompanhado com quantos músicos o sultão conseguiu reunir, na esperança convicta de que o barulho emitido o faria, apenas por si, vencer a batalha.

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Eram quatro e pouco quando sai para a rua e mais nada correu bem. Na entrada, um carro espatifado tinha colidido com a casa da guarda. Acidente ou atentado, nunca saberei. Uma equipa atarefava-se a limpar o local.

Vi no meu GPS que ali perto havia dois locais que pretendia visitar: o cemitério católico e o museu de Ataturk. O Cemitério encontrei-o fechado, com ares de quem está assim em permanência. E o museu também, apesar de ser apenas porque encerra cedo.

Acabou-se-me o ânimo. Meti-me no metro, passei pelo Carrefour e fui para casa descansar. Foi um dia bem preenchido.

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