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De metro até Taksim, de funicular ou metro, conforme a interpretação, até Kabatas. Caminho em direcção a Besiktas, passo pelo sitio onde estava o estádio do Besiktas e que é agora um enorme estaleiro de obras, vejo o palácio de Dolmabache, residência dos sultões otomanos nos últimos tempos do Império e local de falecimento do grande Ataturk, segue-se o palácio Ciragan, recuperado por um grande grupo hoteleiro em troca de autorização para construção de um hotel de luxo mesmo ali ao lado. E acabo por chegar a Ortakoy.

Ortakoy é um bairro dinâmico logo antes da ponte sobre o Bósforo e a sua mesquita à beira mar oferece um belo retrato, um clássico que se repete em cada guia turístico. Mas não para mim. Qual não é a minha cara ao chegar ao local e ver que também esta mesquita se encontra em trabalhos de restauro. Que grande decepção. Ando há que dias a pensar nesta fotografia, e tiro-a mesmo, coxa, mas mesmo assim não escapa. Com a mesquita em todo o seu esplendor é de facto uma rica perspectiva.

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Seja como for, fica a memória de um bairro cheio de vida. Muito comércio, vendedores de rua, gente a disfrutar de um belo dia de sol. Muita gente, uma autêntica multidão. Já começo a ficar cansado e atalho o desgaste apanhando um autocarro de volta para Kabatas. Maravilhas do Istanbulkart. O plano é atravessar para o lado asiático e visitar Kadikoy, um dos bairros centrais da “outra banda”.

No barco um velhote toca violino e canta, com uma chuva de aplausos encorajadores, desproporcionais à vocação, entre cada tema. Tendo dado o reportório como esgotado o idoso faz uma colecta, para a qual participo com uma lira. O ferry passa em frente à monumental estação ferroviária de Haydarpasa, construida pelos alemães nos finais do século XIX como parte do seu gorado plano para ligar o seu país aos campos petrolíferos das Arábias. A Primeira Guerra Mundial terminou mal para eles e o plano caiu por terra. Mas durante todo o século XX foi esta estação intensamente usada pelos turcos para receber o tráfego ferroviário proveniente de grande parte do país. Actualmente está totalmente parada, assim como está a actividade de comboios em Istanbul, enquanto a linha entre Ancara e a cidade sofre obras profundas que se estenderão pelo menos até 2014.

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Kadikoy transpira de vida. A multidão movimenta-se, incessante. Este não é o único bairro da margem oriental nem tão pouco é o único terminal fluvial, mas é o principal, onde o metro da parte asiática se liga aos ferries. No pavimento um esquadrão de crianças toca música com gaitas de plástico, angariando umas moedas. Há barraquinhas de vendas de tudo e filas de engraxadores de sapatos. Junto à água, os omnipresentes exércitos de pescadores, namorados abraçados, amigas de lenço na cabeça que tiram fotos mútuas.

A quantidade de autocarros que chega e parte, se movimenta e se arruma é algo de perturbador. E nem estou a contar com os mini-bus que ocupam um outro terreiro ao lado, de igual tamanho. Os restaurantes, cafés e casas de chá são feitos a esta escala, com enormes salas quase totalmente cheias. Passo por aquilo tudo com os olhos postos na estação de comboios, que alcanço depois de umas voltas. Tinha lido que o local tinha uma atmosfera especial, mas as expectativas foram excedidas. Pode não ter os pergaminhos da sua parceira da margem ocidental, que tem aquele prestígio emprestado pelo famoso Expresso do Oriente, mas mantém uma aura especial, mais viva aqui do que do outro lado. A gare é como um museu vivo, uma obra de arte aberta. Estava deserta. Literalmente. Os comboios já não circulam e é pouco provável que voltem a aqui entrar, porque entretanto o sistema ferroviário está a atravessar uma fase de remodelação que não deixará espaço para estas velhas glórias. Há pouco tempo um incêndio consumiu o telhado do enorme edíficio, mas os danos só se notam se se observar com atenção e do ângulo correcto.

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Defronte, existe uma locomotiva antiga em exposição, dois terminais de barcos e uma charmosa esplanada onde me instalo a ler, bebendo primeiro uma Coca-Cola para me hidratar e receber energia, e depois um chá para entrar no espírito.

Regresso pelo mesmo caminho, com a travessia do Bósforo a fazer-se perante o deitar do sol, em condições de luz que me oferecem excelentes imagens. Acho que até ao momento foi um pedaço mais bem passado desta viagem.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Se tiveres interesse, o maior fabricante de pratos, para bateria, é originário de Instanbul. No início do século passado a marca industrializou-se e estabeleceu-se nos EUA mas, deixou descendência em Instanbul. Ficaram aí dois fabricantes que criaram a marca Instanbul, ainda feitos artesanalmente. Anos mais tarde um deles morreu e o que ficou criou uma marca sua e os descendentes do que morreu criaram outra. Istanbul Agop e Istanbul Mehmet. Ambas estão no lado Ocidental de Instanbul. http://istanbulcymbals.com/home.html e http://istanbulmehmet.com/. Aí estão localizadas as fábricas deles que podem ser visitadas. Não sei se ainda fazem os pratos arsenalmente. Sei que até há uns 10 anos atrás ainda usavam métodos artesanais.
    Boas viagens 🙂

    • Faz-me pensar que faz todo o sentido, considerado a utilização de “pratos” na música tradicional otomana, usada durante séculos para atemorizar o inimigo…. assistir a uma pequena performance e de facto o “chavascal” que aqueles meninos fazem seria de fazer gelar o sangue nas veias do inimigo… e muito dos decibeis são produzidos por “pratos”. Imagino que esses fabricantes tenham lojas numa rua que desce até ao Bósforo e onde practicamente só existem lojas de instrumentos musicais, uma atrás das outras, como se fosse uma feira de instrumentos musicais permanente, com literalmente centenas de lojas.

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