Como tantas vezes sucede, não me consigo recordar de como e quando tomei conhecimento da existência de Buzludzha. Poderá ter sido no Verão de 2010, quando preparava uma viagem pela Roménia e Bulgária. Mas sei que assim que pus os olhos nas primeiras fotografias soube que tinha que visitar. Mas não foi fácil. O local é ermo, só mesmo de carro se chega lá. Às tantas comecei a desesperar, quandi vi as possibilidades esgotarem-se.

E então chegaram as melhores notícias: o meu anfitrião na aldeia de Ivan Vazovo tinha que viajar e assim como assim dava-me boleia e ia-mos batendo umas capelinhas. Que sim, que conhecia Buzludzha. O mais complicado foi explicar-lhe porque é que estava tão interessado naquilo. O Nasco é daqueles que nunca compreenderá os encantos do Urbex, mas fez-me a vontade, lá deu uma volta para lá chegarmos. Obrigado Nasco!

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Buzludzha é o nome daquele pico. A palavra tem origem no turco e significa algo como “em gelo”. Foi o local da última batalha entre os independentistas búlgaros e as forças otomanas em retirada. O ponto final numa ocupação de séculos. Aconteceu em 1868, e logo em 1891 um grupo de revolucionários reuniu-se ali para fundar o Partido Social Democrata da Bulgária, o antecessor do Partido Comunista daquele país. A liderá-los estava Dimitar Blagoev. E foi por esta significado histórico que o local foi escolhido para a construção do monumento e centro de congressos. Custou uma fortuna e mobilizou diversas unidades do Exército encarregues de o erigir. Ficou concluido em 1981 e pouco depois deu-se o colapso do regime e o local ficou ao abandono.

Fomos em meados de Outubro. Apesar de se estar ainda no início do Outono, Buzludzha fica a quase 1500 metros de altitude e o cume estava coberto de neve e gelo. Mais abaixo, uma série de monumentos menores preparavam o visitante para o “grand finale”. Há escadarias, estátuas, parques por cuidar. O ambiente está brutal. A luz excelente. Quero ir lá acima, aproximar-me daquela construção surreal, a que muitos búlgaros chamam de “disco voador”. É de facto futurista, parece uma nave espacial vinda de um tempo mais avançado.

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No topo não se vê vivalma. O Nasco não quer entrar. Paciência. Chego-me às portas do edíficio e assusto-me… tudo fechado. Não, não quero acreditar que vou ficar do lado de fora. Tem de haver uma forma, há fotografias do interior tiradas por visitantes como eu. Começo a circundar a estrutura, e agora parece ainda mais uma nave espacial, com formações de gelo agarradas aos pilares. Então encontro uma porta de metal toda retorcida. Tinha sido forçada. Problema resolvido, encontrei a entrada.

Lá dentro está escuro e ao principio sou invadido por uma onda de decepção. Não há nada, apenas um espaço frio e nu. Mas logo encontro o grande auditório. Eram ali realizados os congressos anuais do Partido Comunista da Bulgária. Na abóbada, um enorme símbolo do partido, com a foice e o martelo que se esperaria, mas o elemento mais forte é mesmo a colecção de mosaicos dos grandes ideólogos socialistas: Engels, Marx e Lenine.

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A sensação que me percorre em momentos assim é impossível de descrever de forma total através de palavras… é um espanto temperado com alguma adrenalina, uma satisfação pela descoberta, por pisar onde antes se fez História. Naquele dia não me pude demorar muito. O Nasco estava à espera e já lhe devia muito por me ter proporcionado a conquista de Buzludzha. E além disso não havia muito mais para ver.

Acabo a incursão e saio por um outro ponto. Foi óptimo. Daqueles momentos que não se esquecem.

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