O chamado Object 221 (lê-e Obíect 221, e significa, na generalidade das línguas eslavas “complexo”) fica agora na Rússia. E digo “agora” porque quando por lá andei era ainda a Ucrânia que governava na Crimeia.

Dormi umas quantas noites em Sevastopol e com tanta sorte que o meu anfitrião era aficionado de Urbex. Isto, para quem gosta desta actividade, é a perfeita ideia de Paraíso: estar numa região militarizada por uma superpotência decadente na companhia de alguém que conhece os cantos à casa é simplesmente um cenário de sonho. Naqueles dias visitámos uma mão cheia de locais Urbex, mas o que hoje aqui vos apresento estava envolto em mistério.

Para o Nick era também a primeira vez. Mas ao contrário do que acontecia comigo, tinha encontrado informação sobre o local nas suas investigações. Depois de uma ida a uma antiga base de submarinos nucleares iniciámos a pesquisa no terreno, tentando chegar ao acesso do Object 221.

Seguíamos indicações que o Nick tinha recebido de uns amigos. A determinado momento quase que desistimos. Encontrámos a estrada bloqueada e ainda parecia estarmos bem distantes, mas nessa altura vimos três pessoas que nos confirmaram tudo: estávamos a ir bem, agora era caso para deixar ali o carro e subir a montanha a pé.

Entretanto, para apimentar as coisas, começava a chover. Que perfeito. A 3 km do objectivo, lá bem para cima da montanha, e sob chuva. Bem, mas conseguimos!

O complexo é totalmente subterrâneo. Existem uns poucos edifícios à superfície, especialmente na proximidade do lugar onde deixámos a viatura. Deviam prestar apoio à portaria e à segurança do perímetro. Os soviéticos não brincavam em serviço no que tocava a segurança. Nunca. Depois, há os bunkers por onde se entra para os túneis subterrâneos. Em ambos os casos, apesar das estruturas não terem janelas, foram pintadas réplicas de janelas para iludir a observação, parecendo-se ao longe com edifícios comuns.

Mas afinal o que era isto do Object 221? Obtive duas versões diferentes da resposta a esta questão. O que o Nick me disse é que o complexo devia albergar o Governo da União Soviética em caso de uma crise global despoletada durante o Verão, quando os mais destacados elementos do Politburo passavam férias na Crimeia. Por outro lado, li algures que o Object 221 tinha sido construído para servir de quartel-general da Frota do Mar Negro em caso de guerra ou crise séria. Mas talvez ambas as possibilidades correspondam à verdade e pudessem ser combinadas.

Seja como for, a base nunca foi acabada, e quando a União Soviética colapsou, em 1989, os trabalhos de construção foram descontinuados e as instalações caíram em ruína. Pouco depois toda a área foi vendida pelo Estado a um preço ridículo. Entretanto, com a anexação de 2014 não sei se algo já aconteceu ou irá acontecer por aqui.

 

Galeria de Imagens

Aspectos Práticos

No caso pouco provável de visitar a Crimeia e de os russos deixarem o pessoal andar por aqui, ficam as coordenadas:

Deixar o carro em 44° 31.240’N  33° 42.450’E

Entrar no complexo em 44° 31.071’N  33° 42.091’E

Na altura não seriam de esperar sarilhos. Era apenas uma questão de conseguir chegar ao local e depois partir à descoberta do complexo. Sem perigos. Apesar de enorme, não seria do género em que uma pessoa se pudesse perder lá em baixo. Claro ficar sem luz a meio da expedição é que não seria mesmo nada bom. Por isso, faça-se o que se fizer, que a luz nunca e acabe. Pilhas extra, telemóvel carregado, lanterna suplente.

 

 

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