Vaguear sem destino pelas ruas de Viena é uma crueldade pelo excesso: a cada momento uma nova maravilha nos extasia, a grandiosidade banaliza-se e o conceito de centro ou baixa é muito difuso. Ali, tudo é central. Numa cidade “normal”, existe um núcleo histórico, e depois, passado o seu último anel, as ruas são iguais às de tantas outras cidades. Mas em Viena cada pedaço é único e caracterizado por algo muito próprio. A grandiosidade é omnipresente e extende-se durante quilómetros a fio. O percurso do eléctrico D é o cúmulo: se o viajante entrar em Sudbanhoff, como eu fiz no dia em que cheguei, e se deixar ir, pensará estar a assistir a um desfile de estrelas arquitectónicas. A abundância é tanta que subsiste o risco de o visitante se sentir esmagado e desorientado. Senti com alguma frequência que Viena é demasiado grande. Andei quase sempre desorientado, porque na luta entre si, os pontos de referência na cidade se anulam. Não há espaços dominantes. Dei por mim hesitante perante a ideia de já ter passado por este ou aquele ponto, diante de monumentais edíficios, que noutra cidade seriam sem dúvida um marco inesquecível.

O ritmo a que tudo se tem passado impede um planeamento de visitas, logo, a deambulação torna-se errática. Desloco-me ao sabor do vento, virando aqui sem razão aparente, escolhendo uma nova direcção no próximo cruzamento de forma aleatória. É impossível arranjar um tempinho disponível para pegar no guia e ler, identificar previamente o que vou ver. Os espaços que tradicionalmente são utilizados paa este trabalho, os serões, estão agora tomados pelos interessantes programas que os meus anfitriões me arranjam incessantemente. Por tudo isto, é-me impossível comentar o que fui vendo. Ficam as imagens, para que quem conheça Viena me possa identificar percursos e visitas. E deixo também as ideias gerais, captadas na experiência deste primeiro dia: a beleza generalizada, a organização sadia que reina em toda a cidade, as bicicletas que cruzam loucamente as ruas e passeios e as pessoas… simpáticas, bem-dispostas, fluentes em inglês.

O custo de vida… os bens de supermercado são genericamente mais caros do que no nosso país. Já comer fora é bastante mais barato. Ao longo da estadia não tive dificuldade em selecionador locais onde o prato principal oscilou entre os €3 e os €6. O que depois encarece a refeição é o preço da bebida, por vezes chegando aos 50% do total da refeição. Neste primeiro dia fui adiando o almoço, embebedado pelas novidades que ia encontrando a casa esquina. Até que não foi possível aguentar mais, e olhei em redor, disposto a uma escolha imediata e pronto para tudo. Num esgar identifiquei três ou quatro restaurantes, num espaço de uma centena de metros. Escolhi uma pizzaria, que fui encontrar vazia e, mais estranho, explorada por uma família de paquistaneses, o que em Viena é comum, segundo me explicou posteriormente o Flo. Encomendei um Schnitzel e uma garrafa de água. Foi-me servida uma sopa, oferta da casa. E chegou o prato principal: duas vastas “chapas” de carne de porco cortadas muito finas e panadas, acompanhadas por batata frita. A conta? €7,50. Já agora, fica a nota: a escolha final recaiu neste estabelecimento porque tinha menú em inglês. Este foi um problema que senti com frequência em Viena. Os menus apenas em alemão podem ser problemáticos, dada a diferença entre as nossas línguas…. e com comida não se brinca.

Já a tarde ia avançada quando, por mero acaso, me deparo com uma das atracções que me tinha chamado a atenção durante as leituras diagonais do Guia American Express de Viena: a Undertwasser Haus. Trata-se de um bloco de apartamentos construido em 1985, que se constitui como uma mancha de cor, cuja missão, segundo o seu criador, era quebrar os elos cinzentistas associados ao moderno urbanismo.  A palete viva e os detalhes a diversos níveis providenciam de facto uma dinâmica visual improvável numa malha citadina. Deixo as imagens, apenas algumas, de entre a colecção que tão pictoresco edíficio me inspirou a recolher.

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