O Paraguai é uma nação perdida, encravada num canto do mundo onde nada há que chame a atenção. Não tem petróleo nem uma posição geoestratégica. E não é comum encontrarem-se livros sobre este país. John Gimlette contudo fê-lo. Escreveu acerca do Paraguai e colocou nas suas linhas um amor de filho adoptivo.
Tecnicamente é uma crónica de viagens, mas na realidade trata-se de um livro mais complexo, que entrecruza anais de uma história violenta e suada com as deslocações que o autor vai fazendo pelas terras desoladoras deste país com um passado tão negro. E John não olha a dificuldades. Onde haja algo de significativo para a compreensão do “seu” Paraguai, ele vai. Conhece as pessoas mais incríveis, dorme em buracos imundos, alimenta-se de “petiscos” capazes de dar a volta ao estômago de um morto. Mas, acima de tudo, escreve bem. É uma prosa divertida, que consegue transmitir de forma suave os elementos que habitualmente se encontram apenas em secos compêndios de história: a sucessão de ditadores, as crueldades que promoveram e as guerras que despoletaram. Depois há as estórias das comunidades que fizeram o Paraguai de hoje. Australianos, alemães, ingleses, japoneses, coreanos. John parte por ai, à procura destas aldeias onde os habitantes vivem ainda agarrados a tradições que deixaram para trás há várias gerações. Encontra-os, conversa com eles. E dá-nos notícia do que aprende.
Como livro de viagens tradicional, At the Tomb of the Inflatable Pig é algo estéril. O leitor não encontrará nas suas páginas descrições ao estilo de um guia. Se calhar porque o Paraguai é mesmo assim, desprovido de interesse turístico. Mas seja como for, depois de ler este volume fica-se com uma compreensão abrangente sobre o país. Nada como começar pelas bases, e nesse aspecto John não se faz rogado, dá-nos todas as ferramentas de que poderemos necessitar para entender o Paraguai de hoje através do que foi o Paraguai de antes.
Tinha adquirido este livro há mais de um ano, quando vagamente preparava uma travessia integral da América Latina que não aconteceu ainda. Ficou esquecido na prateleira, e nem sei bem porque o escolhi como leitura para este frio Outono. Seja como for, não me arrependo. Um dia, quando visitar o Paraguai, verei as coisas com outros olhos, com aquela compreensão de quem vê para além da superfície. E é para isso que este livro pode ser recomendado: para todos aqueles interessados em atingir um conhecimento relativamente profundo do país partindo das raizes históricas mais profundas, que são permanentemente ligadas ao presente pelo autor. Well done, John.