Livros: The Pillars of Hercules

livros-pillarsofherculesEste é o segundo Paul Theraux que leio, depois de Ghost Train to the Eastern Star. Não mudou muito. A mesma qualidade de escrita, o mesmo estilo de viagem, o mesmo chauvinismo anglo-saxónico. Desta vez, decidido a percorrer as costas do Mediterrâneo entre os Pilares de Hércules, ou seja, entre Gibraltar e Tânger, Paul Theraux parte numa longa jornada, descrita com retoques escolásticos, mas com muito de mau a assinalar. Assim de memória, sem uma ordem especial: o autor não hesita em classificar de “judgemental” um tipo que encontra na Sardenha, mas a verdade é que Paul Theraux é, ele próprio, aquilo de que acusa o outro. Os seus juízos de valor são constantes e por vezes patéticos. Apesar de mal ter colocado os pés na Grécia, passando por Corfu e pouco mais, não hesita numa generalização bacoca, referindo-se constantemente à Grécia como se o país se limitasse aquela mesma Corfu. Depois, há a ignorância, traiçoeira, que mina a credibilidade do que se lê em todo o livro; não, Mostar não fica na Bósnia mas sim na Herzegovina… não, não foram os sérvios que destruiram a famosa ponte naquela cidade mas sim os croatas. Outro elemento que mexe comigo quando leio as linhas de Theraux é um chauvinismo que poderá parece discreto ou inexistente para alguns mas, tirando uma ou outra excepção, a coisa repete-se assim: pessoais locais são uns tipos patuscos com que se deve conversar para alegrar a viagem, paera colorir os dias… mas para discussões sérias, só mesmo ingleses, norte-americanos, australianos. Paul Theraux procura-os de forma sistemática para onde quer que vá. É uma pena.

Referidas que estão as fragilidades estruturais do autor, nesta obra em particular há a acrescentar uma estranha distribuição de espaço. A Gibraltar começa logo por dedicar um capítulo inteiro, algo aborrecido, aliás. Depois, apesar do Mediterrâneo ter a forma que conhecemos, o livro já vai nuns 70% quando por fim sai da Europa. É um método intrigante para um homem que se vê como um explorad0r de mundos desconhecidos. Como se não bastasse, passamos depois uma quantidade abismal de páginas a bordo de um cruzeiro hiper-luxuoso, aparentemente como preço a pagar pela boleia (entenda-se, a borla) que Paul Theraux apanhou no navio. Por alguma razão que a razão desconhece, surge uma perssonagem, Jack Greenwald, que é referido umas quarenta vezes nessas páginas, de uma forma bizarra, estranha, mesmo.

Eu disse que a ideia era viajar pelas costas do Mediterrâneo, de um até ao outro pilar de Hércules? Sim? Ok… se fosse eu, era caso para começar em Gibraltar e ir contornando, sempre, até chegar ao destino. Não com Paul Theraux, que anda para trás e para a frente, num ziguezague incrível, que o leva a passar por alto a tal Grécia que parece detestar mas que não deixa de ser um dos verdadeiros pilares da cultura mediterrânica, a arrastar-se pelo bem-bom das costas de Espanha, França e Itália e, muito convenientemente, a passar “por cima” da Libia e da Argélia.

Mas nem tudo é mau. O estilo de escrita deste autor fascina o leitor com facilidade. A tempos consegue ser divertido, e é quase sempre muito ilustrativo. Gosto especialmente do estilo de viagem, algo semelhante ao meu. Pelo menos na maior parte do tempo.

O livro foi publicado em 1999 e nestas coisas da literatura de viagem isto é um elemento a ter em conta. E um problema. Porque em 15 anos o mundo não muda o suficiente para que se faça de um livro um clássico que fala não só de paragens distantes mas também de outros tempos e contudo as coisas alteram-se o suficiente para a informação parecer por vezes deslocada, e nem sempre ser de utilidade para quem quer que queira seguir o trilho de um autor.

Escolhi este livro porque me apetecia ler algo que fosse puramente “literatura de viagem”, e é inegável que o é. Mas confesso que me tinha esquecido como os problemas assinalados me conseguem aborrecer. Mais Paul Theraux? Sim, mas primeiro tenho que esquecer de novo os aspectos negativos – são bastantes, como vimos – deste escritor.

Aparentemente não existe uma edição portuguesa, mas há uma espanhola.