Este é um livro que sem ser tecnicamente de viagens, acaba por o ser, considerando que é sobre descoberta, aprendizagem de novas culturas, descrição de experiências distantes. A diferença é que o viajante, como o nome indica, está de passagem. Peter Mayle foi para ficar. Como tantos outros antes de si este inglês, na companhia da esposa, decidiu trocar as britânicas agruras climatéricas por condições mais agradáveis. A Provença é o local onde acredita encontrarem-se os seus sonhos.
É o primeiro de uma série de obras que relatam as experiências do autor em terras francesas. Depois de A Year in Provence seguiram-se Toujours Provence e Encore Provence: New Adventures in the South of France. Juntos formam uma espécie de trilogia dedicada à vivência quotidiana dos Mayle em França. Como quase sempre acontece os primeiros tempos são complicados. O choque cultural está lá, para dificultar as coisas, e é preciso estabelecer a teia social e travar conhecimento com vizinhos e restante comunidade. Depois, há aquela casa, que tanto precisa de umas obras. Eu disse obras? Pois é, parece um lugar comum nestas coisas de livros e filmes sobre gente que recomeça a vida noutras paragens mas a verdade é que são mesmo um problema na vida real. As malfadadas obras seguem o livro quase desde o príncipio até ao fim, mas deixam espaço para muito mais.
Há que descobrir a gastronomia local, uma personagem importante na obra e, de resto, na Provença. E arranjar com o vizinho as vindimas. E lidar com os penetras que, vindos do Reino Unido, tentam obter um hotel gratuito à custa de uma qualquer vaga ligação aos Mayle. São estas, enfim, as premissas, as linhas temáticas deste livro. Mas, e quanto à prosa?
Bem, a escrita de Peter Mayle é apelativa, divertida, leve. Uma excelente leitura para os dias de praia, para sorrir enquanto o sol nos acaricia. Mesmo assim, preferiria um pouco mais de compreensão para este facto da vida tão evidente mas tão complicado de entender por quem dá um passo como os Mayle: as coisas não são como lá em casa, se fossem, não valia a pena mudar de residência. Depois, há outra coisa: o leitor não deverá esperar uma espécie de manual da Provença. Não, o livro não é sobre a região francesa, é sobre um casal que ousa e sobre os obstáculos e alegrias que encontra na sua caminhada em direcção ao sonho.
O livro está disponível no mercado espanhol mas não foi publicado em Portugal. Para terminar, uma nota paralela: Peter Mayle foi o autor de A Good Year (2006), que esteve na origem do filme com o mesmo nome, com Russel Crowe no principal papel.