Dia 22 de Fevereiro de 2020, Sexta-feira

Foi uma noite descansada. Bom ambiente no hostel, boa vizinhança no dormitório, silêncio no exterior. Aqui não há pequeno-almoço, tenho que improvisar com o que comprei ontem na mercearia. A melancia estava deliciosa!

Vai ser um dia dedicado ao repouso, depois de todo o desgaste das semanas em altitude e dos três dias de tour desde Uyuni.

Tenho algumas tarefas básicas para cumprir contudo. A principal é comprar o bilhete de autocarro daqui para Salta, na Argentina. Não será barato, como já sabia. Cerca de 40 euros. É verdade que são muitas horas de viagem e implica a passagem da fronteira, mas custa a dar.

Tenho o dia livre. Os escritórios das agências de autocarros só abrem a meio da tarde. Ando por San Pedro de Atacama apenas porque me canso de estar sem fazer nada. É de facto uma povoação curiosa. Cheia de turistas, com agências de tours porta sim porta não. Mas não está demasiado congestionada. É agradável. Por uma vez este tipo de ambiente vem ao encontro do que precisava: um local simples, com tudo preparado para me fazer a vida fácil.

Tomo nota mental de várias opções para tomar uma refeição a sério, mas acabo por não visitar nenhuma delas. Custa-me a pagar os preços que vejo nos menus. Refeições a custar 6 Euros ou mais.

Penso em me sentar numa esplanada, mas o meu manómetro de nível de turismo de massas aponta para valores altamente tóxicos e desisto da ideia. Ando simplesmente por ali, percorro as ruas, vejo menus de restaurante e as pessoas, noto que a presença de brasileiros é muito elevado e que quase toda aquele gente que trabalha na indústria do turismo fala português do Brasil.

Tinha chegado a pensar em fazer algumas das tours que estão disponíveis a partir de San Pedro de Atacama. Mudei de ideias porque acho que fiquei satisfeito com o tipo de paisagens e experiências que esta região me poderia oferecer depois dos dois dias e meio de tour desde Uyuni. Além disso, estou cansado. Preciso de parar um pouco, fazer uma pausa antes de prosseguir com a viagem pela América do Sul. Porque de resto, os valores são até razoáveis e os pontos a visitar parecem fascinantes, apesar de suspeitar que se encontrarão saturados com turistas. Mas não importa, porque de qualquer forma não irei.

A meio da tarde, depois de passear e aprimorar a arte do não fazer nada, ora deitado na cama, ora na rede que existe no pátio do hostel, vou então até à estação de autocarros, um caminho que infelizmente se tornará muito familiar para mim nas próximas 48 horas.

Compro sem problemas a passagem a uma simpática senhora. À minha frente estava um argentino com ar de gaúcho e com um odor corporal incrivelmente forte. Comentou o meu destino com um sorrido: “Salta, a bonita”. Sim, é esse o cognome do meu próximo destino. Despachou o seu assunto e aguardei mais uns segundos enquanto a senhora corria a espalhar desodorizante de ambiente no pequeno escritório. E a seguir comprei o tal bilhete para o dia seguinte de madrugada.

No regresso ao hostel fiz outra paragem na mercearia e já não saí mais. San Pedro de Atacama estava vista e ia agora usufruir ao máximo do descanso que aqui me foi proporcionado.

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