Dia 24 de Fevereiro de 2020, Domingo
Como que numa repetição da véspera, acordar cedo, desta vez ainda de noite, tomar o pequeno-almoço num hostel deserto, acabar de embalar as coisas para a viagem, inclusive uma série de sandes para a longa viagem de autocarro que se avizinha, e caminhar para a estação.
Lá fora está escuro, mas já se vêem algumas pessoas a iniciar um novo dia. Ando confortável, pensando nas enormes vantagens de viajar leve. Chego à estação. No horizonte o céu começa a dar sinais de clarear. À hora esperada chega o autocarro. Desta vez não há problemas.
Não é dos melhores autocarros que usei por aqui, mas a viagem foi-se fazendo. O dia levanta-se e vem belo, com um céu azul profundo e mostrando uma paisagem fascinante: austera, montanhosa, desértica, com grupos de vicuñas que aqui e acolá observam placidamente a nossa passagem.
Pelas 9:35 chegamos à fronteira. Aqui houve uma união dos postos e as formalidades tratam-se no mesmo local, passando simplesmente de um balcão para o outro. Excelente ideia! Funcionários simpáticos e entrada simples na Argentina.
Agora será rolar sem parar até às 17:00. Pelo caminho vou vendo algumas das paisagens mais espectaculares desta viagem. Bem que me tinham dito que a ligação entre San Pedro de Atacama e Salta era muito cénica.
Passamos pelo meio de um salar, uma versão argentina de Uyuni. As montanhas acompanham-nos durante boa parte do percurso. Há enormes cactos, como nunca tinha visto, aqueles que se encontram associados ao imaginário dos desertos norte-americanos. Imponentes, que nos olham de cima.
Já perto de Jujuy, a Quebrada de Humahuaca. É um local considerado Património Mundial da Humanidade pela UNESCO e contudo não conhecia nem creio que tivesse ouvido falar. Como é Domingo há milhares, senão dezenas de milhares de visitantes. A estrada foi transformada em parque de estacionamento improvisado, e o autocarro passa com dificuldade.
Paragem em Jujuy e pouco depois chegamos a Salta. A estação de autocarros não é bem no centro mas dá para andar, até porque estou sentado há quase 12 horas e a tarde está agradável.
Tenho alojamento marcado no hostel chamado Siete Duendes, que desaconselho de todo. Um local mesmo rasca, mesmo para o segmento super económico onde se encontro. Nem a localização é excelente, nem o pessoal é agradável. Ainda bem que marquei só uma noite apesar de planear ficar três em Salta. Como estava cansado ainda pensei em engolir todos os inconvenientes mas o destino falou por mim: no dia seguinte vai haver uma desinfestação e durante boa parte do tempo os hóspedes terão que ficar na rua. Estão loucos. Na manhã que vem darei uma volta e visitarei algumas opções, porque de manhã pode-se entrar e sair ainda.
No Siete Duendes até as fichas eléctricas são estranhas, de um formato que não conhecia. Um amigo argentino emprestou-me o seu carregador. Os outros hóspedes foram a única coisa boa que encontrei neste hostel. Há um ambiente de confraria, como se o pessoal vivesse ali e fossem todos vizinhos. Boa onda.
Vou sair, ter o primeiro contacto com o centro da cidade. É preciso andar um bocado, por ruas longas e rectas.
Na praça principal vou ao Multibanco e tenho uma má surpresa: a taxa para retirar dinheiro é considerável. Pergunto a uma simpática polícia onde há outra caixa e ela indica-me. A mesma coisa. Mais tarde dizem-me que é assim mesmo, por causa da vulnerável moeda argentina: elevadas taxas nas operações.
Já com Pesos compro uma lata de Coca-Cola de quem bem preciso para descontrair e refrescar. Estou cansado e com um humor um pouco em baixo. Salta não me parece tão bonito como a fama que tem, levei com doze horas de autocarro, o hostel é mau. Mas tudo bem.
Para já aprecio o ambiente por ali. Há dançarinos e artistas de rua. Turistas, muitos, mas locais. Ando por uma rua pedestre, encontro o conversor para as fichas eléctricas nos vendedores ambulantes que encontro onde o meu amigo argentino no hostel me disse que os iria encontrar.
Como é Domingo as lojas estão quase todas fechadas. Como uma pequena tosta mista por um preço muito baixo e volto para o hostel para descansar. Amanhã será um novo dia.