Não é segredo nenhum: o Cruzamundos tem um fraquinho por Castelo de Vide. Sinto-me bem nesta vila. Mesmo no pico do turismo de massas em Portugal conseguiu manter um toque genuíno, sobrevivendo à descaracterização que afectou tantas outras terras lusas. Em Castelo de Vide sinto-me em Portugal, com o meu povo, e isso faz-me feliz.

Ora em Dezembro de 2019, quase que por acaso, acabei por comemorar aqui o meu aniversário. Tinha vindo uns dias para esta parte do país. Reservas havia. Para o Marvão e para Nisa. E planos para caminhar. Percorrer alguns das PR’s (Pequenas Rotas) da região era afinal o principal objectivo da expedição. Contudo, aquela noite especial, a do meu dia de anos, não tinha planos. Seria algo de improviso e o destino quis que descobrisse assim o Convento da Senhora da Vitória. Soube que era aquilo, tinha que ser. E afinal foi. E muito mais.

O booking foi feito em cima da hora. No próprio dia, porque não. Pouco depois chegava ao Convento. Ao final da tarde. Sem um GPS pode não ser fácil dar com o lugar à primeira. Mas correu bem. Havia uma calmaria que abraçava todo aquele lugar. Os hóspedes para a noite não tinham ainda chegado.

Na recepção, ninguém. Esperei um pouco. Apareceu um jovem que tratou das formalidades do check-in e mostrou o quarto. Um quarto fenomenal, com uma janela de canto onde me poderia perder horas a ler. Deixou-me, foi à sua vida. E eu aproveitei para explorar o Convento.

É um mundo e a cada vão de porta que se ultrapassa esconde-se uma surpresa. As salas estão decoradas com elementos com estórias que apenas se deixam adivinhar. É uma selecção eclética, aquela que aqui se encontra. Há talvez uma preponderância de peças de meados dos anos 70, mas a variedade de estilos, as combinações cromáticas a multiplicidade de formas, fascina.

Há diversas salas e delas se abrirão portas para quartos que se escondem. Vai-se acima e abaixo, percorrem-se diversos níveis. No topo, algo que parecem ser as antigas celas dos monges que um dia aqui habitaram. Há algo de incompleto, mas parecem ter sido adaptadas como dormitórios, quartos partilhados, camas alugadas certamente a preços económicos.

Lá fora há um jardim cheio de fantasia. Alguns projectos iniciados e abandonados ou apenas suspensos. Parece-me ver o que teria sido ou deveria ter sido um bar. Um tanque que pode ser chamado de piscina, talvez em dias melhores. Árvores. Peças únicos deixadas como que por acaso entre a relva. Cadeiras que deviam ter sido recolhidas na época da chuva mas que não o sendo vão dando sinais de fim de vida. Nada disto reduz o meu entusiasmo. Continuo tão fascinado como antes.

A fachada, que dá para a estrada, foi cara lavada. Talvez demasiado lavada, perdeu um pouco da alma que se sente nos interiores e nos espaços ajardinados.

Dali, a pé, está-se no centro da vila em 15 ou 20 minutos. De carro, é um tirinho. E contudo, pouco movimento há no asfalto. A calma impera. De vez em quando passa uma viatura, mas à hora de dormir nem isso e quando o silêncio se põe sobre aquelas paragens o sono é repousado. Talvez os ocupantes dos quartos mais expostos às idas e vindas de outros hóspedes tenham algo a objectar a esta minha memória mas, pessoalmente, não me posso queixar.

À noite acende-se a lareira. Que não se esqueça que estamos em Dezembro e no final do Outono faz frio em Portugal e mais ainda em Castelo de Vide. É portanto um gosto sentar junto ao fogo que crepita e aquecer os pés que foram gelando.

A sala que é contígua ao meu quarto, venho a descobrir, é comum na teoria mas privada de facto. Ninguém ali vai, porque dela só há acesso à minha habitação. Há dois ou três aquecedores que tentam contrariar o ar frio que se vai infiltrando. E com algum sucesso, diga-se.

Saio para jantar em Castelo de Vide. Uma refeição agradável. Regresso. Segue-se a noite e depois dela o pequeno-almoço. Como tudo o resto aqui, é bom. Há a variedade e há a qualidade. Os outros hóspedes estão-se a despachar. São espanhóis. Creio que são todos espanhóis.

E depois deles chega a minha hora de partir. Levo a memória de uma estadia fabulosa. O Convento Senhora da Vitória é um local único e merece ser incluído em qualquer roteiro de viagem por esta região.

Para terminar, gostaria de deixar bem claro que não recebo qualquer compensação monetária por parte do Convento Senhora da Vitória por estas linhas que aqui vos deixo. Contudo, se um dia ali ficarem, seria uma alegria que fizesse a reserva através desta ligação para o Booking.com, pois aí sim, receberia uma pequena gratificação dessa empresa.

1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns pelas belas fotos que nos deixa ver e pela descrição feita da sua estada no Convento da Sra da Vitória.

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