Livros: The Life and Times of the Thunderbolt Kid

thelifeandtimesofthethundeboltkidFico sempre surpreendido quando descubro que um amigo não conhece este autor, porque a mim o nome de Bill Bryson surge em todo lado. É verdade que não é especialmente prolífero nos seus escritos, mas a verdade é que não há livraria onde entre que não dê com uma lombada com este nome. Não em Portugal, contudo, onde creio nunca ter sido traduzido. O que é uma pena, porque o seu sentido de humor é brilhante e os relatos com que enche os livros são cheios de côr e de vivacidade. Tratam-se de textos que se lêem de uma só assentada, com cada página a suceder-se à anterior, no meio de sorrisos e, pontualmente, gargalhadas.

Os livros de Bill Bryson podem ser encontrados na secção de viagens das livrarias, mas poucos se enquadram efectivamente neste género literário. Um dos seus volumes mais bem conseguidos não tem mesmo nada a haver com isto (A Short History of Nearly Everything) e os que se assemelham ao estilo de narrativa de viagens limitam-se a regiões culturalmente próximas de Bryson. Cidadão dos EUA, viveu muitos anos no Reino Unido, e é a estes países e à Austrália que dedicou grande parte dos seus trabalhos. Quando se aventurou fora desta área de conforto, em Neither Here Nor There: Travels in Europe tudo falhou. Veio sobretudo ao de cima aquela incapacidade muito anglo-saxónica em lidar com o que é diferente, a intolerância para o que não se compreende. E é por isso que o título que vos sugiro hoje é  The Life and Times of the Thunderbolt Kid.

A particularidade deste livro é a dupla viagem em que nos leva: no tempo e no espaço. Bryson convida-nos a percorrer, ou melhor, a revisitar a sua infância, trazendo-nos a ver os Estados Unidos da América dos meados e finais dos anos 50. O seu Iowa tem o foco, mas é toda uma realidade nacional que é retratada. São as memórias de um homem que, afastado das suas referências durante o alargado período de tempo, regressa, e sente a necessidade de se conciliar com o seu passado pessoal. E não se importa de partilhar este reencontro com quem quer que deseje acompanhá-lo através deste livro.

O resultado são umas quantas horas de puro deleite, enquanto nos familiarizamos com os medos, fantasias e expectativas de um miúdo americano dos anos 50. Um miúdo que para nossa grande sorte cresceu para se tornar um escritor pleno de talento. São páginas e páginas recheadas de pormenores deliciosos, como a introdução do “famoso” Stephen Katz, que se tornará na personagem principal num outro livro de Bryson (A Walk in the Woods: Rediscovering America on the Appalachian Trail),  reaparecendo na vida do nosso autor uns 30 anos mais tarde. Entretanto, somos relembrados que houve dias, mesmo nos poderosos EUA, em que uma televisão a cores era um luxo reservado apenas a um punhado de eleitos e em que os brinquedos que faziam feliz a pequenada não tinham circuitos integrados.

E não pense o meu leitor que ter um gosto pelas coisas americanas é um pré-requisito para se apreciar este (e os outros) livro de Bill Bryson. Nada disso. A sua capacidade de recriar um mundo ido apela a qualquer um, especialmente aos mais velhos, aqueles que, também eles gostam de acariciar as suas memórias de um universo passado.