Neste penúltimo dia de viagem estava animado. A véspera foi em grande e a previsão meteorológica para a fase final da expedição à Suíça e ao Liechtenstein era sorridente. Além disso ia colocar um novo país visitado na minha lista, o que me põe sempre um sorriso na face.

Este bilhete de St Gallen para Malbun, onde ficarei esta noite no Liechtenstein foi o mais caro que comprei durante esta viagem. Quase 30 Euros. Primeiro, autocarro de casa até à estação de comboios, uma primeira ligação até Sargans, perto da fronteira, um autocarro para a capital do Liechtenstein e outro autocarro para chegar a Malbun. Uma das coisas boas da app dos caminhos de ferro suíços é que combina diversos meios de transporte. Um só bilhete aglomera todos estes percursos. E se fosse caso disso ainda podia incluir teleféricos de montanha.

Como sempre por aqui a viagem fez-se sem percalços. Apenas saí um pouco atrasado de casa e stressei um bocado para apanhar o comboio. Depois stressei mais um bocado porque – escândalo dos escândalos na Suíça –  o comboio chegou 10 minutos atrasado e isso colocou em risco a ligação com o autocarro. Teoricamente poderia simplesmente apanhar o seguinte, mas aí ia perder a ligação final e com isso o meu bilhete saía do seu prazo de validade.

Mas ao chegar lá estava ele, o autocarro, talvez à espera das pessoas que vinham no meu comboio, talvez simplesmente atrasado.

Chego a Vaduz e já estou noutro país. Agora é esperar uns minutos pelo autocarro para Malbun, que nesta altura do ano passa de hora a hora.

Pequena igreja em Malbun

Viagem fascinante, sempre a subir, com a paisagem a ganhar grandiosidade à medida que passam os quilómetros. Com muitas curvas e contra-curvas tenho oportunidade de ver o vale que lá em baixo se vai tornando pequenino. Junto à estrada, casas tradicionais, de madeira, algumas mais rústicas do que outras, quase todas muito bem arranjadas.

O sol brilha, o céu é azul e a vida é bela. Mal posso esperar para chegar e começar a explorar. Na aproximação, começo a ver a primeira neve. Não poderia ser melhor, esta mistura. Lá em Malbun há neve, logo abaixo, não. O melhor de dois mundos para mim!

Ainda é cedo para fazer o check in no hotel mas não há problema. Tinha-lhes perguntado se podia deixar a mochila e ir passear antes da hora certa chegar e disseram que sim. Mas para já cirando por ali perto, fascinado, em êxtase. Subo até uma pequena capela, a uns 100 metros de distância do hotel, e depois sento-me num banco a comer umas sandes.

A mochila vem carregada de abastecimentos, porque aqui não há nenhum local para comprar comida, para além dos restaurantes caros, e de resto o Liechtenstein é ainda mais caro do que a Suíça.

O meu hotel: Vögeli Alpenhotel Malbun.

Bem, vou então ao hotel. O jovem simpático diz-me que não há problema com a hora e que posso ficar já com o quarto. Cada vez melhor.

Formalidades concluídas, vou ver o meu alojamento. Bem, um bocado simples e pequeno, mas estava ciente de que tinha comprado uma estadia a um preço impossível: 59 Euros para uma noite num quarto privado com WC também privada numa estância de neve no Liechtenstein!? No way! Mas foi. E com pequeno-almoço incluído. Wow!

Oops… o aquecimento não parece funcionar, mas se calhar sou eu que estou a ser desajeitado. Vou lá abaixo – e é uma bela caminhada, porque este hotel é bizarro… há uma passagem subterrânea desde o edifício principal até onde de facto se encontram os quartos e é uma viagem considerável – mas o Martin não parece preocupado com o meu problema. Se calhar o aquecimento só dispara mais ao final da tarde. Senão, para falar com ele no dia seguinte. Terei ouvido bem? Não, o dia seguinte não é opção, quero quentinho HOJE. OK, também me pode dar outro quarto, se for caso disso. Tudo bem, vou então descontrair uns minutos e sair para passear e depois logo se vê.

Adoro o hotel. O edifício original, dizem, é o primeiro da estância, que é agora uma pequena aldeia. Confesso que fiquei um pouco triste de não ficar naquela romântica casa de madeira, tão pitoresca e tradicional. Mas tudo bem, o dia está lindo demais para ser estragado por isso.

Um trilho simples de montanha
Um trilho simples de montanha

Tomo um trilho que sobe a montanha, sem grandes ângulos. Pacífico. Há outras pessoas que passam por mim. Não muitas. Paisagem serena, ar limpo, silêncio. Ainda caminho uns 3 quilómetros, sempre atendo aos pinheiros de onde se desprendem blocos de neve que, não sendo perigosos, podem-me deixar bem molhado numa fracção de segundo.

Este trilho está marcado, é um segmento de um percurso de caminhada que sei agora não poderei fazer. A distância não é muito, mas a inclinação é algo que não estou disposto a enfrentar hoje. Seja como for, chego a um ponto onde se torna claro que não se pode prosseguir. A neve tomou conta do trilho. Agora é voltar para trás.

Casa tradicional em Malbun

Ao longo deste caminho existem alguns balouços. A Rota dos Balouços é algo interessante. Tinha lido um artigo sobre esta ideia. Mas no inverno as coisas complicam-se.

Com isto já se passou um par de horas. Exploro ainda um pouco da aldeia mas não há muito a ver. Espreito a base do teleférico, por mera curiosidade. E vou para o quarto, aquecer-me e comer qualquer coisa.

Outra casa de Malbun

O aquecimento continua sem funcionar. Vou de novo à recepção. OK, quarto novo, melhor. Tudo bem, regresso ao meu canto, arrumo as coisas sumariamente e subo ao andar de cima. Oh boy! Que melhoria! É basicamente uma suite, com uma cama que dá para quatro pessoas, uma área de estar com um sofá confortável e uma longa secretária. Se isto já estava bom agora ficou idílico. Cheguei ao paraíso. Malbum para mim foi isso, um paraíso, incluindo o hotel.

A casa de banho é principesca, a janela dá para uma varanda que, ao contrário da do anterior quarto, me oferece uma vista deslumbrante para a aldeia e para as montanhas. Coloco as minhas bebidas lá fora. Já sei que vou ter cerveja geladinha para o “jantar”. Experimento a cama, instalo as coisas na secretária. Estico-me no sofá e tiro centos de fotografias a tudo isto. Poderia ficar aqui uns tempos e ser feliz. Mentira, passado uns dias já estaria saturado. Mas para já estou no céu.

Uma perspectiva da aldeia

Passei um bom bocado no quarto a apreciar tudo aquilo. Senti depois que era hora de passear um pouco mais e tomei o trilho oposto ao outro, pelo lado da montanha mais próximo do hotel. A luz estava maravilhosa e a perspectiva sobre a aldeia era ainda melhor. Já escurecia por isso não me aventurei muito. Encontrei um banco e sentei-me um pouco a gozar o momento. Deixei-me estar uns quinze minutos e o que sempre me surpreende é como as baixas temperaturas nestas partes do mundo não agridem como as nossas, em Portugal.

Vou regressar, antevejo um serão repousante naquele quarto maravilhoso. Vou esticar-me, jogar xadrez, comer, ler e escrever, processar fotografias e simplesmente ver a paisagem da varanda.

Uma janela com vista. Do meu quarto.

Chego. No terreno contíguo estão dois cavalos. Os donos, aliás, as suas crianças pequenas, estão a tratar deles, alimentando-os e limpando o terreno.

Ao contrário do que pensava, voltarei a sair. A luz é agora já pouca. O sol pôs-se. Mas quer ver a aldeia a esta hora. Depois dos visitantes e turistas de um só dia terem partido. Como é?

Sossegada. Há muitos carros no parque de estacionamento mas não se vê vivalma nas ruas. Custa a acreditar que as pessoas que aqui chegaram naqueles carros estejam algures na aldeia.

Algumas casas particulares têm luz no interior mas a maioria encontra-se fechada. Bom, não há muito para ver. Foi uma passeata curta e volto para me recolher para a noite. A última noite desta viagem.

E pela noite também há uma vista.

 

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