O dia não começou especialmente bem. No hotel disseram-nos que o pequeno-almoço era à hora que fosse preciso, às quatro da manhã se necessário. Não seria preciso chegar a tanto, mas às 5:15 já estávamos sentados a comer, lá fora, o que não era nada bom, porque estava frio. E tudo isto porque o chefe da estação rodoviária tinha dito para estarmos lá às 6:00.

E estávamos. Só nós e um par de almas que acordavam para o dia. Nada de carro. Havia também um conjunto de potenciais passageiros, agrupados, como que a aquecerem-se mutuamente que aguardavam o autocarro das 6:30. Ora isso de autocarros no Senegal é para esquecer. Só mesmo se não houver outra hipótese. Para além de em muitos casos irem tão cheios como o metro de Tóquio à hora de ponta, param em cada lugarejo, demorando horas e horas para percorrer umas dezenas de quilómetros.

Portanto, de forma realista, o que tínhamos de fazer, já que não havia nem ia haver neste dia nenhum carro para Saint Louis, era chegar a a Ndiayene e de lá encontrar outra solução. E foi assim que tentámos entrar no tal autocarro quando este chegou, mas não havia lugar. Lá se arranjou uma carrinha que encheu em relativamente pouco tempo, mesmo quando o dia começava a clarear.

Bem, daqui para a frente as coisas não correram muito mal. Lá em Ndiayene indicaram-mos uma carrinha que partiria para Saint Louis quando houvessem passageiros para a encher. Foi um bom bocado. Muita coisa para ver, para observar. Enquanto as pessoas iam chegando, aos poucos. O coordenador deste transporte era um verdadeiro cavalheiro, o mais ilustre que vi no Senegal.

Não foi preciso esperar muito tempo para estar a caminho. Aquilo era uma carrinha das grandes, tipo Hiace, e não o normal sept-place, por isso ia mais carregado de gente. É que os sept-place têm uma lotação muito estrita e a polícia não facilita. Já estas carrinhas é encher até não poder mais. Como fomos os primeiros a chegar tínhamos os melhores lugares e apesar de seguirmos apertados, foi divertido.

A viagem correu bem, o tempo passou num instante. Foram cinco horas. Boa estrada, sem trânsito. Tão interessante como à ida para Podor, talvez ainda mais, porque a luz estava estranha, havia traços de uma tempestade de areia.

Chegámos a Podor já amigos do ajudante e do condutor, despedimo-nos em grande festa, apanhámos um táxi para o centro e fomos direitos ao alojamento para esta noite, que era em casa de um rapaz que trabalhava para uma ONG e que devia rentabilizar o espaço (suspeito que era pago pela própria ONG) com o AirBnB. Nada de especial, nada de mal, suficiente para passar uma noite, sem problemas. Preferiria o quarto de antes, mas aqui a localização era mais central.

Foi muito bom regressar a Saint Louis. Foi como voltar a casa. Adorei Podor mas soube-me bem voltar a ver paragens conhecidas. Quis logo ir ao bar do Hôtel du Palais para a minha cerveja Gazelle do dia. Depois foi passear por ali. Atravessámos a ponte, fomos ver se encontrávamos a antiga estação de comboios, do tempo dos franceses, que lá estava, mas em muito mau estado.

Uma passagem pelo Café Mouquets também era como que obrigatória. Infelizmente a creperie que tínhamos experimentado na primeira passagem por Saint Louis estava fechada.

O resto da tarde foi passada a cirandar. Um excelente adeus a Saint Louis, com um momento alto: tinha decidido ir até à Ponta Sul, sem nenhuma razão em especial. Espreitei o café com esplanada sobre o rio, que continuava na mesma: teoricamente aberto mas sem ninguém à vista para atender clientes. E quando cheguei mesmo à pontinha, vejo um movimento pouco comum nas águas… um cortejo autêntico de embarcações de pesca, das maiores que há em Saint Louis.

Não sei se havia uma ocasião especial, como que um desfile, ou se era faina normal, mas durante logos minutos passaram à minha frente, com tripulações numerosas, os motores a ronronar… foi um momento incrível. Fiz até um video, que podem ver no fim deste artigo.

O dia chegava ao fim, e os meus dias de Saint Louis também. Iriam ficar as saudades. Esta cidade merece o estatuto de Património Mundial da UNESCO, é simplesmente perfeita para o viajante, a um só tempo simples e exótica, misteriosa e descomplicada, segura, com condições para receber visitas mas com pouco turismo. Encontrei em Saint Louis um balanço notável e recomendo!

O dia seguinte seria teoricamente simples. Viajar para Dakar, para onde há inúmeras partidas a toda a hora, e voltar a encontrar o George, ficar na base da capital, sem preocupações. Chegou aquela sensação de que a viagem está acabada, e daqui para a frente são só procedimentos de regresso.

E agora o tal video:

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