Portanto, estou acordado e não é um sonho: encontro-me num país diferente, muito diferente, e a aventura vai começar. Ainda é cedo, é o jetlag a fazer das suas. São quase 10 horas em Portugal mas aqui ainda não passa das 6.

Deixo o tempo correr. Lá fora o burburinho vai começando e a luz torna-se mais intensa. Foi uma constante na viagem Dominicana: apesar de ser um país bastante barulhento durante a noite fazem-se tréguas e o silêncio domina.

Vai-se fazendo tempo de deixar o meu confortável quarto, na realidade mais um pequeno apartamento. O dia está risonho, céu azul, o calor esperado.

A caminho de Santo Domingo

Deixo a chave na recepção e caminho até ao centro de Veron. Primeiras impressões: a população tem mais sangue africano do que esperava, o comércio muito local fascina-me, reparo nos cães vadios e nos guardas de caçadeira em alguma das lojas. Por todo o lado zumbem moto-táxis, um dos métodos de transporte mais populares por aqui.

Foram cerca de 900 metros até às instalações da Expresso Bávaro, a empresa que providencia a ligação de autocarro entre Punta Cana e Santo Domingo. Falta cerca de uma hora para o próximo autocarro. Paguei 450 DOP, 7 Euros. Tenho tempo para tentar comprir algumas missões.

A primeira é levantar dinheiro. No aeroporto a máquina só dispensava 3.000 DOP, muito pouco para as necessidades. O MB do banco ali defronte não está a dar dinheiro. O guarda indica-me uma opção, ao virar da esquina. Vou até lá, mas essa máquina recusa-se a dar-me dinheiro. Parece ser algo de pessoal. Não me diz que não há, diz que não mo dá.

Bougainvillias são uma constante em Santo Domingo

Ao regressar ao local do autocarro passo em frente a uma loja. Algo me chama a atenção. Estão lá dentro dois estrangeiros. É uma loja de telemóveis. Boa. Vou tratar de comprar o cartão para o telemóvel. Pago 300 DOP, 150 para o cartão e 150 para um plano de 5 dias com dados ilimitados que poderei renovar quando o tempo chegar ao fim.

O autocarro chega e parte à hora. Às 9:30 vou a caminho de Santo Domingo, numa viagem bastante agradável: veículo confortável, passageiros silenciosos, boa estrada. A última parte faz-se junto ao mar, um mar com uma cor linda, como nunca vi.


Já a chegar ao centro de Santo Domingo, depois de passar a ponte, ouço um barulho estranho. Um camião improvisado, sem capot, deu um toque no autocarro. Pára-se logo ali, e já imagino que vai ser complicado. Lá fora a discussão instala-se, com fervor caribenho. O tipo do camião não quer encostar, mas é obrigado.

Bem, diz-me o Google Maps que faltam 2,3 km até ao centro histórico. Lá terei que sair e seguir a pé, enquanto os outros passageiros, nenhum turista e todos dominicanos, se vão nas moto táxis que, gulosas, se aproximam do local do acidente como vampiros.

Só espero não entrar em nenhuma área “proibida” da cidade. Os bairros complicados são mesmo complicados. Locais sem lei, ou melhor, com uma lei própria, cuja geografia não domino.

Não acontece. A zona é pobre, sinto a obrigação de manter os olhos bem abertos, mas nada para além da linha de segurança. É na realidade um passeio bem interessante. Recebo logo um recital de um Santo Domingo real, sem o tempero do turismo que na Zona Colonial sempre vai existindo.


Entro então nessa zona a pé. Sempre poupei uns quantos Euros do Uber. Sim, Uber em Santo Domingo (e noutras cidades dominicanas) é a solução de transporte que recomendo. Simples, barato e rápido.

Vou directo ao meu hotel. Casa de Huespedes Colonial. Ia pedir para deixar lá a mochila até chegar a hora do checkin mas convidaram-me logo a ficar. Um senhor simpático explica-me as coisas, dá-me os avisos de segurança nas ruas, mostra-me o quarto. Um aposento algo espartano, totalmente interior (é sempre uma benção para dormir em silêncio) onde se entra pela casa de banho. Um bocado decepcionante, mas OK, tem AC e a cama é confortável. Não recomendo, contudo, pelo preço que paguei, cerca de 30 Euros, há melhores opções por aqui.

Descanso um pouco, estendo-me na cama, ligo o fresquinho e deixo-me estar a arrefecer o corpo antes de sair para explorar Santo Domingo, ou pelo menos o seu núcleo histórico.

Vendedores de fruta em Santo Domingo

Ando até ser de noite. Vejo muito. Percorro ruas até ao infinito. E encanto-me. Santo Domingo foi para mim uma bela surpresa. Esperava um centro histórico descaracterizado, maquilhado, adaptado às necessidades e exigências do turista moderno. Mas encontrei uma realidade muito local, genuína, com lojinhas e tascos, mercearias onde se bebe uma cerveja ao balcão, casas antigas por restaurar e restauradas, arquitectura religiosa fabulosa e um sentido de História que se impregna.

Saio do hotelzinho e viro à esquerda. O mar está logo ali, literalmente ao fim da rua. É o malecon, o nome dado na América Latina (talvez em Espanha também, não sei) à marginal. Atravesso a estrada, quase levo com uma mota, esquivamo-nos, ele a mim e eu a ele. Ainda com o coração a bater forte chego ao outro lado. Está-se bem. Vem-me à ideia São Tomé, a minha querida São Tomé.

Costa tropical

É aquele mar, as palmeiras, a temperatura, o cheiro. Caminho um pouco, encontro um pequeno forte. Há poucas pessoas por ali. Uma rapariga está sentada entre a vegetação verde a contemplar o horizonte. Um homem mais à frente faz mais ou menos o mesmo. Alguns pescadores nas rochas. Alguém passa por mim a correr, o exercício diário.

Passeio pelas calles deliciando-me com os pormenores da arquitectura colonial. Há enormes bougainvillias cheias de cor por todo o lado. Passo junto à catedral, atravesso a praça de Colombo, a principal da cidade. Ali sim, encontro turistas. Visito tanto coisa… o Panteão da Pátria, solenemente adornado por um sem número de bandeiras dominicanas e contendo uma chama eterna. A Fortaleza Ozama, local determinante na história nacional e cenário de tantos momentos chave para a República Dominicana. E a Calle del Conde, claro, a artéria principal, onde tudo se passa e tudo se encontra.

Plaza de Colón

Ali visito o Supermercado Nacional, o local para fazer compras por aqui e também para levantar dinheiro. Na República Dominicana recomendo usar sempre as máquinas do Scotia Bank. Software agradável na língua que se desejar, dispensam (quase) todo o dinheiro que se desejar e sem taxas surpresa. Além disso um detalhe delicioso: pode-se escolher o número de notas de cada valor.

Do outro lado da rua, na ferreteria, consigo comprar um adaptador para as fichas eléctricas. Tinha-me esquecido do meu em casa.

Na calle Conde encontra-se mesmo tudo. Massagens e barbearias de má fama, mulheres de profissão suspeita, jogadores de xadrez que reúnem pequenas multidões de fãs em seu redor, restaurantes caros e baratos, mercearias, famosas marcas de fast food, casas decrépitas, arquitectura fabulosa, a polícia turística, artistas, lojas de souvenirs, casas de câmbio e até um local onde fazer testes COVID-19.

Aqui joga-se xadrez!

Os museus, esses, deixo-os para a minha segunda passagem por Santo Domingo, a fechar a viagem. Mas passo por eles, anoto-os mentalmente. O Alcazar de Colón, o Museo de las Casas Reales e outros. Terão o seu tempo.

Vou para casa. Já tenho abastecimentos, as pernas cansadas e a alma cheia de emoções positivas. Antes de recolher paro num colmado (mistura entre mercearia e bar) e bebo uma cerveja gelada, tão gelada como só os dominicanos sabem servir. O serão relaxado, fresquinho, nas tarefas habituais para estes momentos.

Está tudo a correr muito bem. Se as primeiras impressões contam para alguma coisa, a República Dominicana já ganhou.

 

 

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