Decidido que estava a não ficar mais um dia em Santiago, recorde-se, não por estar de mal com a cidade mas por não lhe encontrar atractivos suficientes, havia que decidir para onde seguir.

Puerto Plata foi a opção escolhida. Pequena cidade costeira a pouco mais de uma hora de autocarro em direcção a norte, de fácil acesso, com muitas partidas diárias. Já me tinha sido recomendada por uma cliente dominicana e de resto tinha-a referenciado durante as minhas horas de pesquisa para esta viagem.

Desta vez não usarei a Caribe Tours mas sim a Metro Tours, localizada convenientemente na mesma rua, no bairro de Los Jardines. Dá-me jeito porque quero passar pela Caribe e recolher algumas informações. Infelizmente na República Dominicana os horários de autocarros não se encontram online, ou pelo menos de forma conclusiva.

Chamo um Uber, viagem simples, missões cumpridas. Recolho as horas das partidas da Caribe Tours para Dajabon, próxima paragem, seja no dia seguinte seja daqui a dois dias. E depois, andando até à Metro Tours, bilhete comprado, pacífico, mais uma vez sem me pedirem atestado de vacinação COVID-19 como mandaria a lei dominicana.

A praça central de Puerto Plata

Está um dia agradável, sento-me num banco no exterior à espera da hora da partida, tomo notas no meu diário. Vem o autocarro, e a caminho, alegremente, uma viagem curta e relativamente descansada com a atraente paisagem dominicana a desfilar pela janela. Muita gente sem máscara, escolho o melhor lugar possível e afinal tenho uma testemunha de Jeová atrás de mim que passará uma boa parte do percurso a louvar deus ao telefone.

Em Puerto Plata tinha selecionado a Villa Carolina para ficar. A estação da Metro é a 300 metros da casa. Que sorte!

Adoro o local. É uma vivenda que teve os seus melhores dias em meados do século XX, uma testemunha de um passado já distante, cheia de alma. Mesmo como gosto. O meu quarto e a sua decoração encontram-se em harmonia de época. Há até uma piscina, parece tranquilo. Estou muito satisfeito com a escolha.

A Dona Francia faz-me o check in, dá-me das indicações de que necessito. Saio para comer e não vou longe. Do lado de lá da rua há um botequim onde faço amigos, os irmãos Colombo, que passaram boa parte da sua vida em Espanha e com a crise do COVID foram forçados a regressar a casa.

Os irmãos Colombo

Como um hambúrguer, conversamos, recebo um copo de vinho, oferta da casa casa, conversamos mais, muito, faz-se tarde, tenho que me despedir com a promessa de regressar mais tarde, quando acabar de explorar Puerto Plata.

Vamos lá então ver isto. Páro na casa de câmbios que a minha anfitriã indicou e obtenho o dinheiro que pretendo a excelente taxa. Compro USD (vou precisar, para o Haiti) e DOP. Mas o verdadeiro programa das festas inicia-se com uma caminhada junto à água, pelo Malecon. No murete vou encontrando pessoas, sentadas, a gozar o seu Sábado. Casais de namorados, um pai com o filho, uma família inteira… mais namorados.

Casas de Puerto Plata

Um tipo suspeito atravessa a estrada, para o lado de lá… é preciso manter um olho naquele. Quase é atropelado, está num estado impróprio. Continuo a andar.

Chego à zona do forte de San Felipe. É uma área restaurada, muito aprazível, muita gente a passear, turismo doméstico, alguns dominicanos que claramente vivem nos EUA estão de visita.

Muito verde, relva, e muito azul, do céu e do mar. Um senhor com um burrico fala com um casal. Namorados tiram fotografias junto a um monumento.

Um navio de cruzeiro e a muralha do forte de San Felipe

Vou entrar no forte. Pago o bilhete, a custo simbólico. Agradável. Há um pequeno museu nas salas interiores, escuras, frias, agradavelmente frias, considerando o calor que faz lá fora. Subo aos bastiões, belas vistas. No porto está um navio de cruzeiro. Estranho, considerando que nas 24 horas que passarei em Puerto Plata apenas terei visto dois “gringos” e ainda de dentro do autocarro.

Deixo-me estar por ali, espreito por todos os ângulos, recolho fotografias, das guaritas, das muralhas, das peças de artilharia.

“há um anfiteatro e no seu topo várias pessoas gozam o panorama sentadas na relva”

Acabo por sair, exploro as imediações, desço a um patamar de relva mais próximo da água. Ao longe ouve-se música. De início não presto atenção mas a persistência aguça-me a curiosidade. A investigar, a investigar. Aproximo-me do som, e descubro a fonte: um grupo de jovens ensaia um número com música e dança, talvez seja uma preparação para o Carnaval que se aproxima. Têm a sua audiência, à qual me junto por uns instantes.

Quando estou saciado do momento subo um pouco, encontro umas ruínas que se encontram junto a um farol. Abaixo, há um anfiteatro e no seu topo várias pessoas gozam o panorama sentadas na relva.

Um ensaio carnavalesco?

Vou agora internar-me na cidade, da qual ainda nada vi para além das ruas por onde seguiu o autocarro à chegada.

E há muito para ver. As vielas marginais, mais afastadas do centro, têm casas curiosas e estão vazias de gente. Não se vê vivalma. Observo os edifícios, muitos deles feitos de madeira, com aroma a história.

Vou-me aproximando da praça central. Não me cativa. Foi “requalificada” há pouco tempo, perdeu a magia do passado, e sobre isso converso com os Colombo mais tarde, concordam comigo.


Entro numa geladaria, compro um copito e subo à varanda do piso superior, onde descanso um pouco na companhia daqueles sabores.

O resto da tarde far-se-á do vaguear por aquelas ruas. Encontro o passeo de Doña Blanca, uma criação turística curiosa, onde o cor-de-rosa domina. Ponto de paragem obrigatória para todos os visitantes da cidade, encontra-se ainda mais populado neste Sábado de fim-de-semana prolongado. Passo também pelo beco dos guarda-chuvas coloridos, um clássico muito na moda.

Agora começa a chegar a hora de regressar a casa para descansar um pouco. Uma boa caminhada. Tomo um duche, saio para jantar, passo pelo botequim dos Colombo para dizer olá, e combino uma nova visita para depois do jantar.

Ao fim da rua, a umas centenas de metros, há uma área alegre, com restaurantes e bares. Vou ali comer uma churrascada, que me ficou na vista quando passei para baixo, à hora de almoço. Sabe-me bem, regada com uma cerveja bem gelada.

Antes de ir para casa quero passar pelo supermercado. Felizmente aqui bem próximo há um verdadeiro hipermercado, de uma rede chamada La Sirena. Sucesso.

Uma rua calma em Puerto Plata

Agora, vou regressando. Lá está o Ricardo Colombo, agora com a namorada inglesa, a Sharon. O mano foi para casa, sentia-se adoentado. Ficamos por ali à conversa, eventualmente chega o Carlo, um jovem dominicano que vive ali ao virar da esquina, um artista, pinto, rapper, alma aberta e diferente. Junta-se a nós.

Por fim, o Ricardo Colombo vai-se com a companheira e vou visitar o lugar do Carlo, já bem bebido. Canta para mim, mostra-me algumas das suas criações, é um momento interessante e penso que já faz tempo que não tinha algo assim nas minhas viagens.

Bom, vou-me retirar. Dormir em paz, em sossego. Foi um bom dia.

 

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