Este é um dos livros de viagens de Paul Theroux. Um de muitos, sendo que por esta altura já por aqui publiquei críticas ao The Pillars of Hercules e Ghost Train to the Eastern Star. Neste volume Paul narra a sua experiência trans-africana, um percurso iniciado no Cairo e terminado, claro, na Cidade do Cabo. A sua rota leva-o através do Sudão, do Quénia, da Tanzânia, do Uganda, do Malawi, de Moçambique e da África do Sul.
Quem gosta de ler narrativas de viagem tem muito para retirar deste volume, cheio de pequenas aventuras e de histórias vividas. Para o autor esta é uma viagem mais significativa do que as anteriores: é o regresso a um passado que receia. Theroux foi dos primeiros membros do Peace Corps e viveu no Malawi em 1963. Há por isso um toque muito pessoal nas páginas deste livro, sobretudo no segmento central, quando visita os locais que lhe são familiares. O confronto entre as memórias e a realidade actual não é confortável, como imaginarão aqueles que conheceram a África do passado e a revisitaram mais recentemente.
Pessoalmente, mantenho uma relação de amor-ódio com a leitura da literatura de viagem de Paul Theroux. Encanta-me a descrição das suas experiências e do mundo que percorre, o poder da sua prosa, a intensidade dos textos. Mas por outro lado perturba-me a sua atracção pelo que lhe é familiar, pelo universo anglo-saxónico. Torna-se um padrão: onde quer que vá, preenche dúzias de páginas discorrendo sobre interacções com pessoas do seu mundo… norte-americanos, australianos, britânicos… onde chega, procura estas pessoas. Por vezes são encontros casuais, outras vezes entrevistas planeadas. Os locais, as pessoas que deveriam contar, ficam para segundo plano. São personagens para colorir a história, mas a sua importância é minimizada. Paradoxalmente Theroux manifesta-se claramente contra o colonialismo, o racismo, o apartheid sul-africano, mas como que para ilustrar esta crítica, 25 por centro deste livro é dedicado ao país mais europeu de África. Coincidência?
O livro foi publicado inicialmente em 2002, tendo uma tradução para português com um título que não deixa esperar o melhor para a qualidade do texto: Viagem Por África, da Quetzal Editores.