Chega-se lá através de uma entrada obscura, bem escondida dos olhos do turista comum. Há um portão que se espera aberto. Percorre-se um passadiço de madeira, e, depois, está-se num mundo mágico. Sem se saber, entrou-se nos demónios reservados do Castelo de Praga, sede da Presidência da República Checa. A área é patrulhada por guardas armados, mas não há nada a recear. Esta zona enquadra-se nos chamados “Jardins do Castelo” e está aberta aos visitantes desde a Primavera até meados de Outubro.
Caminha-se por um estreito caminho asfaltado, coberto de folhas de todas as cores quentes do Outono que por estas paragens se torna um festim visual. Do nosso lado esquerdo, as paredes altas, inexpugnáveis, do castelo, marcadas por algumas torres históricas que o visitante comum nunca avistará, como aquela em que o rei semi-louco se encarcerou, abdicando da gestão da nação para melhor se poder dedicar às artes obscuras da alquimia que o obcecava.
À medida que progredimos, somos agraciados com surpresas fabulosas. Ali, uma velha casa, que foi em tempos idos o lar dos tratadores dos ursos que por aqui zelavam pela segurança do monarca. Mais à frente um túnel misterioso que terá sido escavado durante os tempos da Guerra Fria, e onde os elementos do Governos deveriam refugiar-se em caso de guerra nuclear com o Ocidente. E há a escultura ocasional, de pedra envelhecida por um sem fim de invernos nevados e frios, e, para onde quer que se olhe, aquela Natureza sempre tão generosa em Praga, que faz esquecer o bulício da cidade envolvente. Ali somos nós, o silêncio, e a palete de vermelhos, castanhos, amarelos, dourados e laranjas.
Em determinado momento passamos por debaixo de uma das pontes que conduz a multidão de visitantes ao interior do castelo. Quase que nos tinhamos esquecido que estávamos num dos fossos medievais que defendiam o acesso à chave da Boémia. Mas já desde o século XVI que a componente militar desta zona se perdeu. Rudolfo II transformou-a numa coutada real, onde caçava placidamente os seus veados. Entre 1741 e 1742 os soldados franceses ocuparam o castelo e os animais não lhes sobreviveram. Foram extintos. Mas na memória ficou o nome: o fosso dos veados.
O que não aconselho é que o leitor se aventure por estes caminhos depois do sol posto. Até nem é pelos elementos da guarda presidencial que efectuam rondas regulares. Não… é por causa do… bom, mas começemos pelo início. Decorria o reinado do já mencionado Rudolfo II. Por essa altura o monarca tinha às suas ordens um bizarro tratador que tomava conta dos seus animais e que era especialmente ligado a um par de lobos encarcerado por estas paragens. O seu nome era Jan, e, apesar de mudo, aprendeu a reproduzir os uivos e ganidos das bestas. Sucede que um dia o homem desapareceu para não mais ser visto. Mas, pela mesma altura, passou a rondar por ali um lobo enorme, de comportamento bizarro que, dizia-se, tinha os olhos de Jan. A lenda mantém-se, dizendo-se que aqui habita um lobisomem que, em momentos de escuridão, ataca cães e humanos que se desloquem rapidamente.
Onde: A partir da estação de metro de Malostranská (linha verde) deverá seguir um pouco o percurso dos eléctricos que sobem em direcção ao Castelo, pela rua Chotkova. Se caminhar pelo lado esquerdo, passará por um relvado, findo o qual a rua curva para a esquerda. Logo a seguir, deverá atentar numas escadas e num passadiço metálico do seu lado esquerdo. Essa é a entrada para o paraíso. Tome-a.
Quando: Todos os dias, de Maio a Outubro, das 10:00 às 18:00.
Quanto: Entrada livre.
S_U_B_E_R_B_O! 🙂