30 de Março – Lugano, Bellinzona

Dia aguardado com antecipação. De volta a 2009, Bellinzona tinha sido o destino escolhido na Suiça. A pequena cidadezinha localizada na base dos Alpes é marcada pela presença dos seus três castelos, uma ocorrência bizarra que faz dela um incontornável local de interesse e que lhe valeu a classificação como Património Mundial da UNESCO. Mas, lá está, o mau tempo impediu essa visita, adiada três anos.

A Chiara deu-nos uma boleia até Lugano. Comprar os bilhetes de comboio foi uma experiência traumatizante. 11 Eur por cada um, só de ida. Ouch! Estamos a falar de uns míseros 18 km em linha recta e pouco mais seguindo os carris. Uma viagenzita de quarenta e tal minutos. Enfim, uma excentricidade, do ponto de vista orçamental. O comboio segue vazio e silencioso. A paisagem alpina vai-se revelando, deixando-se os lagos para trás. A chegada. Felizmente a estação é bem no meio da povoação, e logo começamos a explorar. Sente-se uma atmosfera de montanha. Os Alpes, com as coroas brancas de neve, espreitam por detrás dos prédios, mas mais perto levantam-se outros picos, também eles majestosos, mas já secos nesta altura do ano. Também em Bellinzona vejo os hóteis que transpiram passado, parecem contar histórias de outros tempos, segredos de convidados ilustres.


À porta da estação existe alguma fauna suspeita, emigrantes que para ali estão, em atitude suspeita, observados atentamente por um par de polícias. Mas são os únicos que avistamos durante o dia. A restante população é suiça de gema, e tal como em Lugano sente-se o cheiro do dinheiro no ar. Os mesmos carros de luxo, os transeuntes bem vestidos, o comércio pomposo.

Logo damos com a entrada do primeiro castelo, mesmo no centro da cidade. Encontramos o acesso por mero acaso, apenas porque vamos a passar por ali. Dois elevadores levam os visitantes para cima. Não sabemos se a entrada é paga, mas afinal não… apenas as torres e o museu carecem de bilhete. Tanto melhor, porque os bilhetes de comboio já foram rombo de monta. De repente levanta-se um vento infernal, que quase me faz voar. E que vai ficar durante uma boa parte do dia. Quase que não há ninguém no castelo. Um grupo de adolescentes está sentado num ponto abrigado de um relvado de verde ofuscante. Fora isso, um ou outro visitante. Dali tem-se uma perspectiva razoável de Bellinzona e da área envolvente. Podem-se observar os outros dois castelos, erigidos colina acima. E trechos de muralha defensiva, lá para baixo, para a cidade, entrecortados por construção mais recente.


O trilho que leva os peões ao castelo seguinte foi, também ele, encontrado por acaso. É ingreme. Entre rampas e degraus vamos subindo, sem ver vivalma por ali. A espaços encontram-se pontos que oferecem óptimas vistas, em todas as direcções. E de súbito estamos lá em cima. Também ali um grupo de estudantes se senta no relvado, mas estes são bem mais novos, e estão devidamente enquadrados por alguns professores. A ventania continua, e assim que saimos daquele plano mais abrigado, somos de novo fustigados.


O segundo castelo, chamado de Montebello, é infinitamente mais interessante. Não que o anterior não o fosse. Mas este é divinal. Está bem conservado e mantém elementos de madeira, o que não é comum. Sentimo-nos como que transportados no tempo. A presença de um contingente da televisão estatal que ali prepara uma qualquer rodagem estraga um pouco o ambiente, mas mesmo assim estamos perante um dos pontos altos da viagem.

Nesta altura hesitamos. O terceiro castelo é bem menor, e visto assim, ao longe, não parece especialmente interessante. Chegar até lá significa “trepar” mais umas centenas de metros e o cansaço acumulado faz-se sentir. Acabamos por decidir evitá-lo, e, à laia de compromisso, subimos em direcção a uma pequena mas vistosa igreja que se localiza a uma cota ligeiramente mais baixa. Suámos as estopinhas mas acabámos por a alcançar, localizada num bairro residencial com vistas priviligiadas. Ali sente-se a qualidade de vida.

Após um breve momento de repouso, descemos de novo até Montebello. Não me canso de o dizer: o castelo é um assombro, dos mais interessantes que visitei. De tal forma que nos instalamos num relvado vizinho, e, gozando de alguma protecção contra o vento, acabamos por adormecer, embalados pelo sol. Quando acordamos o dia está bem diferente. O vento quase que parou, o céu está completamente limpo e a temperatura subiu significativamente. Levantamo-nos para iniciar a descida para a cidade, mas não resistimos a uma mesa de picnic vazia, localizada numa reentrância da muralha. E ali ficamos mais um bom bocado.


Falta explorar a parte mais antiga de Bellinzona, que estudamos de lá de cima. Por isso é hora de regressar ao centro da localidade e de percorrer aquelas ruas. Descobrimos deliciosos pormenores. Fachadas ricamente decoradas, pequenos palacetes, lojas bem adornadas. E pronto. Está tudo visto. Ainda é relativamente cedo mas ali já nada nos prende. Foi uma visita em cheio. Valeu o excesso cometido na aquisição dos bilhetes. Mas para matar tempo preferimos regressar desde já a Lugano e encontrar um cantinho onde nos instalarmos até às 20:00, porque só então a Chiara estará disponível para nos recolher.

Desta feita o comboio vai cheio. Aproxima-se a hora de ponta e a dinâmica sente-se. Como para cá, são apenas 40 minutos, aproveitados para retemperar forças. De tal forma que percorremos ruas que ainda não conheciamos. Lugano tornou-se ainda mais simpática para nós depois desta passeata, por entre bairros residenciais, capelas e mosteiros. Um momento agradável, daqueles que se retêm na memória.  Numa papelaria vejo um exemplar da revista Nova Gente. Olha, boa.


Se de facto em Lugano o vento está mais sereno, quando chegamos ao parque o sol já vai baixo e o pedacinho de relva que encontramos rapidamente se cobre de sombra, o que provoca um frio intolerável. É hora de caminhar um pouco. Devagar, devagarinho, pela marginal, como que a despedirmo-nos daquela terra tão agradável. Cai a noite, a iluminação pública acende-se, e afinal não levámos nenhuma seca, porque a hora do reencontro com a Chiara chegou sem quase darmos por isso.

Ao serão, foi a nossa vez de cozinhar. Ela tinha passado pelo supermercado e satisfez integralmente a lista de compras que lhe tinha encomendado. A feijoada não estava grande coisa. Os ingredientes não eram da melhor qualidade, apesar do preço exorbitante. Exemplo: um pacote de vegetais sortidos congelados, que se adquirem nos supermercados portugueses por menos de um Euro, estava marcado a 5 francos suiços, quase 4 Euros. Diabo que os carregue!

Seja como for, jantou-se bem, e depois veio a conversa, que se estendeu de novo pela noite dentro. Mais um dia de arromba que terminou.


 

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