Depois de uma noite revigorante, o plano era visitar as ruínas de Mayapan, localizadas a cerca de 50 km de Mérida. Não correu bem. Não correu nada bem. A informação disponível online sobre como lá chegar com transportes públicos era vaga. O nosso anfitrião passou-nos informação errada, apontando para uma outra Mayapan, numa região diferente. Havia um video no Youtube que descrevia como chegar aonde queríamos mas na práctica também não ajudou muito.

Resultado: a maior parte da manhã a andar para trás e para a frente, passando de estação de carrinhas para estação de carrinhas. Por aqui este tipo de ligações para cidades e aldeias relativamente próximas é assegurado por carrinhas que têm bases diferentes. São empresas individuais, de pessoas que investem numa carrinha e depois oferecem o serviço de transporte. Há talvez dezenas destas estações, que não são mais do que pequenos pátios escondidos entre edifícios.

Toda a gente tentou ajudar, mas pelas onze horas já tinha andado quase quatro quilómetros de um lado para o outro. Em cada estação nos apontavam para um outro lugar, onde alguém nos remetia para um ponto diferente. Tentámos uma estação de autocarros e também perguntámos a um polícia. Numa das bases de carrinhas disseram que era ali mesmo mas que o primeiro serviço só partiria dali a uma hora… se o tipo aparecesse. Não foi muito animador.

Bem, descobrimos mesmo a tal carrinha, mas por essa altura já a manhã ia avançada e agora era preciso esperar que enchesse. Depois de 20 ou 30 minutos à espera desistimos.

Foi activado o plano B: visitar Progresso, uma localidade à beira mar que cresceu com o turismo doméstico. Uma espécie de Quarteira mexicana. Para lá chegar as coisas fora inversamente simples. Chegar à chamada Estação Progresso e em 30 segundos estávamos na estrada e a caminho.

Um percurso agradável e rápido e num instante saímos em Progresso. Sol e calor. Uma praia vazia.

Progresso foi um porto histórico, determinante para o desenvolvimento da região e vital para a sobrevivência económica de Mérida. Ainda hoje há actividade portuária, mas a  sua importância reduziu-se.

A actual localidade não é especialmente interessante. Não tem nada de histórico, são apenas ruas com casas relativamente modernas e não especialmente bonitas. A marginal estende-se para os dois lados do longo pontão que conduz ao porto. Restaurante atrás de restaurante, alguns hotéis. Não há muito para ver mas de qualquer forma foi um passeio agradável.

Ficámos algum tempo a descansar na areia, à sombra de um guarda-sol de folhas, até que o espaço foi preciso para se iniciar a preparação do restaurante para o almoço.

Caminhámos pela marginal. Regressámos. E de novo, muito fácil o transporte de volta. A carrinha deixou-nos a poucos metros do hotel.

O nosso magnífico Hotel Medio Mundo

Depois de descansar um pouco, um descanso verdadeiramente bem merecido depois das andanças da manhã e do calor de Progresso, fomos a um museu. O escolhido foi a Casa Museu Montejo. Um belo edifício construído inicialmente em meados do século XVI e renovado recentemente pelo Banco do México, cujos escritórios ocupam parte do imóvel enquanto outra parte foi transformado num museu de acesso gratuito.

Podemos aqui ver algumas salas mobiladas à século XIX e exposições temporárias. Aquando da visita havia uma interessante exposição de máscaras, com muita cor e valor estético elevado. Outra coisa: felizmente no México a corrente dominante é permitir fotografias de tudo, por vezes gratuitamente e outras vezes mediante o pagamento de uma razoável taxa adicional.

Seguiu-se o Paseo Montejo, uma larga avenida de vários quilómetros que parte do centro de Mérida e segue em direcção a norte. Tínhamos passado por aqui de manhã, quando fomos a Progresso e o que vi pareceu-me parcialmente interessante.

O Paseo Montejo vem referido em todos os artigos e guias sobre Mérida mas o que tinha visto anteriormente não me cativou. Só que Mérida já estava um pouco esgotada e então viemos até aqui… mais uma caminhada num dia especialmente cansativo, mas valeu a pena.

Esta avenida teve o seu pico de esplendor na passagem do século XIX para o século XX mas ainda hoje é uma zona nobre da cidade, ladeada por lojas de marca e por alguns dos melhores restaurantes. As suas imediações são local de residência habitual para residentes estrangeiros e vêem-se por perto hotéis de redes bem sonantes.

Uma sala do palácio da Quinta Montes Molina

Existem ainda alguns dos mais majestosos edifícios da cidade e uns quantos podem-se visitar a troco de uma taxa de entrada. Acabámos por escolher o palácio da Quinta Montes Molina e não podia ter sido melhor… fiquei fascinado. A visita é guiada mas deixando um enorme espaço aos visitantes para estarem sozinhos e usufruírem do espaço em tranquilidade. E podem-se tirar todas as fotos que se desejarem.

As pessoas foram de uma simpatia extraordinária. A guia contou-nos detalhadamente a história da casa que, apesar de estar transformada em museu é espantosamente habitada pelos proprietários quando se deslocam a Mérida. Nessa ocasião, como num passe de magia, as visitas cessam e os donos assentam, ficando por ali os dias que acharem por bem.

Terminada a visita do piso principal, passamos para as mãos de um senhor que nos mostra o que existe por debaixo… as cozinhas e outros espaços destinados aos serventes da casa. Ali, há vitrinas com memorablia variada, algo que adoro ver. Por fim, a loja, onde estive tentado a comprar dois livros, o guia da casa e uma história escrita por um dos filhos dos proprietários que tem como cenário a própria Quinta Montes Molina. Não os comprei e ainda hoje me arrependo.

Quando saímos da casa já a tarde chegava ao fim e o lusco-fusco reinava. Bem, já que tínhamos chegado até ali, iríamos subir a avenida até ao topo e ver o famoso monumento a la Patria, um colosso de pedra talhada que ocupa o centro de uma rotunda, com adornos em estilo maiano.

Ali, um polícia manda parar o trânsito de uma das principais entradas da cidade de cada vez que alguém quer observar de perto o monumento. Pena que só me apercebi disso no regresso, ou seja, armei-me em coelho, passei a correr as faixas de rodagem para me chegar ao pé daquilo.

A  minha ousadia teve uma recompensa adicional: apercebi-me que ali mesmo havia uma pastelaria que afinal era a sede ou a sucursal da que tínhamos experimentado na véspera junto ao zócalo. Não iria passar fome!

Por esta altura estava extenuado e só queria chegar a “casa”. Mas o hotel estava a mais de 3 km de distância. Tentei chamar um Uber sem sucesso. Não me admirei. O trânsito estava caótico, todo empastelado pela avenida abaixo. Sentei-me no lancil do passeio a descansar um pouco.

E pronto, depois foi andar. Os prédios mais bonitos do paseo estavam deslumbrantes com iluminações bem talhadas. Apesar de já ter caído a noite não se sentia nenhuma insegurança por ali. Muitas pessoas passavam descontraidamente, umas a caminho de casa, outras fazendo o seu exercício diário e outras já a pensar num qualquer jantar com amigos.

À noite ainda desencantei um restaurante-bar que servia nachos com carne, algo que gosto muito e que nestas cinco semanas só tive oportunidade de comer em Mérida. Foi uma refeição agradável. Os nachos não eram grande coisa mas a quantidade disfarçava… uma pilha enorme daquilo, muita carne, por 4 Euros.

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