Depois da noite infernal, uma coisa boa: a senhora do hotel tinha razão, os sinais do comício da véspera tinham desaparecido e o ritmo normal do quotidiano tinham regressado a Tlacotalpan.

Iríamos ficar uma segunda noite por aqui mas mesmo que não se tivesse passado o que se passou no hotel teríamos ido para outro local. Encontrámos uma casinha muito catita no AirBnB, que por seu lado se verificou ser muito barulhenta. E este par de problemas foram mesmo a única mácula numa estadia de dois maravilhosos dias nesta localidade.

Contudo não há muito para escrever. O dia foi-se passando, calmo, tranquilo. Com passeios pelas ruas de Tlacotalpan, passando por ruas novas e por locais já conhecidos. A meio da manhã mudámos então de casa. Na nova morada a senhora encarregue da limpeza esperava-nos. Uma casinha mesmo linda, com o quarto numa espécie de sala mezanine num nível superior.

Arquitectura colonial, como as de todas as casas de Tlacotalpan. Decoração bem conseguida, rústica, em harmonia com a história do imóvel. Confortável. Tudo seria perfeito, não fosse o ladrar constante dos cães ali perto e das motas que passavam à porta. Num lugar tão tranquilo por Tlacotalpan pensava que 80% do ruído produzido a cada instante se concentrava ali mesmo, na nossa esquina.

Adoro cada pedaço desta pequena cidade e tenho dificuldades em encontrar palavras para a descrever. Há aqui uma enorme harmonia, as pessoas irradiam bem-estar. É uma vida pachorrenta, a que aqui se vive. Com prazer alinhei nela. Uma refeição no mesmo local de ontem e depois uma cerveja na esplanada de um café quase centenário, cujas paredes estão repletos de recortes de jornais e recordações que gerações de clientes ali foram deixando.

O empregado era o máximo, a “fauna” local também. E quando entrei para pagar conheci o proprietário que me disse que tinha sido o seu pai a criar o café.

Um café com muita história

O rio é uma presença constante. Há restaurantes que se viram para ele e quase todas as casas construídas na rua mais encostada às águas têm o seu ancoradouro privado. Ao final do dia os habitantes reuném-se junto ao banco do rio, há vendedores de bebidas e petiscos que servem os seus produtos.

De tempos a tempos uma pequena embarcação cruza o curso de água. Do outro lado não se vê grande casario mas certamente que existe. Haverá pessoas a viver em lugares menores, algures para além do horizonte.

No rio pesca-se e através do rio se viaja. Marca a vida em Tlacotalpan e remete-nos para o seu passado, que remonta ao século XVI e que até ao século XX prendeu a localidade ao rio, devido à relevância do porto que aqui existia. Era um dos raros casos de portos interiores da América Latina, mas a construção do caminho-de-ferro retirou-lhe importância.

Encontrámos o cemitério, perdido num canto mais remoto. Demos uma vista de olhos. Nada de especial, valeu pelo passeio até lá.

Um pouco de descanso em casa. Na medida do possível, considerando o barulho constante. Depois mais uma saída, jantar combinado num dos restaurantes à beira rio onde tínhamos parado anteriormente para um sumo. A refeição não foi nada de especial, mas esteve-se bem, desde que devidamente untados com repelente para mosquitos, algo que já imaginávamos mas para o que fomos devidamente avisados quando nos sentámos.

E dali se viu o segundo pôr-de-sol de Tlacotalpan. O tempo aqui está-se a esgotar. Gostava de passar ainda mais um dia por cá, na mais descontraída das ronhas. Mas queria mesmo encontrar um lugar melhor para dormir. Não consegui. E assim sendo ficou ditado o dia seguinte… para Jalapa, via Alvarado.

Um último passeio pela cidade, já depois do sol posto. Uma paragem para comprar uma bebida. E depois uma visita ao supermercado local para abastecimentos para o serão. Foi um dia agradável.

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui