Hoje trago aos leitores um daqueles assuntos… de tanto pensar que é de conhecimento comum, uma pessoa esquece-se que ninguém nasce ensinado e que é preciso chegar o dia em que aquele pedaço de conhecimento dito comum lhe chega aos sentidos. O que queria portanto transmitir a quem possa não o saber é que ao preparar uma visita a um país, convém investigar um pouco as suas relações diplomáticas e certificar-se que não leva no seu passaporte um selo que lhe interdite a entrada ou cause complicações. Não sabia que isto podia suceder? Pode. Vamos ver.

Arménia vs Azerbeijão

Arménios e Azeris têm conflitos antigos. Após a Primeira Guerra Mundial, e na sequência do colapso do Império Otomano, envolveram-se numa luta que durou cerca de dois anos. Depois, foram todos engolidos pela toda-poderosa União Soviética liderada com pulso de ferro por Estaline, e os velhos ódios ficaram a germinar. Após a implosão da URSS, em 1989, não demorou muito para o reacendimento da guerra… e tudo por causa da disputa sobre um território, o chamado enclave de Nagorno-Karabakh. Não vou entrar em detalhes sobre este conflito. O que importa é que se o viajante se apresentar numa fronteira do Azerbaijão com um passaporte com um carimbo da Arménia é provável que não o deixem entrar no país. E vice-versa. Pelo menos se as coisas não mudaram recentemente. E é para estes pequenos factos que é preciso olhar com atenção. Imagine que sem este conhecimento ia para uma viagem pelo Cáucaso, incluindo a Georgia, a Arménia e, nada mais natural olhando para o mapa, o Azerbaijão. Péssima opção!

Israel vs Países Muçulmanos

Outra ideia menos aconselhável é tentar visitar alguns (na realidade, uma mão cheia deles) países árabes ou muçulmanos se antes passou por Israel. Lá ficará à porta, e se tiver viajado de avião a chatice é mesmo muito grande. Nalguns casos as políticas são ainda mais apertadas, não sendo necessário a estampa do Estado hebraico no passaporte. Os guardas de fronteira reservam-se o direito de lhe recusar entrada se existirem indícios de que esteve ou planeia estar em Israel… poderá ser um guia turístico, um bilhete de transportes públicos israelita… etc. Neste momento, pela informação recolhida, estes são os países que provavelmente o impedirão de entrar com uma estampa destas no passaporte: Argélia, Irão, Iraque, Líbano, Líbia, Arábia Saudita, Síria, Sudão, Emirados Árabes Unidos e Iemen.

Não consta que o oposto se aplique aqui. Oficialmente Israel não tem nenhuma política de interdição mas… se lá aparecer com estampas, por exemplo, de algum dos países que acabei de referir, é muito provável que seja levado para um gabinete onde poderá passar horas a ser interrogado, o seu computador pode ser inspeccionado, a sua conta de Facebook pode ser percorrida, em busca de posturas “anti-sionistas”.  O mesmo poderá suceder nos EUA.

Sérvia vs Kosovo

Não sei se ainda é uma realidade, mas ainda há pouco tempo a situação entre a Sérvia e o Kosovo era problemática. Como a Sérvia não reconhece a existência do Kosovo, que considera como parte integrante de si própria, também não reconhece as suas fronteiras. Então imagine o seguinte… entra na Sérvia… recebe um carimbo no passaporte… transita para o Kosovo, mas como para todos os efeitos os sérvios não reconhecem ali uma fronteira, sai sem levar o carimbo de saída. Do Kosovo passa, digamos, ao Montenegro, e, taram! Dali quer regressar à Sérvia para, por exemplo, apanhar o seu avião de volta. Grande problema, já se vê. Está-se a apresentar na fronteira de um país onde para todos os efeitos ainda está. Ilegal. Problema. Grande.

EUA vs Vários Países

Os EUA não proíbem formalmente a entrada no seu território de quem visitou alguns países mas prevêem-se dificuldades se tiver passado por Irão, Iraque, Síria, Líbia, Sudão, Somália  e Iémene. Os cidadãos de países que beneficiam do ESTA como forma mais simples de obter autorização para visitar os EUA, perdem esse direito automaticamente se visitaram um ou mais destes países nos últimos anos. Terão que seguir o protocolo completo para a obtenção de um visto.

Em suma…

Em muitos destes casos, os serviços envolvidos, cientes dos problemas que o visitante enfrentam, podem não colocar o carimbo no passaporte, mas numa folha à parte. Por vezes é possível mas é necessário pedir. Faça-o. Sobretudo no caso de Israel, porque Israel é só uma mas os países árabes são muitos e nunca se sabe os planos de viagem para o futuro. Ou então invista num segundo passaporte, que lhe custará, creio, 100 Eur, e faça a gestão das situações a partir dai. Agora veja lá não se engane.

Estes são apenas alguns exemplos, mas certamente outros casos existirão por esse mundo fora. Para que a sua viagem não fique arruinada por um pequeno deslize, investigue bem estas coisas antes de se colocar a caminho.

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