Esta imagem foi recolhida na simpática cidade vietnamita de Can Tho, na região do delta do Mekong, e perto da qual se podem visitar dos mais pictorescos e genuínos mercados fluviais. Mas isso agora não importa. Tão pouco interessa o português que está na imagem, mas deu-me para uma das raras imagens de mim próprio e não tenho nenhuma sobre o que interessa, sobre o cenário em meu redor. E o que tem aquilo de especial?

Na verdade, o recinto encontra-se na esquina da rua da minha anfitriã. De dia o local não chama a atenção. É um digníssimo stand da Mercedes. Uma presença estranha num dos poucos países do mundo que ainda se assume como comunista. O edifício do concessionário dispõe de um amplo espaço fronteiro onde as máquinas são expostas e que serve de parque de estacionamento de serviço. Foi isto que vi, sem prestar atenção, quando saí de casa a meio da tarde para dar uma volta pela cidade.

Mas quando regressei ia falhando a rua certa. Isto porque o stand se tinha transfigurado. No seu lugar, aliás, no recinto defronte, um animado restaurante encontrava-se repleto de clientes. As pessoas iam e vinham, havia até quem esperasse por uma mesa. Os empregados atarefavam-se, numa correria frenética, recolhendo encomendas, colocando mesas, limpando outras, entregando menús e distribuindo os pratos prontos. E tudo isto se passava… na Mercedes. Como se o espaço tivesse uma dupla personalidade, um Dr. Jekyll and Mr. Hyde de sabor oriental. De dia, dignissimo concessionário Mercedes. De noite, restaurante folião.

Conseguia imaginar a transfiguração. O último funcionário devidamente engravatado a fechar a porta, e logo depois, vendo-o afastar-se, uma equipa cheia de genica a espalhar as mesas, a montar a cozinha, deixando o local irreconhecível em poucos minutos para, umas horas depois, já noite dentro, reverterem a acção, limpando meticulosamente o local para que de manhã o mesmo funcionário de fato e gravata pudesse chegar e abrir o escritório como se nada se tivesse passado entretanto.

No dia seguinte ao regressar pela segunda vez a casa não resisti. Fome não tinha, perguntei se podia simplesmente beber uma cerveja, porque com o calor tropical está-se sempre com sede. O pessoal ficou confuso com o pedido mas aceitou. Afinal de contas não será todos os dias que têm um cliente estrangeiro. Se é que alguma vez tinham tido. Diverti-me imenso, foi uma excelente maneira de fechar com chave de ouro a passagem por Can Tho.

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