Dia 12 de Setembro de 2024
Isto, para me por a viajar, há geralmente uma de três razões: ou por oportunidade, quando me passa em frente ao nariz uma boa promoção de voos, ou por colecionismo, porque gosto de adicionar países e locais às minhas listas de viagens ou, como é o caso de Cambridge, pelo chamamento do meu imaginário!
Um dia, há muitos anos, fui universitário. Aquilo foram quatro anos que não corresponderam em quase nada ao que tinha imaginado ser estudante universitário. Havia imagens de cafés, de conversas cativantes, copos e farras e muito mais. E isto só para falar no que via acontecer por cá, por Portugal. Mas lá em cima, numa outra escala, estavam as universidades clássicas de Inglaterra, Oxford e Cambridge, símbolos supremos de intelectualidade, de sabedoria.
Lembro-me de assistir com entusiasmo infantil à competição anual de remo entre Cambridge e Oxford. E depois, a tantos filmes e séries que puxavam para aqueles ambientes. O nome mais presente será Reviver o Passado em Brideshead. E também Charriots of Fire.
Enfim, era todo este universo que me chamava. E quando comecei a ver os aspectos prácticos da coisa soube que ia acontecer. Então, claro, voos directos de Faro para Stansted. E do aeroporto um comboio directo para Cambridge que demorava 25 minutos a deixar-me no centro da pequena cidade? Tinha que ser.
Foi em Setembro e correu tudo bem. Muita sorte com o tempo, com o alojamento escolhido. Mas vamos por partes…
A vantagem de ter que acordar a meio da noite para apanhar um voo é que provavelmente esse dia vai ser plenamente aproveitado. Deveria ser o caso em Cambridge. Saída de Faro às 6:25, aterragem prevista em Stansted por volta das nove e meia e pouco depois o comboio. Tudo a correr bem. Pelas dez estava a chegar à estação de Cambridge e lá em cima o céu era azul e a temperatura era ideal para andanças.
Faltavam algumas horas para podermos dar entrada no alojamento reservado. Mas o clima estava de feição, a coisa prometia. E a exploração começou logo. Ao lado da estação há um túnel elevado, uma via para ciclistas que detém alguns recordes e quis ver aquilo de perto. Fotogénico!
Depois foi calcorrear, caminhar por ruas e estradas que contam uma história, transmitem uma cultura, lá está, convergem para aquele imaginário que fala dos britânicos, da Inglaterra.

São as casas, o gosto pelo detalhe, o fresco no ar, as habitações que sugerem uma vida longa de séculos. Passamos por um pub que deve estar ali assim há uns duzentos anos. O que não terá visto, as estórias que aquelas paredes não terão ouvido…
Mais à frente um bonito edifício feito de tijolo chama a atenção. Estamos para ali a admirá-lo quando uma senhora montando uma bicicleta para ao nosso lado e sem mais nem menos começa a explicar o que estamos a ver. Então, era uma biblioteca, agora está à venda e a comunidade está a ver se não acaba em mãos mal intencionadas, decididas a construir ali qualquer coisa sem sentido histórico.

Fiquei maravilhado com aquele contacto humano inesperado. Foi uma espécie de amostra do que se seguiria nos dias passados em Cambridge.
O passeio prosseguiu. Um banquete visual para um fotógrafo, com arranjos entre arquitectura, cores vivas, céu vibrante, verde da natureza.
Fui reparando naqueles ícones da cultura britânica que são as cabines telefónicas – há tanto desaparecidas das nossas ruas – e os marcos de correio tradicionalmente marcado com o reinado em que foram colocados nos seus postos.
A zona junto à estação ferroviária não é das mais novas da pequena cidade, mas tem bastantes elementos modernos, fruto de reconstrução recente. Algumas, pelo que vou lendo, algo polémicas, acusadas de desvirtuar o carácter histórico de Cambridge.
Passamos pela morada que há-de ser a nossa, uma rua encantadora, muito inglesa, claramente habitada por uma classe média alta, uma relativa novidade pelo que nos conta mais tarde o anfitrião. Parece que há umas dezenas de anos, quando decidiu mudar-se para aquela rua, não contou com a aprovação da sua mãe. É que há umas gerações atrás tratava-se de uma área pobre, até com bastante prostituição.
Passamos por outro pub histórico – o Earl of Derby – e entremo-nos a ler umas quantas Blue Plaques, as inscrições colocadas junto a locais de significado histórico pelo Reino Unido fora.
Passamos por igrejas monumentais, edifícios intrigantes com pormenores misteriosos que intrigam.
Almoçamos. Tinha o Little Petra referenciado e é também recomendado pelo nosso anfitrião. Cozinha jordana. Os pratos principais não são baratos para os níveis da restauração em Portugal, mas também… uns 14 Euros, e dão para duas pessoas. Seja como for ficamo-nos por entradas que servem perfeitamente de almoço e isso, com bebidas, fica por um preço perfeitamente razoável. Foi um sucesso e haveríamos de regressar.
Fomos então ver a nossa casa. Muito bem recebidos. É adorável. Um apartamento no interior da casa de família. Acolhedor, cheio de detalhes, confortável. O Mark é o nosso anfitrião e acho que ligámos logo bem. Depois de uma boa conversa deixa-nos. É o tempo para umas tarefas básicas e logo saímos para a rua para continuar a explorar.
Vamos ao Museu de Exploração Polar. Outra fonte inesgotável para os sonhos de aventura da minha infância. Lembro-me do Natal e dos livros que narravam os feitos destes homens, textos que devorava nos dias que se seguiam, adoçados pelas iguarias preparadas pela minha mãe e irmãs, enrolado nas mantas colocadas no chão de madeira do apartamento.
A entrada no museu é livre, a exposição é minimamente interessante. E o assunto é fascinante. Não é tempo perdido.
Há ainda tempo para uma primeira aproximação à área mais nobre de Cambridge, o seu núcleo histórico, o mundo académico.
O cansaço já era algum, até aquela altura anestesiado pela excitação da exploração, mas a verdade é que tínhamos acordado basicamente a meio da noite e tínhamos passado o dia a andar.
Uma breve paragem no conveniente supermercado ao virar da esquina da nossa rua e estava tudo pronto para o serão no acolhedor lar de Cambridge onde se iria passar uma noite descansada num silêncio total