13 de Setembro de 2024
Depois de uma noite muito bem dormida, um pequeno almoço tomado em casa com os abastecimentos trazidos do supermercado na véspera. Lá fora, uma boa surpresa: o sol brilhava com vigor e no céu só se via azul. A molha no regresso a casa era agora uma memória que se afastava.
Vamos lá então passear, aproveitar esta maravilha de tempo tão pouco britânico!
Que bem que se está em Cambridge. Há um vive muito positivo nesta cidade, especialmente quando o sol empresta a sua alegria às ruas. As casas parecem mais bonitas e as pessoas estão bem dispostas. Sente-se a qualidade de vida.
Paramos por um instante na imponente igreja que dá pelo nome de Church of Our Lady of the Assumption and the English Martyrs. Tem ares de catedral, mas não, é “apenas” uma igreja. Entramos, o acesso é livre e gratuito. Também vale a pena ver por dentro. Tem uns vitrais notáveis e diversos pormenores interessantes.
Voltamos a passar junto ao Museu das Expedições Polares. Mais à frente, encontramos o famoso e incontornável Museu Fitzwilliams. Não que esteja no plano de hoje uma visita, mas um simpático funcionário toma-nos por aspirantes a visitantes e vai-nos dizendo que há um problema no abastecimento de água ao museu e enquanto não for resolvido não podem deixar ninguém entrar.
Pouco mais à frente a emoção do primeiro college. Afinal é por isso que se visita Cambridge. Os colleges. Na realidade viemos numa época estranha: estes são os dias em que as universidades se abrem para receber os potenciais calouros do próximo ano lectivo. E isso causa uma tremenda quebra nas rotinas e regulamentos de visita: umas, como têm os possíveis estudantes a visitar, não deixam entrar turistas; outras, é o contrário, estão habituais encerradas a visitas – ou pelo menos de forma gratuita – mas por causa dos dias especiais deixam entrar toda a gente. E depois ainda há as que não alteram nada.
E disto isto, ali estava à nossa frente, a Peterhouse, o mais antigo college de Cambridge, fundado em 1284. Encontrado por mero acaso, espectacular, fotogénico mas… fechado a qualquer tipo de visita, diz-nos o porter, essa instituição da universidade. Assim sendo, ficam as fotografias tiradas da rua, e que bem ficam, com aquele verde todo contrastando com a pedra centenária. Como “vingança” descobrimos a pequena capela anexa e os túmulos escondidos no terreno ao lado.
Logo atravessamos a rua e entramos no nosso primeiro college, este sim, aberto a visitantes, potenciais calouros (havia muitos) ou apenas estrangeiros curiosos (nem tantos).
Trata-se do Pembroke College, engalanado para a ocasião. Um gosto para a vista e um encaixe perfeito naquilo que se espera da Inglaterra universitária. Está lá tudo, os relvados infinitamente verdes, os edifícios cheios de história, os jardins secretos, os solenes brasões.
Eventualmente chegamos à margem do rio Cam, onde se inicia o passeio planeado para hoje: Grandchester, através dos prados. Trata-se de uma pequena aldeia localizadas nos arredores de Cambridge, onde se pode chegar a pé, caminhando por um bonito trilho através dos campos verdes onde pastam modorrentas vacas.
E foi mesmo um belo passeio. Calmo, tranquilo, relaxado. Contudo, retroespectivamente, não o teria feito, pelo menos numa visita curta a Cambridge. Há demasiadas coisas para ver na cidade e uma caminhada destas gasto um tempo considerável.
Chegamos a Grandchester onde encontramos uma bonita igreja com um cemitério nos seus terrenos, um cemitério com campas antigas e macieiras que nos dão excelentes frutos.
Percorremos a rua da aldeia mas não havia muito para ver. De certa forma foi uma decepção. Tendo como base os artigos online que li sobre o local esperava mais. Esperava uma acolhedora casa de chá, referida em toda a literatura, que não passa de um jardim com mesas onde as pessoas se sentam depois de comprar o seu chá num anexo sem personalidade alguma. Muito diferente do que tinha imaginado.
Chamámos então um Uber. Não valia literalmente a pena gastar tempo e energia a regressar a pé. Fomos assim directos ao Queen College, que era suposto estar aberto para visitas a troco de uma quantia para a entrada. Mas não estava. Lá está, dia especial. Só para potenciais estudantes e famílias.
Deu para ver a Ponte Matemática do seu melhor ângulo, essa ponte que se distingue por ter sido construída com peças de madeira direitas e contudo dar a ideia visual de constituir um arco.
Passeamos depois pelos Backs, um nome descritivo e significativo, já que se aplica às traseiras dos principais colleges de Cambridge.
Eventualmente encontrámos uma passagem para o centro e aí a narrativa perde-se. É um sem número de preciosidades históricas, um museu ao ar livre com peças sem fim. Ficou na memória o Trinity College, onde foi possível entrar apenas para passear no pátio central, bem cheio de visitantes, potenciais estudantes ou mirones como nós. Mesmo com o acesso limitado foi uma visita memorável. Os detalhes nos edifícios são deliciosos, e há aquele pavilhão feito de pedra mesmo no centro, a torre do relógio, que corresponderá à nossa “Velha Cabra” de Coimbra.
Por esta altura as pernas já pesavam e o corpo pedia repouso. Estava na hora de calmamente rumar a casa, em condições mais dignas do que na véspera. Não seria necessário desta feita fugir de chuva alguma. O clima mantinha-se perfeito para estas andanças.
Na retirada ainda demos conosco no interior do Sidney Sussex College, mais um espaço encantador, mais tranquilo que os anteriores colleges que visitámos. E ainda passando em frente à verdadeira joia da coroa, o King’s College, que já tínhamos visto desde as traseiras. Este, encontra-se fechado de todo a visitantes do tipo turistas. Nem mesmo pagando, não nestes dias em que os potenciais estudantes andam por ali.
Vamos regressando, mas com um motivo de interesse a cada esquina torna-se difícil a retirada.
Damos conosco numa espécie de pátio gigante, com espaços ajardinados, de onde se acede a vários museus. E por fim mais próximo de casa, com fome, uma paragem no Little Petra, onde pedimos exactamente o mesmo que no dia anterior, de tão bom que foi.
Inesperadamente, apesar do cansaço e apenas porque é ali tão perto, ainda encontrámos forças para visitar um cemitério. E que surpresa foi. Aberto nos meados do século XIX o Mill Road Cemetery é agora património classificado. E compreende-se. É um lugar mágico, com pedras tumulares escondidas no meio de matos que crescem com pouco controle. Há algo de selvagem no espaço. Algumas áreas estão mais bem cuidadas mas de forma geral é um espaço estranho. Há namorados nos bancos, amigos que bebem nos recantos. É um cemitério mas também um espaço social. E a nossa última paragem do segundo dia a explorar Cambridge.