A PR 1 SBA

Não existem muitos percursos pedestres no concelho de São Brás de Alportel. Apesar do potencial, que se traduz por uma área considerável, quase toda rural e cruzada por estradões de terra batida e trilhos usados por caçadores, apenas seis propostas nos são apresentadas na página da autarquia.

Tendo vivido alguns anos nesta região – e logo nos meus tempos de moto 4 – conheço razoavelmente bem o concelho, mas confesso que apenas agora me decidi a explorar estes trilhos preparados pelo munícipio.

O painel que marca o início do percurso

A primeira opção foi a Pequena Rota (PR) 1 SBA (de São Brás de Alportel). O ponto de partida localiza-se não muito longe da cidade, próximo da estrada que liga São Brás a Tavira.

Trata-se de um trajecto circular com cerca de 9 km. Não tem grandes pontos de destaque mas oferece um passeio agradável, ideal para quem não se quer internar demasiado na serra algarvia e procura esticar as pernas a partir de um ponto bastante acessível.

Da Fonte da Mesquita até ao Bengado

Encontramos o painel informativo da PR 1 SBA na Fonte da Mesquita, num local requalificado com muito bom gosto em 2006. Ali se deixa o carro, podendo-se observar o velho poço e uma casa tradicional. Observe a cruz ao lado da casa, erigida em memória do seu avô pelos netos em 1881.

Sendo um percurso circular, o caminhante poderá escolher à partida o sentido que tomará. O Cruzamundos seguiu a lógica dos ponteiros do relógio. E foi assim que uns 150 metros após iniciar a marcha se chegou a um atmosférico trilho entre valados. No inverno este troço é especialmente bonito. As ervas e matos, bem irrigados, apresentam-se verdes. Nem parece que estamos no Algarve. Com imaginação podemos ver-nos a caminhar na Terra Média de Tolkien, essas paragens repletas de criaturas míticas.

Para que não restem dúvidas…

Para acentuar o ambiente, encontraremos um velho poço, centenário, sem dúvida. Ninguém sabe quando foi construído mas as pedras falam-nos de vários séculos. Um ponto excelente para uma paragem, não tanto pelo desgaste causada pela marcha, que ainda agora se iniciou, mas pelo apetecível lugar. Se trouxer um livro consigo, este é o local para deixar a imaginação à solta e abraçar a leitura. Um picnic também se adequará.

Quase sem aviso chegaremos a um casario, que rapidamente atravessamos, caminhando depois junto a vedações até chegarmos junto à estrada nacional.

Um poço com séculos de histórias para contar…

Vamos cruzar o asfalto e prosseguir pelos campos, trilhando um par de quilómetros em espaço puramente rural.

Em determinado ponto avistamos um pequeno painel informativo que nos apresenta o Vale do Bengado. A vista é excelente e podemos sentir a fertilidade daquele encantador vale, para o qual desceremos seguidamente.

E o vale do Bengado ali em baixo…

Do Bengado ao Desbarate

O Bengado é zona de fronteira, entre o Algarve Barrocal e o Algarve Serrano. Duas realidades geológicas assim explicadas na página da Câmara Municipal de São Brás:

Ao longo do percurso encontra-se três unidades geomorfológicas distintas – de sul para norte: Barrocal, Gola Vulcano-Sedimentar e Serra. Estas percorrem transversalmente o concelho de S. Brás de Alportel. Nesta área a E.N. 270 separa, de grosso modo, o Barrocal da Gola Vulcano-Sedimentar. A sul desta via é o domínio do Barrocal. Esta unidade está assente sobre um substrato de calcários do período Jurássico (entre 200 e 135 milhões de anos) de entre os quais se destaca a Brencha Avermelhada de Mesquita, rocha ornamental de grande beleza (visitar Geoponto Mesquita). De natureza rochosa, o Barrocal exibe, em vários locais, admiráveis colossos de pedra. Na última parte do Caminho da Bugia, quando se desce, o solo torna-se cor-de-vinho, é o início da Gola Vulcano-Sedimentar. Ao longo desta afloram os arenitos de Silves do Triásico (entre 240 e 200 milhões de anos). A norte da Gola surge a Serra. Esta unidade tem substrato rochoso constituído por xisto e grauvaques do Carbónico (entre 370 e 280 milhões de anos).

As minas de água do Bengado

Aqui, sente-se a água que abunda. Não no verão, claro, mas se vier para estas paragens nos meses em que sempre vai chovendo alguma coisa certamente poderá deliciar-se com o som da água que escorre das encostas e observar as minas que se encontram no vale. Para tal terá que sair por uns instantes do percurso mas o ruído da água será um bom guia.

Mais à frente reencontraremos a EN 270 que atravessaremos de novo. Vamos em direcção ao Desbarate. Um nome curioso para um lugar.

Aqui andaremos um bom bocado no alcatrão, uma situação que não costuma ser do agrado dos caminhantes.

O Final e Conclusões

Vamos caminhar de novo por entre valados, o tipo de trilho que me agrada mais nestes passeios algarvios. Afinal estamos assim rodeados de muros construídos em tempos imemoriais. Pedras que já viram muita coisa e agora nos vêem a nós.

Pedra é aliás uma constante nesta última etapa do percurso. Percebe-se que é uma zona de pedreiras, algumas ainda activas.

Um mar de Azedas amarelas, excelentes para a salada

Por fim aproxima-se o final. Chegaremos a Fonte da Mesquita e à nossa viatura. Feitas as contas foi um passeio agradável. Adoro os valados, especialmente na época do ano em que tudo está verde. Existe uma boa combinação entre espaços humanos meio natural, apesar de que no Algarve e a esta distância da costa ser difícil estar a sós com a natureza.

Pela negativa aponto o excesso de troços em asfalto e o número de cães que vive ao longo do percurso. Em ponto algum senti os dentes deles por perto, mas um ou outro estão soltos e de resto há mesmo uma concentração anormal de cães. Por vezes senti que era demais, o ladrar constante, de um terreno para o outro, a acompanhar-me.

O percurso está muito bem sinalizado e não oferecerá problemas de orientação a ninguém. Os desníveis são pouco acentuados e o grau de dificuldade é reduzido. Um bom passeio para todos.

Fonte da Mesquita: De volta ao ponto de partida

Quando fazer o passeio?

A melhor altura para fazer esta caminhada será na época de inverno ou no início da Primavera ou até mesmo no final do Outono. O que é preciso é que tenha chovido o suficiente para a natureza se encher de verde e para a água correr abundantemente na ribeira.

Por outro lado é também nestas alturas que as temperaturas são mais adequadas à caminhada, longe do calor do verão.

Ficheiros para o Passeio

Do website da Câmara Municipal de São Brás de Alportel pode-se puxar o ficheiro deste passeio em formato KZM. Depois, pode-se sempre converter para GPX. O mapa está disponível aqui.

Mais um troço deste percurso

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui