Em mais um dia de tempos complicados o Cruzamundos foi esticar as pernas para os lados de Loulé. Nas imediações de Querença – uma das sedes de freguesia do concelho – encontra-se o PR 13, uma pequena rota de caminhada a que se deu o nome de Serra e Montes. Trata-se de uma percurso criado e mantido pela Câmara Municipal de Loulé, que tem apostado nas rotas de caminhada.
Existem quase duas dezenas de trajectos no concelho, com especial incidência para a zona que envolve o Ameixial, provavelmente devido à realização anual do festival de caminhadas Walking Festival que ali tem lugar.
O PR 13 é um percurso circular, com cerca de 8,5 km, e pode portanto ser iniciado em qualquer ponto do seu traçado. Há contudo um local aconselhado, onde se encontra um painel informativo, junto ao restaurante Sol e Serra, no lugar de Corte Garcia.
Na realidade comecei num ponto um pouco mais à frente. Vindo de Loulé, passei pelo Sol e Serra, vi a antiga casa de cantoneiros do lado direito e logo de seguida, numa curva, saí para o parque de merendas à esquerda e deixei aí a viatura.
Entre lugarejos e aldeias
Este percurso tem duas partes distintas, que se complementam e nos oferecem perspectivas diferentes desta região algarvia a que se chama genericamente de “serra”: os primeiros quilómetros percorrem caminhos e estradões onde se sente e observa a presença humana. Há vedações, casas isoladas, lugares e lugarejos e pequenas aldeias.
Eventualmente vão-se encontrar alguns habitantes locais, geralmente reservados e de poucas falas, em contraste com um ou outro residente estrangeiro que acena com gosto ao visitante. Existem cães, mas ou estão presos ou são afáveis. Na realidade, toda a segunda parte deste passeio foi feito na companhia de um simpático cãozinho castanho que me seguiu desde Corte Garcia até ao regresso.
Tem-se portanto na primeira parte da caminhada um contacto próximo com a ruralidade algarvia, com a realidade da vida na serra, onde existe muita solidão e distanciamento social. Sempre. Não só em tempos de pandemia. As pessoas vivem aqui limitadas à conversa de ocasião com a vizinhança mais próxima e pouco mais.
Passa-se pela aldeia de Adega, maior do que esperaria, com passeios junto à estrada uma série de equipamento urbano que me surpreendeu. E Corte Garcia e o encerramento deste primeiro ciclo do passeio fica logo à frente.
Até então teremos observado algumas casas de traça tradicional, umas quantas ruínas que poderão ser exploradas, um par de fontes e um lavadouro público. Não existem pontos de grande destaque mas é um passeio agradável, especialmente na altura certa do ano, quando a natureza se encontra verdejante e as temperaturas são amenas.
Em plena serra do Caldeirão
Quase de volta ao ponto de partida, a estrada é atravessada e dá-se início à segunda parte da caminhada. Os vestígios de presença humana ficam em definitivo para trás e os estradões de terra batida que pisamos são o único testemunho de que existe gente por estas paragens.
É a paisagem característica da serra algarvia. Colinas a perder de vista, pontuadas com as pequenas manchas brancas do casario distante. Ouve-se o ladrar longínquo dos cães. Ali próximo do trilho sucedem-se as alfarrobeiras e medronheiras. Tem chovido e os riachos seguem cheios. Vamos cruzar a ribeira por três vezes, sempre auxiliados por pedras que, com calçado impermeável, ajudam a manter os pés secos.
Existem alguns desníveis, mas nada de dramático. Reconheço estes caminhos dos tempos em que por aqui andava de moto quatro, explorando a serrania. Já perto do fim o percurso passa junto do Cerro dos Negros (não confundir com um outro monte com o mesmo nome, de acesso mais exigente, localizado junto a Salir, não muito longe daqui). Para ir ao seu topo há que adicionar 1600 m (ida e volta) ao percurso. E, claro, uma bela subida.
Desta vez passei ao lado. A descida em direcção à estrada e ao carro que me espera é exigente e traiçoeira. Uma grande inclinação e piso mal tratado, que me trazem à memória uma gloriosa subida em moto quatro deste mesmo troço, em 2005.
Está a chegar ao fim o passeio e o canito que me acompanhou desaparece sem se despedir. Portou-se bem, com as suas patinhas curtas, nestes mais de 4 km que fizemos juntos. Acho que foi um dia diferente para ele e a felicidade canina transparecia na sua excitação.
Em suma, um belo passeio que se recomenda. Circular, bem documentado e geralmente devidamente marcado.
Quando fazer o passeio?
A melhor altura para fazer esta caminhada será na época de inverno ou no início da Primavera ou até mesmo no final do Outono. O que é preciso é que tenha chovido o suficiente para a natureza se encher de verde e para a água correr abundamentemente na ribeira.
Por outro lado é também nestas alturas que as temperaturas são mais adequadas à caminhada, longe do calor do verão.
Ficheiros para o Passeio
Pode puxar do website da Câmara Municipal de Loulé três ficheiros relevantes para este passeio. Em formato GPX e KMZ para utilização em GPS’s e software como o Google Maps ou Google Earth, e um PDF com informação e ficha de percurso.
Se estas ligações não funcionarem, devo poder arranjar os ficheiros a partir do meu arquivo pessoal. É questão de me enviarem uma mensagem.