E de como um dia de que não se esperava muito acabou por ser passado em cheio. De manhã o polaco foi-se embora. Uma primeira coisa boa. A casa só para mim. Hesito entre mudar-me para a sala onde ele dormia, mais confortável, mas deixei-me vencer pela inércia e deixei-me ficar na minha nua assoalhada, só com o meu ninho de dormir a um canto.

Respirei fundo, apreciei o silêncio e aquela sensação indescritivel de estar sozinho. Chamei um Uber. Ia ao centro de Najran. Sem problemas, num instante estava frente à fortaleza. Não levava nenhuma expectativa e afinal tinha pela frente uma longa visita com dúzias e dúzias de fotografias pela frente.

A entrada da fortaleza de Najran

O simpático funcionário recebe-me, registra-me e deixa-me entrar. É gratuito. E depois, sem palavras, é explorar. Uma classíca fortaleza de lama, bem renovada, sem devaneios modernistas,  nada de materiais sem sentido. Sem mais ninguém a visitar sinto-me como um rei no meu castelo.

Subi escadas, trepei a torres, andei por muralhas. Entrei em salas, espreitei a mesquita e vi exposições antiquadas. Diverti-me, adorei o momento. Aproveitei para usar as limpas casas de banho, tirei mais não sei quantas fotos, tantas que podia fazer uma galeria só com elas. Passei aqui mais de uma hora, sempre sozinho. Em busca dos detalhes, de ângulos inesperados.

Uma perspectiva do interior

Por mim chegou a hora de partir. Queria regressar a casa para descansar. Estava calor e a gripe ou o COVID que apanhei pouco antes da viagem ainda faziam das suas, fatigava-me facilmente.

Antes, porém, uma breve exploração da área em redor. Tinha visto num website algumas imagens de casas antigas no centro de Najran que me pareceram muito interessantes. Mostrei-as ao guradião da fortaleza. Uma, disse-me claramente que já não existia. Não percebi bem mas penso que se encontrava nos terrenos do local arqueológico que tinha visitado na véspera. A outra, seria mesmo ali à frente. Apontou, como se fosse óbvio, ao alcance de uma pedrada.

Vasto terreiro em frente a uma mesquita no centro de Najran

Na realidade por mais que andasse ali em redor não a encontrei. Acho que a vi já de dentro do carro, no retorno a casa.

Andei um pouco. Foi interessante. Casa abandonadas, prédios mais modernos, sem nada de especial. Ambientes cruzados, como que mundos sobrepostos. Numa fachada decrépita existe uma porta e nos degraus senta-se um velhote de aspecto pobre. Do outro lado da rua uma loja de electrónica. É isto, contrastes!

Em duas rodas no centro de Najran

Quando o cansaço aperta e a temperatura sobe, regresso para junto da fortaleza. Procuro chamar um Uber mas os tempos de espera está dilatados. Vinte minutos. O primeiro carro cancela-me o serviço. Bem, vou beber um chá. Entro num salão ali mesmo em frente. Um moço oferece-se para me pagar o chá e como declino pergunta se pelo menos se pode sentar comigo. Eu explico-lhe que tenho pouco tempo, mas fora essa limitação, OK.

Sentamo-nos numa mesa no exterior. O jovem é de Najran e está a acabar o liceu. Falamos de banalidades, dos nossos países. Um bocadinho interessante, interrompido pelo avançar do tempo e pela eminente chegada do meu transporte.

Camião em frente à fortaleza

Passo o resto da tarde na preguiça e quando calculo que falta cerca de uma hora para o pôr-de-sol chamo outro Uber. A ideia é visitar a fortaleza de Aan, aquela que na véspera encontrei encerrada.

Correu muito bem. Entro no recinto mesmo à hora. Sei-o porque soava a chamada para a oração do pôr-de-sol. Inconveniente para o pessoal que se atrapalha a justificar a urgência da sua ausência. Para eles um estrangeiro não compreende nada do Islão. Claro que sei como é, não tem problema, ando por ali pelo recinto um pouco enquanto cumprem as suas obrigações de fiéis.

Palácio de Aan ao anoitecer

Um deles estava na fábrica de café na véspera, fez-me uma festa. Mundo pequeno. Mas o guia chama-se Ibrahim e está ali como voluntário. Socialmente está muito acima daquele trabalho mas gosta de exercitar o seu inglês e de conhecer pessoas.

Mostra-me os diversos pisos da fortaleza, explicando-me alguns detalhes, num fio de conversa fluido e enriquecedor. Quanto terminamos já é noite cerrada. Pergunta-me se tenho sugestões a fazer, coisas de que gostei menos, ideias para melhorar a fortaleza-museu. Por acaso não. Está tudo muito bem. Não foram feitas renovações com materiais adulterantes, está muito natural. Gostei.

O simpático Ibrahim

Antes de sair aparece um pai com o filho e um amigo. Foram ali porque ouviram dizer que anda por lá um fotógrafo estrangeiro. Exacto, esse seria eu. E pedem-me para lhes tirar retratos, o que faço com gosto. Infelizmente perdi o meu Moleskine durante a viagem e com ele o endereço de e-mail para onde deveria enviar as fotos.

Regressar era capaz de se complicado, não fosse o Ibrahim insitir em me dar uma boleia, senão até casa pelo menos até um ponto mais central. Calhou mesmo bem. Levou-me até metade do caminho deixando-me num cruzamento frequentado de onde chamei um Uber que me custou metade do preço e chegou em poucos minutos.

A bandeira da Arábia Saudita no topo do edifício

 

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