Dia 27 de Janeiro de 2020, Segunda-feira

Na quinta, uma Segunda-feira é igual a qualquer outro dia. Há sempre trabalho e a rotina não se altera. E assim, pela manhã, depois de um belo pequeno-almoço que como todas as refeições aqui tomadas é preparado apenas com alimentos produzidos na casa, vamos com a caseira ver a vacaria.

Andamos um bocado pelos campos, por caminhos e trilhos rodeados de verde, numa manhã com ar fresco e, coisa rara nesta fase da viagem, um céu azul temperado com farripos de nuvens brancas.

Lá estão as vaquinhas, uma pequena manada, que dá o leite usado para tanta coisa mas especialmente para a produção de queijo. A senhora explica-nos o processo, mostrando as instalações e o equipamento. Dali saem queijos que serão vendidos nas principais cidades do país.

Deixamos a senhora trabalhar em paz e regressamos à casa. Este será de resto um dia sem grandes histórias. Tal como planeado. É altura para repousar. Desde o início, quando ainda em Portugal planeei a viagem, sabia que os dias de Gonzabal seriam para descansar, depois de quase um mês de andanças pela região.

Vemos uma velha máquina deixada a um canto, já parcialmente coberta pela vegetação. Voltamos aos pontos já descobertos na véspera: o forno de pão a encantadora casa antiga, o engenho de moer.

Basicamente ficamos por ali sem fazer nada. A ler, a contemplar o horizonte montanhoso. A matutar em toda a vida que por aqui já passou. Nas gerações desta família que cresceram pisando estas terras em que hoje andamos. Tantas histórias teriam para contar, tantas esperanças e sonhos, planos e decepções. Mãos que tocaram esta madeira, aqui colocada há séculos.

E assim ficamos toda a tarde. O almoço passamos. Deixamos a refeição grande para o jantar. A comida apesar de deliciosa torna-se um pouco repetitiva e assim petiscamos apenas dos nossos mantimentos ao longo do dia.

A meio da tarde damos um pequeno passeio pelas imediações da quinta, seguindo um caminho de terra que sai de junto do portão. Passa por nós uma pick-up. A temperatura já subiu, agora está algum calor que me faz suar um pouco.

Passamos por casas antigas mas habitadas. Daquelas em que a casa de banho é um cubículo construído nas traseiras. Chegamos à igreja da comunidade, um templo de estilo moderno que veio substituir a capela da quinta, anteriormente o ponto de congregação dos fiéis.

A habitação dos caseiros, nossos vizinhos em Gonzagal

Acabamos por regressar. Estou com preguiça e o caminho não é especialmente estimulante. Mais uma sessão de não fazer nada.

Ao final da tarde o filho dos caseiros vem chamar-nos. Tínhamos pedido para visitar a capela e ele tem a chave. Abre-nos a porta. O interior é fascinante na sua simplicidade. Está ali organizado uma espécie de museu, com peças históricas e algumas jóias. Dá mesmo para sentir o passado.

A seguir abre-nos uma das portas da casa antiga que se encontrava fechada à chave. No interior não há muito mas as paredes têm várias fotografias e documentos. Infelizmente o jovem não conhece as histórias e acabamos por chegar a algumas conclusões e descobertas, confrontando nomes e datas que constam nos materiais expostos.

E pronto. Foi assim este dia inteiro no repouso da Hacienda Gonzabal, o único aqui passado do acordar à deita. Até ao fim estivemos indecisos sobre passar ainda mais uma noite, mas começámos a sentir aquele comichão de seguir a viagem, pensámos na gestão dos dias, sempre preciosos. E decidimos arrancar no dia seguinte, sem pressas, pela hora do almoço.

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