Dia 3 de Fevereiro de 2020, Segunda-feira

Finalmente a caminho do Peru. Fiz questão de sair do hotel com uma boa antecedência, apesar da estação de autocarros ser quase do outro lado da rua. Não podia perder aquele transporte daqui para fora!

E mesmo assim, ia acontecendo. Por alguma razão a partida não era junto aos escritórios da empresa e por acaso, porque já começava a estranhar estar quase na hora e não acontecer nada, perguntei ao pessoal que lá estava. Um deles levou-me ao autocarro que estava noutro local, ali próximo. Foi por pouco!

Bem, a caminho de mais um país. Ainda sentindo-me fraco e doente, mas capaz de prosseguir, vou vendo as paisagens. O dia está cinzento, escuro, triste. Vai chovendo de vez em quando.

Paramos numa pequena cidade. Há um intervalo. A estação de autocarros é nua e grande, parece um liceu antigo, mas sem salas de aulas.

No exterior um senhor de cor, ou seja, de origem africana, vende petiscos, num turbilhão de boa disposição que me deixa com um grande sorriso na cara.

Chegamos ao fim do país. Esta fronteira, da rota entre Loja e Jáen, é das mais remotas e desoladas que tenho visto. Chegamos até ela por uma estrada de terra batida. Não se passa ali muita coisa. Formalidades do lado do Equador passadas sem problema. A entrada no Perú envolve uma série de perguntas e, como viria a descobrir uns dias depois, umas calinadas no preenchimento do processo por parte do agente.

Seguimos viagem. Do lado do Peru a estrada é de asfalto. Essa é mesmo a única melhoria visível. As aldeias, as casas, têm um ar infinitamente triste. É incrível como uma passagem de fronteira pode revelar tantas diferenças. Aquela má impressão que tive à chegada, manteve-se durante os dias que fiquei no país.

O Peru é o único dos países da América do Sul que visitei a que decididamente não pretendo regressar. É verdade que não visitei alguns dos lugares que lhe dão grande fama no circuito turístico, como Machu Pichu e Cuzco. Esta última estava no plano, mas foi a sacrificada pelos dias que estive doente.

Apesar de não ser o mais pobre dos países sul-americanos, pelo menos no papel, o Peru foi o que me transmitiu mais a sensação de miséria. De longe! Claro que conheci pessoas impecáveis, como o condutor UBER que era Testemunha de Jeová. Mas nos dias que andei no país não consegui nunca afeiçoar-me a ele e ao seu povo.

Chegamos a Jáen e aquele momento sintetiza tudo o que acabei de escrever. É uma cidade incrivelmente feia e suja. Há milhares de triciclos, tipo tuk-tuk, usados como táxis mas também de forma privada. O barulho é incrível.

A estação onde somos deixados fica a cerca de 2 km do centro e do alojamento reservado. Não estou mesmo com disposição de encontrar uma forma de transporte. A pé será.

Não custa. Chegamos ao pequeno hotel. Humilde mas simpático. Fora ter que se tocar à porta para entrar e para sair. Apesar de estar mesmo no centro, logo, no meio de toda a confusão infernal de Jáen, a simpática proprietária deu-nos um quarto impecável. Super espaçoso e onde praticamente não se ouvia um som. Deu-nos uma série de informação e arranjou-nos um táxi para no dia seguinte irmos para o aeroporto. Provavelmente poderíamos encontar um tuk-tuk por uma fracção do preço. Mas estava com uma disposição que se resumia a querer sair dali o mais depressa possível e sem contratempos.

Caiu a noite e fomos dar uma volta. Sem a luz do dia a cidade fica mais agradável. Muito comércio, muita animação. A praça central é de dimensões consideráveis e está rodeada de dezenas de lojas, restaurantes, cafés. Na realidade, parece existir uma discrepância sem explicação entre o aspecto geral de Jáen e os seus estabelecimentos de restauração. Há locais muito interessantes, bem decorados, limpos, tudo num padrão europeu.

Depois de muito escolher – e o problema era o excesso de variedade – comemos num restaurante que devia ser o mais caro da zona, e que estava na lista de recomendações da senhora do hotel. Comemos é uma forma de dizer, porque encomendei algo de que não gostava, devido a um caso de “lost in translation”. Sem crise, não tinha muita fome e logo me orientei com um gelado a servir de sobremesa de uma refeição que não existiu.

Esta serãozinho acabou por ser muito mais agradável do que a impressão geral de Jáem poderia deixar antever.

A noite foi bem dormida. Já me sinto melhor e o silêncio impera ali.

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