Dia 10 de Fevereiro de 2020, Segunda-feira

O pequeno-almoço foi tomado na sala de refeições da ilha, de novo com os dois viajantes que tinha conhecido na véspera e com um casal de chilenos que tinha chegado mais tarde. Estes últimos vão a terra e por isso farão a travessia comigo. Os outros ficam a descansar. E a família Uru vai para o festival.

Lá seguimos. Os mesmos dez minutos. E agora, onde está o transporte? Não se encontra. Há problemas. Os festejos na cidade têm o trânsito todo bloqueado. O meu anfitrião fala nervosamente ao telefone. Vem um carro mas não é o nosso. Passam carrinhas que parecem dirigir-se à cidade e não compreendo porque não usamos uma, que é o que a família acabará por fazer. Mas apenas depois de se certificar que estávamos entregues ao condutor.

Chegados mais próximo do centro a passagem está bloqueado. Ainda falta mais de um quilómetro para o terminal rodoviário. O condutor manda-nos ir a pé e eu digo que a pé nem pensar, que um quilómetro e meio e ainda para mais com mochila não é serviço que se apresente e digo-lhe para ir à volta como fez o meu autocarro na véspera. E é nestas alturas que me apercebo como o meu espanhol se tornou fluente, seguindo a definição de fluência que diz que se trata da capacidade de manter uma conversa.

O rapaz não gostou nada mas fez o que pedi. Pedi, disse, mandei. Porque de facto aquilo assim não estava com nada. Lá fomos à volta, ele com expressão de desgraçado e nós calados. Pedi-lhe desculpa, disse que ia pedir ao meu anfitrião para lhe dar um extra pelo percurso prolongado. Acho que ele compreendeu que aquilo era mesmo demasiado longe para um serviço destes.

Deixa-nos mesmo à porta da estação rodoviária. Vou comprar o meu bilhete para La Paz e pergunto ao segurança onde é que está a passar o desfile do festival. Lá vou eu ver aquilo.

É espectacular. Um mundo de cor e alegria. Os foliões vão desfilando e e o seu número parece ser infinito. Tenho um pouco mais de uma hora para ver e durante esse tempo passam sem parar. Alguém me diz que se trata de um evento que atrai grupos não só de todo o Peru mas também da Bolivia. Não custa a acreditar.

Caminho com eles, paralelo à marcha, até chegar à área onde estão instaladas as bancadas para os espectadores. Tinha-as visto, vazias, na véspera, desde a carrinha que me levou ao ancoradouro.

Regresso, em direcção ao terminal rodoviário, enquanto o desfile prossegue. É ladeado de um sem número de barraquinhas de comes e bebes. Quando chego ao ponto de partida o desfile parece dar sinais de abrandar, mas suspeito que é uma espécie de pausa para almoço pois por todo o lado se vêem participantes a petiscar e conviver. Há salões de beleza improvisados que retocam a pintura das bonitas dançarinas e até cabeleireiros onde se fazem arranjos ou reparos nos penteados do dia.


Vou então apanhar o autocarro para a viagem até Copacabana. Entrarei portanto num novo país: a Bolivia espera-me.

Não é um trajecto longo, segundo os padrões da América do Sul, umas poucas horas de viagem com cenários magníficos e, com uma prolongada pausa na fronteira, chego a Copacabana.

O meu hotel em Copacabana

Inicialmente tinha previsto passar alguns dias em Copacabana. Era um daqueles lugares que incluo nos planos para fazer uma pausa, descansar, recarregar baterias. Acabou por não acontecer assim. O meu pequeno problema de saúde tinha consumido demasiado tempo e o plano foi ligeiramente alterado. Não visitar Cuzco foi a principal consequência. Não fazer uma paragem mais prolongada em Copacabana foi outra.

À chegada, o autocarro pára em frente a um hotel, e o elemento local da companhia, que entretanto entrou, anuncia que para os passageiros há um preço especial para as dormidas ali. Geralmente não gosto muito destas propostas mas, porque não… entrei e perguntei.

A Room with a View

Era bom demais para ser verdade. Mas era mesmo assim: por 6 USD, um quarto só para mim, casa de banho privativa e pequeno-almoço incluído. Fiquei um pouco desconfiado com tanta maravilha, pedi para ver o quarto. Deram-me a chave e fui espreitar. Caramba! É um milagre. Para além de estar tudo em ordem, a vista do quarto era sobre o lago, uma coisa linda, um pequeno paraíso. Claro que fico. Só é pena não ter mais tempo.

Para mim é até estranho ficar num hotel a sério. Não costuma acontecer, é verdadeiramente raro. Mas agora ali estava e ia aproveitar ao máximo o tempo disponível.

Que neste dia já não era muito. Tinha chegado ao fim da tarde. Feito o check in, já não sobrava muito tempo para explorar Copacabana, que de resto é uma localidade pequena, pouco mais do que uma grande aldeia.

A maioria das pessoas que inclui o Lago Titicaca na sua viagem pela América do Sul baseia-se em Puno. Acho isso uma má ideia, considerando que Copacabana oferecer as mesmas possibilidades e é um local tão mais agradável.

Em frente ao hotel, a baía da Copacabana, com uma imensa esquadra de pequenos barcos fundeados, a maioria deles usada para passeios turísticos. Ali próximo a Ilha do Sol atrai turistas. Pode-se também pernoitar ali, e cheguei a considerar essa possibilidade. Outra coisa que se pode fazer é caminhar até à ponte de uma estreita península que ali existe, a leste da localidade, e procurar um quartinho na comunidade local para passar a noite. É uma caminhada longa, algo dura, até porque não nos podemos esquecer que a esta altitude o oxigénio escasseia. Também ponderei fazer isso, mas no fim o tempo não deu para nada, foi só mesmo uma noite e depois seguir para La Paz a meio do dia seguinte.

Andei um pouco por ali, próximo do hotel. A noite ia caindo. Depois, jantei. Um prato banal, de carne, no restaurante de um outro hotel, de uma categoria acima, com um casal brasileiro de meia-idade noutra mesa. Regressei ao meu quarto. Agora ia descansar, tranquilamente. Sem internet. Era o único problema aqui: Wi-Fi só no lobby e mesmo assim…

 

 

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