Olha! É o meu dia de anos. Um especial. O número cinquenta. E é a primeira vez que o passo fora de Portugal. Vistas as coisas de forma objectiva é um dia fraquito, não se passa nada, é só andar por ali. Mas gosto tanto de Cabo Verde que não lhe levo a mal, ao dia, ter sido tão pouco especial no meu aniversário.
De manhã fomos com a Sueli e o amigo letão até à praia. Para mim foi um regresso à Prainha. Fomos de táxi, foi uma pechincha. 150 Escudos. Mas de facto praia, enfim, de praia enchi-me eu toda a vida. Sempre vivi a menos de meia-hora de uma qualquer praia e agora ainda estou mais perto. Em suma, não está nos meus planos gastar tempo na praia a não ser em finais de tarde pasmaceirentos e isso é se estiver em casa.
Então ficámos por ali um bocado, e depois fomos espreitar o farol que me estava atravessado na garganta. Eu queria mesmo era visitar aquilo por dentro e desta vez aconteceu. O faroleiro, o senhor Jorge, por lá estava. 1 Eur pela visita. Parece-me bem. Subimos. Claro que aquilo não tem nada para ver, mas para mim, acho que para a malta que foi miúdo na minha geração, os faróis estão muito presentes no imaginário. Vem-me à ideia as aventuras dos Cinco, as estórias de Enid Blyton. E acho que nunca tinha estado no interior de um farol. Resumindo, se vai à Praia vale a pena passar por aqui e ver algo um pouco diferente. É um belo passeio, tem-se uma boa vista e o Jorge é um castiço de boa conversa e cheio de estórias para contar.
Bem, a Sueli parecia bem instalada na praia, o letão (não uso o nome dele só porque é complicado e difícil de memorizar) tinha ido ao hotel ali ao lado beber um café e assim sendo fomos andando até à cidade. Literalmente andando, a pé, nas calmas, desde a Prainha até ao Plateau, passando junto ao pitoresco edifício do Arquivo Nacional.
E agora o que fazer? Nada de especial. Mais uma voltinha pelas ruas do bairro. É tão pequeno, esgota-se tão depressa, mas nunca me cansei de o percorrer. E estou pronto para mais. Usámos a Internet da praça pública, andámos por ali, o tempo já a limpar da névoa que nos perseguia há dois dias. Acho bem mesmo! O meu dia de anos não é para estar enevoado! Acabámos o passeio em grande. No Café Sofia. Este estabelecimento tem uma personalidade muito própria, que não é diminuída pelo toldo de gosto discutível que se ergue defronte e sob o qual está colocada a esplanada. É assim um toldo branco em forma de tenda, como aquelas enormes onde se organizam banquetes e casamentos. Vamos esquecer o toldo que era dispensável e falar do café. Ali é onde se reunem os carolas da cidade. Quase todos já velhotes, debatendo os assuntos públicos, lendo o jornal, jogando o seu xadrez. Todos os dias os mesmos, os clientes da casa. Que engraçado, um café de intelectuais ali… tinha lido que era onde se ia para se ver e ser-se visto, uma espécie de local da sociedade. E é! Muito interessante. Já tinha passado por lá algumas vezes mas desde que experimentei tornei-me cliente. Há sempre algo ali para se ver, para entreter, para ocupar o tempo.
Os preços não são os mais agradáveis mas também não são um escândalo. E o café tem a sua Wi-Fi apesar de só funcionar bem numa ou duas mesas, é ali melhor do que a internet pública da praça.
E pronto, não se passou muito mais. Acabámos por caminhar para casa, e desse passeio, não do deste dia, mas do passeio, em abstracto, guardo memórias maravilhosas. Aquela ida do Plateau para o apartamento de Fazenda foi um prazer renovado a cada dia na Praia. África para ser vivida, África para ser vista, fotografada, cheirada, lembrada!
Perguntaram-me o que queria fazer. Nada de especial. Vamos só jantar aqui ao lado, na simpática tasca chamada Celebridades, pertença do Jójó, um “ganda maluko”. E assim foi. A Sueli preparou um delicioso bolo de banana que serviu de bolo de anos, deixámo-lo em casa à espera e fomos jantar. Foi uma refeição muitíssimo agradável. Na esplanada, na rua, a temperatura era perfeita. Foi um momento daqueles que ficam na memória. Doce Cabo Verde.
País interessante para visitar. Sem dúvida que a simpatia da sua população e as paisagens dramáticas fizeram da minha viagem a Cabo Verde algo único. Gosto da camisola do homem que está sentado… Abraço do Deserto do Saara!