Ao fim de um dia e meio em Valladolid estava prontíssimo para virar esta segunda página da viagem pelo México. Mas como o autocarro para Izamal seria apenas à hora de almoço ainda teria uma manhã para preencher por aqui.

A primeira coisa foi tentar de novo fazer fotografia antes das ruas se encherem de pessoas. Não sei se já tinha referido mas esta foi a primeira viagem com a câmara Fuji X-T30. Na realidade, a primeira vez que a iria usar mais a sério. Cheio de pica, porque esta pequena coisinha é uma maravilha a fotografar e o vidro disponível é muito superior ao que se encontra na mesma gama de preços para a Nikon. Contudo, a inspiração recebida do equipamento foi vencida pela desinspiração oferecida por Valladolid e não saiu nada de interesse daquela bela lente 16-80.


O passo seguinte foi regressar ao mercado que me fascinou na véspera. Também não correu bem. Era demasiado cedo. O pensamento voou para um certo mercado que encontrei nos confins de Myanmar. Aí, as coisas começavam a terminar com o nascer do sol. Mas em Valladolid pelas 9 da manhã ainda estava quase tudo fechado.

Fomos ao alojamento recolher as mochilas e preparar calmamente para a viagem de autocarro para Izamal. Esta localidade fica a meio caminho entre Valladolid e Mérida e é conhecida como a “aldeia amarela” devido à cor das casas no centro histórico. Contudo, a estrada que por lá passa é secundária e apenas autocarros de segunda classe asseguram este percurso. Tanto melhor. Foi das viagens de autocarro mais agradável nestas cinco semanas de México. Janelas abertas em vez de ar condicionado gelado, sem filmes dobrados em espanhol e com gentes bem locais como companheiros de trajecto.

Nem me recordo já quanto tempo demorámos a chegar. Talvez duas horas. E há que dizê-lo: Izamal é fotogénica com’o caraças! O convento de San Antonio de Padua é um assombro! E foi mesmo ali defronte que o autocarro nos deixou. Agora só havia que andar 100 metros até ao “hotel” reservado, mesmo ali no centro, a um passo do tal convento e a uns vinte metros da Câmara Municipal.

Não estarei muito longe da verdade se disser que este hotel será a casa mais antiga da Izamal. É imponente pela atmosfera que apresenta. Escolhi bem o local da pernoita. Ainda cheguei a pensar ficar numa hacienda nos arredores da localidade mas a inexistência de transportes fez-me desistir da ideia.

Excluindo umas quantas horas de barulho desconfortável que transpirava da festa familiar semanal que os proprietários ali organizam (não contem a ninguém, foi a funcionária da recepção que me informou disto e me aturou os maus fígados) e a ausência sem explicação de um pequeno-almoço na manhã seguinte, foi uma boa estadia. Voltaria a ficar, pelo ambiente histórico e pela localização imbatível.

E o que dizer de Izamal? Em suma, pela positiva, a fotogenia, o tamanho pequeno, a segurança. Pela negativa, os turistas, a ausência de opções para comer ou comprar comida, ter a praça central em obras e, paradoxalmente, o tamanho pequeno, que esgota depressa a aldeia.

Foram 24 horas para relaxar, ver e caminhar um pouco. Adorei o convento, apesar de ser raro poder estar por ali sem a companhia indesejada dos grupos de turistas que vêm de Mérida, Valladolid ou Cancun. Muito poucos ficam para pernoitar. As ruas que envolvem o centro histórico são lindíssimas. Já não tanto as outras, um pouco mais afastadas.

O amarelo é omnipresente. Ninguém parece saber ao certo porquê. Há quem diga que é usado por ser a cor que, conjugada com o branco, forma a bandeira do Vaticano. Ou que se relaciona com os ritos antigos de adoração ao sol. O que é certo é que num dia sem nuvens oferece um cromatismo espectacular e as fotos fluem com velocidade.

Quando entrei no edificio do convento encontrei uma pequena loja com duas freiras que atendiam os visitantes. Perguntei se era possível visitar o convento, responderam que não, apenas o museu. Pensei que falavam de um museu de arte religiosa, mas afinal não, a visita inclui boas áreas públicas do convento e recomenda-se. Não é tão espectacular por dentro como o de Valladolid mas mesmo assim é tempo bem passado.

Sentei-me num banco sob uma árvore frondosa, à beira de uma rotunda movimentada. Por ali, desfilando frente a um dos flancos do convento, entra o trânsito proveniente de Valladolid. Deixei-me estar, integrando-me na paisagem humana, observando pessoas, sacando fotografias. Do lado de lá da rua um casal de turistas fazia umas figurinhas para obter aquela fotografia essencial para o seu Instagram. O estereótipo do influencer que começa a irritar muita gente: posses dramáticas, fotos sem fim, assim e assado e com as devidas repetições. O modelo era ele, que xingava a moça sem parar porque aparentemente os resultados não estavam a contento.

Num outro banco à minha frente três senhores que poderiam corresponder a uma versão reforçada dos “velhos dos Marretas” faziam o mesmo que eu… observavam e meneavam a cabeça em desaprovação.

O dia foi avançando. No fundo não há muito para fazer em Izamal. É ir ao convento e andar pela praça. Ir ao convento e explorar as ruas envolventes. Ir ao convento e comer uns churros ou qualquer outra coisa à venda nas bancas de rua. Ir ao convento e passar junto à Câmara Municipal. Ir ao convento e descansar um pouco no quarto.

Como disse, comer aqui não é das coisas mais simples. Na pequena praça local há lojas de comida mas não tive estômago. Eu, que já comi nos lugares mais incrivelmente sujos do mundo, fiquei enojado daquelas coisas.

A solução foi remediar-me com uns nachos de pacote cobertos por molhos suspeitos numa geladaria com quatro mesas no exterior. Eu avisei… tomar uma refeição em Izamal não é impossível mas també, não é simples. Pelo menos para mim.

O dia começava a chegar ao fim. Os turistas iam desaparecendo, as ruas enchiam-se de pessoas que rumavam a casa depois de um dia de trabalho. Aproveitei a luz do lusco-fusco para umas quantas fotografias interessantes. E depois caiu mesmo a noite e continuei a vaguear e a fotografar.

Descansar um pouco, um último passeio, uma visita ao supermercado rasca da porta do lado, um sumo de ananás e o retiro para repousar.

 

 

 

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