De manhã houve tempo para revisitar a medina de Sousse. Foi um vaguear sem rumo, procurando novos recantos daquelas vielas que formam a parte mais antiga de uma cidade norte africana.

As fotografias falam por si e o mais complicado foi selecionar apenas algumas para colocar nesta página do diário. Gostei desta medina. Algumas pessoas notarão o mau estado geral das coisas. O empedrado da rua que está a saltar, as casas com estuque a cair e pintura adulterada por graffities, a tinta escamada. Mas o charme está todo lá.

Sousse pela manhã com a estranha luz amarelada

No início do passeio estava uma luz louca, amarelada, certamente influência de partículas suspensas no ar, sopradas desde os desertos mais para sul. Depois, foi normalizando, mas foi mais um dia de um cinzento tristonho.

Quando ia já para “casa” notei que o ribat estava aberto. Excelente. Bilhete comprado. Um ribat é uma fortaleza, geralmente localizada no centro da medina. O que se encontra em Sousse está bem restaurado sendo o ponto alto da visita a ascensão à torre mais alta, de onde se tem uma vista espectacular.

Medina de Sousse

Caminhámos junto à muralha, naquela espécie de circular que a acompanha, sempre por dentro, ao longo de todo o perímetro da muralha. É precisamente nesta rua, ou sequência de ruas, que o nosso hotel ficava.

Vamos descansar um pouco. Agora resta esperar pela hora de ir até à estação de comboios levantar o carro alugado.

Estava um pouco nervoso porque tinha lido péssimos comentários sobre o serviço da Europcar na Tunísia. Sim, eu sei que quando as coisas correm mal quase toda a gente se manifesta mas quando não se passa nada fica o silêncio, e que isto tende a criar uma enganadora ideia de má qualidade. Mas no caso da Europcar era demasiado.

Pedimos para ficar uma hora para além do check in porque de facto não tínhamos nada para fazer nem para onde ir. O encontro era às 14:00.

Vista de Sousse desde a torre do ribat

Lá fomos. Ninguém, nem sinal de carro. Às 14:20 liguei para o número fornecido. O colega vinha a caminho. OK. Chega o colega, com um atraso de meia hora. Simpático. Todas as formalidades tratadas e agora a Tunísia é nossa, especialmente quando o litro da gasolina custa 0,60 Euros.

Não me foi complicado conduzir neste país, nem mais tarde, já em Tunis. Os primeiros minutos são um pouco mais complicados, há que habituar à máquina. Mas correu tudo bem, até porque a longa via de saída de Sousse rumo a Kairouan se iniciava numa rotunda a poucas centenas de metros do ponto de partida.

Uma pequena mesquita em Kairouan

No início com algum trânsito, que se dissipa à medida que a cidade fica para trás. Muitas rotundas, muitas delas habitadas pela polícia, muito activa. Neste primeiro dia nunca fui parado pelas autoridades, mas mais tarde, num espaço de um par de horas, fui inspecionado quatro vezes, sem qualquer problema.

Chegámos a meio da tarde. Um pequeno stress para encontrar a casa para hoje. A proprietária não respondia no Whatsapp, não atendia o telefone. Pedi ajuda ao booking.com e finalmente foi estabelecido contacto. Pequenos percalços da vida do viajante.

Simpatia tunisina em Kairouan

A anfitriã herdou uma casa antiga e renovou-a. O pátio é o ponto central da habitação e a partir dele chega-se à sala, com porta para a rua, ao nosso quarto, ao quarto dos proprietários. Um espaço agradável.

Ela diz-nos que como é Ramadão e não encontraremos qualquer comida ou restaurante aberto para jantar, estamos convidados para tomar a refeição com eles. Hora marcada, um pouco de descanso, e saímos para a rua para explorar um pouco da cidade.

Para chegar à medina é preciso caminhar um pouco. Encontramos uma das portas da cidade antiga. E mesmo com a luz pardacenta fico fascinado com esta nova medina, a mais bonita que vim a conhecer na Tunísia.

Não como descrever por palavras. É uma sequência de recantos atmosféricos, com detalhes únicos, como a técnica de pintura esbatida aplicada a algumas superfícies brancas.

Outra pequena mesquita em Kairouan

Há pequenas mesquitas de cujos altifalantes se eleva um chamamento para a oração. praçetas onde a vizinhança acorre, mercearias para as pequenas compras domésticas. Mas também há bulício, vias principais ladeadas de intenso comércio e praças mais amplas e cheias de gente.

Passa um homem de motorizada. Três meninos regressam da escola, um deles com um louco cabelo afro que parece ter mais volume do que todo o seu corpo. Passamos junto à famosa mesquita de Kairouan, um local importante de peregrinação. Já está encerrada, mas por fora dá para compreender a amplitude do espaço.

Um segmento da mesquita de Kairouan

Alguns homens tentam atrair-nos para as suas lojas, com promessas da melhor vista sobre a mesquita.

Mais à frente encontramos um cemitério histórico, enigmático, com o branco das tumbas a contrastar com o ocre das muralhas e o cinzento carregado do céu.

Um cemitério histórico

A noite começa a cair, antecipada pelo denso filtro de nuvens que corta os últimos raios solares. Está na hora de começar a regressar. Foi um bom passeio. Aliás, foi um bom dia, com duas caminhadas em dois núcleos históricos de importância relevante.

Chegámos mais tarde do que a hora que tinha sido apontada para jantar. Uma palavra em minha defesa: não ficou nada combinado. O acordo era que se quiséssemos jantar estaríamos prontos aquela hora. Mas na verdade chegámos em boa hora. Ninguém deu pelo atraso e partilhámos uma saborosa refeição, mais um repasto grandioso. Se continuar assim vou ganhar uns quilos jeitosos na Tunísia.

Uma oficina ao cair da noite

 

 

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