16 de Janeiro de 2020, Quinta-feira

A noite não foi especialmente bem passada: a rua bastante movimentada para onde dá a janela do quarto não permitiu um sono repousante. Pelo menos o ambiente no hostel pela manhã estava mais agradável. A proprietária foi simpática enquanto nos preparava o pequeno-almoço, em contraste com o que nos mostrou quando chegámos. Talvez estivesse a ter um mau dia.

Comemos em boa companhia. Um viajante de conversa interessante, uma ocorrência que sinto que cada vez é mais rara. O hostel já não me parece tão mau como à chegada mas a decisão está tomada, até porque a localização, a exigir um táxi de cada vez que queira ir ao centro e depois regressar, não é nada positiva.

Uber chamado, logo estávamos a caminho do novo alojamento. Chama-se Casa de las Culturas San Marcos e ofereceu-me uma das melhores estadias desta viagem de quase três meses.

Por USD 20 ficámos num apartamento dentro da casa. Um quarto enorme, um autêntico salão, que não usámos, uma cozinha, um outro quarto com uma vista de postal ilustrado e uma salinha com um sofá apenas e outra janela panorâmica. Infelizmente só poderíamos ali ficar uma noite porque aquele “quarto” já estava reservado para os dias seguintes. Ficaríamos num outro, mais normal, no piso de baixo.

A casa é um edifício histórico, da era colonial. Pelo que me contaram as anfitriãs – a dona e uma ajudante – está nas mãos da família há umas décadas, mas com o correr dos tempos deixou de de haver possibilidade de manter a manutenção em níveis aceitáveis e daí a ideia de se iniciarem no negócio da hospitalidade, dinamizado pelo filho da senhora que deu um toque de juventude e arte ao local. Foi uma escolha em cheio! A ver a galeria de imagens no final deste página do diário.

Estava agora na hora de começar a explorar efectivamente a cidade. Saímos para a rua, seguimos o mapa em busca da praça central. Passámos por uma rua pedestre que fervilhava de vida. Tão próximo da Colômbia e com uma cultura tão diferente, muito mais indígena, com cholitas e peles muito mais homogéneas do que em Bogotá.

Vejo um antigo cinema, hoje desactivado. Estou a gostar. A localização da nossa casa é excelente, numa rua simpática e sossegada mas a umas poucas centenas de metros da praça central da cidade. E é lá que chegamos logo de seguida. Há uma multidão que a cruza, que usufrui dela, que pára por um instante.


Vejo turistas, cabeças louras, namorados nos bancos de jardim, pessoas mais velhas que se sentam apenas porque sim, vendedores de óculos escuros e outras bugigangas. Muita gente se senta nas escada da grande igreja.

Todos os lados da praça são ocupados por edifícios históricos, departamentos do Estado, sedes de governação civil e eclesiástica. E comércio. Está um ambiente fantástico, com om bonito céu azul temperado com farripas de nuvens bem brancas.

O espaço é patrulhado por polícias em segways. Policias de cara simpática mesmo para aqueles que flagelam: os vendedores ambulantes, aparentemente proibidos de ali fazer negócio.

Agora o difícil é saber para que lado nos viramos. Estamos rodeados por história, por edifícios monumentais com centenas de anos.

Descobrimos ali mesmo na esquina um pátio onde está uma exposição fotográfica de Quito antiga. Mas esse espaço é apenas a parte mais visível de um imenso centro cultural com outras exposições e escritórios e longos corredores que terminam nuns claustros onde também existem peças de arte para os visitantes apreciarem.

Depois vamos por uma rua pedestre. Cheia de restaurantes e lojas interessantes, ladeadas de habitações da era colonial e algumas igrejas com decorações fabulosas.


Uma senhora faz gelados ali à vista de toda a gente e a sua popularidade é revelada pela pequena multidão que a rodeia, com encomendas. Também experimentamos.

No final dessa rua há um espaço amplo, chamemos-lhe uma praça. Tem ar de terra de fronteira, entre o centro histórico, turístico, bem arranjado, e uma outra cidade, selvagem, pobre. Mesmo em frente está o morro El Panecillo. Uma colina povoada, coberta por um bairro complicado, que se aconselha evitar. E no topo, a estátua da Virgem do Panecillo. Ainda olhei, ainda ponderei subir. Mas não. Ficará para outro dia, pela estrada que vai á volta, de Uber.

Dali parte A Ronda, uma rua transformada em atracção turística que historicamente era de facto percorrida pela patrulha que policiava os limites da cidade. São séculos de tradição e se hoje se encontra algo abastardada pelo turismo massivo, é ainda assim uma via agradável, especialmente durante o dia. Pelo serão transforma-se num local de festa, de animação nocturna, o sítio onde todos os caminhos conduzem, popular entre os locais e entre os turistas que visitam a cidade.

Visitamos um espaço muito engraçado, um museu de costumes, pequeno mas bem conseguido. A visita é gratuita. Aliás, não está lá ninguém, é só entrar e ver.

Agora é continuar a caminhar, explorar todo o centro histórico de Quito, percorrer as suas ruas movimentadas, onde o trânsito nunca pára. Esse será porventura a única memória negativa que trarei da capital equatoriana: o bulício excessivo, a poluição sonora e atmosférica causada por aquela massa omnipresente de viaturas.

Há outras praças para visitar, recantos encantadores, e também algumas tarefas práticas a concluir, como obter cartões de dados para os telemóveis.

O resto da tarde foi ocupado a deambular. Seguindo as placas turísticas, quase ao acaso, daqui para ali, dali para acolá, segundo os mandamentos da intuição. Comprando fruta ás vendedeiras de roupas tradicionais, comendo numa tasca muito local e algo imunda por um par de Euros, sentindo o dia a acabar com uma nota de satisfação.

Na praça principal era agora hora de ponta. Ums poucos artistas de rua encenam uma peça teatral, perante a audiência considerável que os rodeia e que se estende pela escadaria da igreja.

Passamos pelo posto de turismo, que nos é indicada por uma muito simpática agente de polícia e somos atendidos por igualmente simpáticas jovens funcionárias que nos dão o mapa da cidade e nos enchem de conselhos, informações e ideias.

Foi um dia em cheio. Agora é voltar a casa e apreciar aquela vista fabulosa à noite, com as luzes da cidade.


Feito um piquenique com uns alimentos básicos comprados na loja de conveniência, passe a expressão, convenientemente existente na porta ao lado, foi tempo de ordenar as ideias e realinhar planos para os dias seguintes.

E agora, está na altura de mostrar as imagens deste maravilhoso lugar onde fui tão feliz nos dias de Quito, especialmente no primeiro, quando pude usufruir deste espaço com uma vista panorâmica:

 

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