Dia 3 de Março de 2020, Segunda-feira

Acordei no sofá que foi meu para a noite. Uma mulher andava pela casas em lides domésticas. Os meus anfitriões já tinham saído para o trabalho. Levantei-me, disse bom dia, peguei na mochila e saí.

A estação de autocarros não era longe da casa do couchsurfer onde fiquei. Caminhei até lá, comprei o bilhete para Encarnación. O terminal de Villarica é interessante. Tem uma forma circular, mas no seu interior apenas se encontram os serviços associados às operações. Tudo o resto acontece no exterior. Há uma série de barraquinhas a vender as mais variadas coisas e muitos comes e bebes itinerantes.

Comprei um copo de salada de frutas a uma moça bonita. Foi o meu pequeno-almoço, tomado sentado num banco do terminal.

A dinâmica ali é muita. Chegam e partem autocarros de forma incessante. Há muitos que se dirigem para Asunción. Outros são locais, e estão numa zona mais ao lado. A hora de partida do meu autocarro chega e vai e começo a ficar nervoso. Há sempre o risco de deixar partir o autocarro certo. Pergunto a um dos funcionários que ali anda e ele diz que é para esperar. Continuo à espera. Muito tempo depois, talvez com uma hora de atraso, chega a minha viatura.

Vai ser mais uma longa viagem pelo Paraguai. Uma admirável viagem, com muito que vou vendo pela janela. Adoro este país, distante, remoto, genuíno, pitoresco. Não tem nada de especial e é isso que o torna especial. Felizmente. Porque o gringo’s trail não passa por aqui.

O que vejo são cenas de um país que já existiria assim há várias décadas. Apenas os carros se modernizaram. O verde abunda, a terra é avermelhada, dá sinais de fertilidade. As pequenas cidades são pobres, mas continuo a insistir que não vejo como é que o Paraguai é considerado um dos países mais miseráveis da América do Sul. Os meus sentidos dizem-me o oposto, colocando de lado as óbvias excepções da Argentina, Chile e Uruguai.

Vou a Encarnación por duas razões: para visitar o único local classificado pela UNESCO como World Heritage Site, as ruínas das missões jesuítas nas proximidades da cidade, e para seguir viagem para Iguazu.

Chego a meia da tarde. Tive o cuidado de reservar acomodação num hostel próximo da estação rodoviária de Encarnación e não poderia ter escolhido melhor. É um bom hostel, barato e com o ambiente certo e a localização é soberba. Um pouco distante do centro funcional da cidade, mas nestas cidades, algo alongadas, não se pode ter tudo. Ali fico próximo da estação, para chegar e partir da forma mais confortável, e do rio, com a sua praia e área comercial e social.

Sou recebido pelo Álvaro, que me mostra as instalações e me indica o beliche onde ficarei. Para já marquei uma noite apenas, e depois logo se verá. Explica-me como visitar as ruínas sem recorrer às tours turística que providenciam serviço de porta a porta. Irei no dia seguinte pela manhã e então decidirei se fico a segunda noite.

Agora saio para a rua para ver o que poder antes do dia se extinguir. Falo com o cozinheiro cubano que ali está como que por beneficiência: ele faz os seus cozinhados para os hóspedes e para quem quer que ali passe, e recebe o seu dinheiro. Uma simbiose entre o hostel e este cubano perdido no mundo. Falamos numa pizza, ele faz pizzas.

Passeio. Vou até à beira do largo rio que ali passa. Vejo os renovados silos de cereais. A área está muito bem arranjada e penso de novo que o Paraguai não me parece dos países mais pobres da América do Sul. Encarnación poderia ser em Portugal.

Do outro lado do rio vejo Posadas. É Argentina. Visto daqui tem uma linha de céu incrível, parece uma Manhatan, com as suas torres residenciais, muitas, recortadas contra o azul intenso do céu.

Começo a ter fome e encontro um Burger King mesmo na praia. O areal está quase vazio. Acho estranho. É pleno verão aqui, está um calor abrasador, em meu redor há bares e restaurantes e toda a infra-estrutura de praia, incluindo um posto de polícia, um posto de turismo, nadadores-salvadores. E contudo a praia está deserta.

Este Burger King é incrível. Mesmo na praia. Delicio-me com o meu hambúrguer, calmamente. Saco do Kindle e leio um pouco. Estou muito descontraído. Não tenho nada para fazer.

Regresso ao hostel, peço desculpa ao cubano por a pizza ficar sem efeito. Tenho a pança cheia. Talvez no dia seguinte.

Vejo o pôr-do-sol a colorir de tons de laranja Posadas. Descanso um pouco e depois vou até ao centro, caminhando calmamente. Aqui não há crime. Literalmente. Dizem-me que é impossível qualquer tipo de assalto, de violência.

O passeio é longo mas estéril. Não vejo nada de interessante. Uma cidade normal, relativamente calma, com tudo o que se espera ver num local assim. Lojas, restaurantes. Algumas pessoas que vão e vêm. É uma localidade simpática, pacata, tranquila. Mas sem charme.

Chego à praça central e regresso. Já a chegar ao hostel descubro uma loja de venda de bebidas. Há de tudo, em múltiplos frigoríficos que mantêm as bebidas bem geladas. Já é de noite mas ainda tenho na memória o calor do dia e estou sedento. Compro um stock de bebidas e regresso ao hostel. Agora, descansar e em breve dormir.

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