Dia 1 de Março de 2020, Sábado
Segundo dia completo em Asunción. Terceiro dia na cidade. Já se perdeu aquela energia frenética da descoberta e numa viagem de três meses quando isso acontece, entra logo em cena o desejo de descansar, de recarregar baterias, de gerir a energia e simplesmente não fazer nada, quer para recuperar dos dias passados quer para preparar os vindouros.
É Sábado, a cidade está calma. Na rua não passam carros e as pessoas são raras. Saio para procurar a padaria que a menina da recepção me tinha indicado. Deverá encontrar-se ali perto, a não mais do que 2 ou 3 quarteirões de distância. Encontro-a. Já o supermercado ficará por descobrir.
Um leite com chocolate e um par de croissants. É mais um café do que uma padaria. E um café que podia ser em Portugal, com produtos não muito diferentes e pessoas também não muito diferentes.
Sabe-me bem aquele toque de familiaridade. E agora regresso ao hostel. De lá chamarei um Uber. É uma novidade para mim, esta facilidade de transporte. Nunca antes tinha tido acesso a transporte simultaneamente prático e barato. Que é o que a Uber é nestas cidades grandes da América do Sul.
Destino? Cemitério central de Asunción. Vamos lá ver o que encontro. Para já um simpático senhor de óculos de fundo de garrafa leva-me. Boa conversa, homem culto, muito curioso pelo meu destino para este dia. Conta-me que ainda há uns dias tinha lá ido ao funeral do sobrinho, que me descreve em detalhe. Cancro na próstata, tempos difíceis.
Quando chegamos já está rendido ao meu charme de turista, dá-me dicas às pazadas, incluindo como regressar ao centro sem usar um Uber. E vão servir.
O cemitério foi algo decepcionante. Está horrivelmente mantido, parece um matagal com muito lixo e campas pelo meio. Os trilhos são estreitos e acabam abruptamente. Há homens de aspecto duvidoso sentados em alguns pontos. Não sei o que fazem ali e apesar da primeira impressão suspeito que não seja nada de ilícito, talvez algum serviço a quem ali vai visitar familiares falecidos.
Vejo aquilo num instante e procuro seguidamente o chamado Cemitério Italiano. Os homens de aspecto duvidoso perguntam o que ando ali a fazer. Não sei se por vontade de ajudar ou por desconfiança pura e simples. Pergunto pelo Cemitério Italiano e ele explica, explica mas com um sotaque que me cria muitas dificuldades. Apanhei pouco, mesmo assim o suficiente porque vou lá direito.
É preciso sair para a rua e entrar por outro portão mais acima. É ali que está o tal sobrinho do meu condutor de hoje. O Cemitério Italiano, por contraste, está mantido com um rigor militar. E não é por acaso que mesmo naquele momento uma série de pessoas recolhe folhas caídas e mantém os espaços ajardinados.
Do caos para a esterilidade, dois extremos e nenhum deles faz destes cemitérios lugares que me agradem visitar. Bem, vou então regressar.
Encontro a paragem com o meu amigo de origem italiana me indicou, espero um bocado, chega outra pessoa, e vem o autocarro. Entro e sento-me e aprecio a viagem neste transporte local. O preço nem me lembro, algo como 10 cêntimos de Euro.
O dia passou-se no descanso. Vou ao centro, volto a beber uma cerveja no Bolsi. Nem sei porquê, não tinha gostado da primeira vez, acho que quis dar uma segunda oportunidade e voltei a não gostar.
Não fiz mais nada digno de ser contado neste dia de preguiça. O calor intenso também não ajudou. No dia seguinte seguiria viagem, com uma paragem para uma noite em Villarica, a meio caminho do sul do país.
Para terminar, deixo uma série de imagens do belíssimo hostel onde fui muito feliz nos dias de Asunción, um hostel que infelizmente parece ter deixado de existir. Pelo menos neste momento não se encontra listado no Booking.com. Saudades do Arandú!