27 de Janeiro de 2023

Assim que se chega dá para perceber que esta é uma Índia diferente. Mais limpa, “civilizada”, onde as pessoas respeitam o espaço pessoal, as filas. Foi uma primeira impressão confirmada continuamente ao longo dos dias passados na cidade.

Ao sair da estação não há uma parede móvel de condutores e taxistas a chamar. Nada disso. Nem um. Eles estão lá, para receber os clientes que os procurem. Chamamos um tuk-tuk. Não para o alojamento, que não são horas para tal. Vamos para a praça Vasco da Gama fazer um pouco de tempo. Pareceu-me uma boa forma de matar tempo e não me enganei.

De manhãzinha na praça Vasco da Gama em Cochim

Atravessámos uma boa parte de Cochim a bordo daquele tuk-tuk e consolidei a ideia da diferença. Como se fosse uma cidade mais rica, mais equilibrada, mais justa do que as outras cidades grandes do país. Até na condução se sente isso, não se encontra o caos arrepiante de outros centros urbanos.

E chegamos. A Praça Vasco da Gama é o centro nevrálgico da parte mais antiga de Cochim, chamada Fort Kochi (como se escreve em inglês e como é costume por lá). Gostei logo. É muito cedo mas já há imensa vida. É ali que se encontra um bom número das famosas redes chinesas, dispositivos fixos de pesca, redes baseadas na costa que fazem as suas capturas nas águas da barra. Apesar de serem ainda usadas, algumas são exploradas também para turismo, com o pessoal a convidar viajantes a entrar para ver a troco de uma gratificação.

Um pequeno mercado de peixe na praça Vasco da Gama

Ali defronte há um pequeno mercado de peixe, muitas bancas que vendem de tudo, pipocas, recordações, comidas misteriosas, doces, cocos. Uma grande variedade.

E por perto existe uma praia, muito concorrida. Num areal sujo há homens que lançam redes à água, tentando a sorte. Fazem-no com mestria, jogando ao ar a rede, que se abre e aterra sobre a água já num amplo círculo. É um espectáculo de se ver. Como que competem entre si pelos melhores lançamentos, trocando doutamente impressões entre cada arremesso.

Uma das redes chinesas

Um navio de guerra entra na barra. Cochim tem uma das maiores bases navais da Índia, se não a maior. Já tinha reparado na imensidão das instalações durante a viagem desde a estação de comboios. Passámos junto a vários portões da grande base e perto de outras unidades estacionadas fora do complexo maior.

Vamos dar uma volta por ali, observando as fascinantes casas construídas em estilo colonial, não de sabor português, como em Goa ou Diu, mas num estilo diferente, holandês e inglês. Há ali aliás um velho cemitério desses tempos, mas infelizmente encontra-se encerrado aos visitantes. Resta espreitar pelo portão e sobre os muros.

Uma visita inesperada de Messi

O passeio prossegue, sem grande energia, pois apesar do entusiasmo por explorar novas paragens a noite foi mal passada. Percorremos ainda algumas ruas, mas haverá tempo de ver tudo isto melhor. Começa a fazer-se tempo de seguir para o alojamento. Mais um tuk-tuk.

Agora é mais perto. Desde ali, do centro histórico, até à agradável Sea Hut Homestay, são menos de 4 km. Uma distância excessiva para se percorrer a pé de uma forma continuada, mas o transporte é muito económico e fácil.

Um casal de namorados procura um recanto sossegado

O local é maravilhoso. Uma casa com uma atmosfera histórica, um jardim idílico com redes de descanso e árvores frondosas e, acima de tudo, o mar, literalmente ali, separado da propriedade apenas por um murão de pedras e ao qual se tem acesso através de um portão privado.

Foi uma escolha em cheio. Exceptuando o último dia – devido à má vizinhança do quarto – passou-se aqui uma bela temporada, quase sempre relaxante, com o som do mar e o sopro do vento como únicos ruídos. Ora isto na Índia é um autêntico luxo.

Detalhes

Depois de descansar um pouco voltámos a sair. O regresso ao centro histórico. Na estrada principal, a que se chega por um estreito trilho, passam tuk-tuk a toda a hora. Não há que esperar muito.

Exploramos agora mais em detalhe as ruas de Fort Kochi. Percorremos as vias principais, ladeadas de antigas casas coloniais. É uma zona muito turística, com restaurantes, casas de câmbio, hospedarias, lojas de recordações. E, claro, muitos estrangeiros, ocidentais, andando por ali.

Mais detalhes

Cochim é talvez a cidade mais turística das muitas que visitei nas duas passagens pela Índia. Talvez seja “demasiado” amigável e simples de gerir.

Vimos a principal igreja católica da cidade, meninos a jogar futebol num pelado e visitámos o Museu Indo-Português, de interesse limitado mas imperdível pela temática.

Almoçámos no Canvas Restaurant, onde se esteve muito bem e onde haveríamos de voltar. Os sumos são deliciosos e o lugar é sossegado e acolhedor. À porta, um velho carro de fabrico indiano. E a localização é central, adequada.

Um velho carro indiano

Atravessámos a ilha para visitar o Palácio Mattancherry, construído pelos nossos antepassados e completamente refeito pelos holandeses. Mas correu mal. Estava tudo fechado e a visita ficou limitada ao seu exterior.

Ali não muito longe tinha referenciado uma sinagoga histórica. Encontrar a passagem foi aventuroso, e acabámos por caminhar bastante mais do que necessário. Eventualmente encontrámos. Mas encontrámos também, e antes de lá chegar, todo um bairro judeu que parece ser um dos pontos mais turísticos de Cochim.

Meninos a jogar à bola em Cochim

Zona muito interessante, cheia de recantos encantadores e detalhes pitorescos, muito boa para fotografar. E aqui acabou, por assim dizer, o dia. A tarde tinha avançado, o cansaço acumulado era considerável. Era tempo de regressar, relaxar naquele maravilhoso espaço e, ao serão, comer qualquer coisa no quarto. Foi um dia bom.

O pôr-de-sol desde o alojamento em Cochim

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui