Dia 25 de Fevereiro de 2024

Tinha o dia todo para apreciar Calcutá, mas o dia todo não seria suficiente. A cidade é grande, o trânsito intenso, os pontos de interesse diversos. E um mês e meio na estrada retiram energia.

Escolhi o Victoria Memorial. E escolhi bem. Mas antes tinha uma série de tarefas a cumprir. A primeira era sacar algum dinheiro indiano de um ATM. Sem problemas. No centro comercial ali perto. A seguir, revalidar o meu cartão de dados indiano. Tinha descoberto uma loja do operador ali perto. Não estava a encontrar, perguntei a alguém. Era mesmo ali ao pé. Uma jovem bonita resolveu-me a questão de forma simples e rápida. Agora uma farmácia. Tratado. Tudo a correr bem.

Voltei ao quarto para descansar um pouco. À hora do checkout deixei o hotel. Procurei um lugar para comer. Andei um pouco espreitando aqui e acolá e aproveitando para explorar as ruas mais próximas. Acabei por me decidir por um restaurante hipster junto ao shopping. Uma refeição sem memória, certamente cara, certamente com o prazer de reencontrar uma variedade de escolha que me escapou nas últimas semanas.

Chamei um Uber para o Victoria Memorial. Gostei da viagem, deu para ver uns bons bocados de Calcutá. O que vi não me deixou oprimido. Pareceu-me uma cidade simples de lidar. Há uma rede de metro, as multidões não são excessivas. E tem aspectos pitorescos.

O Victoria Memorial foi erigido pela celebrar o reinado da rainha Vitória. É um edifício impressionante, feito essencialmente de mármore branco, rodeado de jardins igualmente atraentes. É necessário pagar bilhete. O mais simples dá acesso aos terrenos circundantes, o mais caro inclui uma visita ao museu existente no interior do edifício.

Fiquei-me pela simplicidade do exterior, até porque levava a mochila, a carga toda. E não me arrependi. Foi uma tarde memorável, apreciada com todo o vagar do mundo.

O complexo é um polo de atracção para a população de Calcutá. Há grande animação e todo o povo ali se dirige. Famílias sentam-se em círculo, rodeando toalhas de piquenique colocadas nos relvados. Meninos brincam nos campos. Namorados encostam-se sob a sombra das árvores. Nesta multidão descobri um estrangeiro que, claro, atraía as atenções dos jovens interessados numa troca de palavras com a espécie exótica.

A arquitectura do edifício é imensamente inspiradora para a fotografia. E as pessoas que por ali andam não o são menos. Passei, fotografei, sentei-me a descansar. Voltei a caminhar. Percorri os jardins, observei os monumentos, atravessei o terreno circundante até chegar ao portão oposto.

Chegou a hora de partir. Saí para o exterior, chamei um Uber na rotunda ali próxima. Era um corropio de carros, alguns passando apenas por ali, outros largando ou recolhendo passageiros. Os táxis característicos de Calcutá marcavam presença, sempre pitorescos.

Segui para o aeroporto sem problemas, vendo agora de dia o percurso que na véspera tinha feito de noite. É uma rota interessante, na qual se podem observar diversos aspectos da cidade. Bairros impecáveis, blocos tão degradados que custa a acreditar que aquelas torres de 20 ou 30 andares ainda se mantêm de pé… e de repente bocados de natureza, manchas verdes, deixadas como bolhas no meio de toda aquela imensa urbe. Áreas de vários quilómetros de extensão relembrando que estamos numa zona tropical.

O voo para Amritsar correu bem. Cheguei já de noite. Mais um Uber, serviço limpo, sem problemas, para a morada do meu “hotel”. E depois os problemas… já é tarde, não encontro o hotel, que afinal acaba por aparecer numas traseiras manhosas, escuras como breu e habitadas por uma matilha de cães de rua. Subo as escadas e o rapaz diz que não tem um quarto para mim. Não fala inglês. Faz um telefonema e passa-me o telefone. Suponho que esteja a falar com o patrão. Também não o entendo bem, mas é evidente que não há ali um quarto para mim. Nada a fazer.

Saio para a rua e procuro um hostel que tinha visto ali próximo. Sucesso. É apenas umas quantas portas à frente e sou bem recebido pelos dois moços de serviço. Fico no dormitório que nestas duas noites terei só para mim. Sinto-me salvo pelo gongo. Estou feliz, outra vez.

Ainda saio para ver as redondezas e apesar de já ser bastante tarde assim que entro no círculo interior do centro de Amritsar sinto que penetrei num carnaval sikh.

Afinal de contas esta é uma das cidades mais sagradas dos Sikh e aqui reside o motivo do assassinato de Indira Gandhi, morta pelos seus guarda-costas Sikh após ter autorizado o bombardeamento do grande templo de Amritsar.

As ruas principais – pedestres – levam um fluxo sem fim de crentes, Sikhs de todas as partes que aqui confluem em peregrinação. Há um sentir de sagrado no ar, percebe-se a espiritualidade que aqui reside.

A massa de gente é servida por um sem número de pequenas e grandes lojas vendendo tudo e mais alguma coisa. Nada falta ali. É um ambiente entusiasmante, estou fascinado.

Vou andando até chegar às imediações do Templo Dourado. Ali sinto que é o meu limite. Prefiro não ultrapassar a fronteira que entendo existir entre os crentes e os ímpios, como eu. No dia seguinte as coisas serão diferentes mas para já estou a sentir o pulso a tudo isto.

Experimento uma rua perpendicular, mas rapidamente me encontro numa viela deserta e escura. Não é por uma questão de segurança mas tornou-se desinteressante e volto para trás.

Enfim, foi um dia longo, inicio o regresso ao meu alojamento, nas calmas, apreciando o meu passeio. Dormirei bem, apesar do serão longo dos rapazes da recepção que ficam ruidosamente acordados até tarde.

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