De 18 a 23 de Fevereiro de 2023

Nestes cinco dias que faltavam até ao voo para fora do Bangladesh não fiz nada. Estava tão oprimido pelo ambiente na cidade que não encontrei energia, coragem, vontade, para explorar. Nem a cidade nem nada fora da zona urbana. Dizem-me, e acredito, que as coisas fora de Dhaka são muito diferentes, mais fáceis. Mas estou obcecado em virar esta página, mudar de capítulo, visitar o antigo inimigo visceral deste país, o então Paquistão Ocidental e hoje simplesmente Paquistão.

Durante este tempo pensei em algumas soluções. Postos de parte os planos que tinha, que incluíam uma longa viagem de barco pelos rios do Bangladesh, desde Dhaka até qualquer outro ponto, considerei comprar outro bilhete de avião, perder esse dinheiro comprando a liberdade de partir mais cedo. Mas eram estupidamente caros. Podia mas não consegui largar aquela quantia. Depois pensei num compromisso. Usar uma fracção desse dinheiro num bom hotel em Dhaka e ficar até ao fim em grande estilo e conforto. Mas não encontrei nada.

Um dos melhores bairros da cidade é Banani. Fui até lá, na única saída significativa que fiz nestes cinco dias. Voltei para casa derrotado. Pode ser melhor, mas está lá toda a poluição e densidade do resto da cidade. Tinha sonhado encontrar uma parte de Dhaka cosmopolita, tranquila, organizada, limpa. Não existe tal coisa.

Portanto desisti e aceitei. Ficaria com o Rossi estes cinco dias fazendo nada. Simplesmente esperando que o relógio andasse. E foi assim. Li, joguei computador. A espaços falava com ele, saímos, visitávamos o quiosque local. Com o tempo, à medida que se habituava à minha presença, o Rossi foi ficando distante. Percebi que estava deprimido. De forma aguda por estar limitado pelo braço partido, mas provavelmente de forma estrutural também.

De forma que passei a ficar simplesmente no espaço da casa que era como um quarto para mim, deitado no colchão no chão, a apanhar melgas e descansando.

Os dias passavam-se. Num serão convidei o Rossi a comer pizza. Fomos ao local que ele entendeu seu o melhor. A pizza, bem, era diferente. Não era uma pizza como a entendemos. Mesmo assim soube-me bem. Foi cara mas paguei com gosto. Dois dias depois voltámos lá e correu mal. Senti-me muito, muito cheio. No dia seguinte não me conseguia mexer. Já sou um bocado barrigudo mas o meu abdomen tinha dilatado a um ponto perto do impossível. Sentia-me muito mal. Ao fim desse dia pedi ajuda ao Rossi. Que fosse a uma farmácia e me trouxesse algo que das duas uma: me fizesse vomitar ou me ajudasse a acabar aquela digestão incompleta. Mas os problemas perderam-se na tradução e o que veio não era nada do que precisava e ele – geralmente de tão boa comunicação – parecia não perceber o que pretendia.

Penso que as coisas evoluíram para uma gastroenterite. E então aconteceu um pequeno milagre: num país onde nada parece funcionar bem, o Rossi ligou para a linha de saúde e tivemos uma consulta em directo com uma médica que com uma simples prescrição resolveu tudo. No dia seguinte estava como novo!

No último dia fomos dar uma volta, já depois do cair da noite. Encontrámos três amigos do Rossi. Um pouco de conversa para variar. Por esta altura já me sentia em casa – o que não significa que estivesse bem – neste bairro. Podia andar sem me sentir perdido. Ia ao supermercado e pelo caminho comia umas doses de pudim numa confeitaria lá próximo.

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