Dia 14 de Fevereiro

Este foi o primeiro dia das duas semanas mais estranhas que passei em todas as minhas deambulações. A seu tempo veremos porquê. Para começar era um dia normal. Partida do hotel, um carro tipo Uber, do sistema local usado no Nepal. Sem problemas. Não me lembro se era um Domingo mas o ambiente matinal era muito pacato. As ruas estavam vazias como ainda não as tinha visto. Mas um grupo de foliões em uniforme e tocando tambores e bombos subia aquela via principal do bairro.

Os voos não tiveram incidentes. De Kathmandu para Delhi, e depois, já com a companhia aérea do Bangladesh para Dhaka. Sem atrasos nem problemas para resolver, um passo mais nesta relativamente longa viagem.

Passar o controle de passaportes não teve igualmente nenhum problema. Logo comprei um cartão de dados para o telemóvel. E a partir dali as coisas começaram a correr mal.

Teoricamente há Uber em Dhaka. Um grande TEORICAMENTE. Os condutores não fornecem o serviço sem falar ao telefone com o cliente, e falam bengali.

Cometi um erro. Saí zona do aeroporto reservada a passageiros. Sucede que o ponto de recolha Uber é dentro dessa zona. Mas depois de sair não há como reentrar. E lá fora, oh well, estarei a ficar velho para isto, talvez, mas nunca me senti tão desconfortável (caramba, tinha viajado pelo Haiti ainda há pouco!) e desprotegido!

Nada a ver com segurança ou medo concreto. Não, era mesmo um sentir sem saber o que fazer, o encarar um mundo estranho, diferente, impenetrável. Felizmente ia fazer Couchsurfing e o meu anfitrião revelou uma paciência sem fim, neste dia e noutros. Sem aquele SIM no meu telefone as coisas teriam sido ainda mais complicadas. Mas mesmo assim foi um bocado desagradável. Sem conseguir o carro para me levar fiquei desarmado. O que fazer? Logo ali saboreei aquele petisco amargo: Dhaka é o local do mundo com mais gente por quilómetro quadrado e isso pode ser asfixiante. Sentiu-se naquele momento. Em redor do terminal há pessoas a andar em todas as direcções. Teoricamente poderia ter apanhado um autocarro para a cidade, mas nem pensar… não saberia onde ir, o que fazer, que viatura apanhar. Para piorar as coisas o alfabeto é diferente, ininteligível para mim.

Entretanto, aos poucos, o Rossi – o tal anfitrião – ia resolvendo. Pediu-me fotos da minha localização exacta, que enviei. Para mim eram bem claras do sítio onde estavas mas mesmo assim passaram-se minutos sem fim. Até que alguém e grita: “your driver is there”. E assim era! O bom do Rossi solucionou e quando me sentei naquele carro senti um conforto uterino.

A viagem até casa do Rossi acentuou o meu sentimento negativo. Dhaka é esmagadora, confusa. E não pela positiva. Esqueci de dizer que para além da densidade demográfica a capital do Bangladesh é também o local mais poluído do planeta.

Então enquanto olhava pela janela, quase que me agarrava ao assento com as unhas, sentia-me repugnado pelo que via. Queria sair dali.

E com o Rossi, finalmente. Que alívio. Bom Couchsurfing, inglês fluente, muito boa conversa. Condições muito humildes, mas sentia-me bem, sentuia-me em casa, sentia-me entre amigos.

Nesse dia não se passou muito mais. A mãe dele apareceu para lhe trazer o jantar, como faria todos os dias. Conheci o irmão mais velho. Fomos para um pequeno passeio no bairro, parámos numa pequena mercearia, onde voltaria vezes sem fim.

Na primeira noite fiquei no quarto do irmão, que tinha partido para uma viagem de trabalho. Dormi bem, mas com uma nuvem negra a pairar. O que seria esta viagem no Bangladesh com este sentir?

 

 

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