Dia 23 de Janeiro de 2020, Quinta-feira

Acordando em Alausí e sabendo que tinha apenas umas quantas horas para ficar na cidade, apressei-me a iniciar o dia. O pequeno-almoço estava incluído no alojamento e foi tomado com gosto na sala comum lá em baixo.

A primeira paragem é no cemitério. Nada de extraordinário, na linha com o padrão sul-americano. Passamos pela praça do mercado. Há vendedores mas sinto que o melhor já passou, provavelmente à primeira luz do dia. Sente-se um certo desmobilizar.

Passear de novo pelas bonitas ruas de Alausí. É sempre agradável quando a realidade se casa com o nosso imaginário e podemos viver tudo aquilo. As casas de tempos idos, as senhoras vestidas tradicionalmente, com aqueles chapéus que as tornaram famosas como cholitas.

Rever a estação de comboio, procurar com sofreguidão um pedacinho desta encantadora povoação que não tivesse ainda sido visto. Mas não há. Tirando as zonas periféricas, e aí nada de especialmente encantador parece existir.

Pela hora do almoço as voltas estavam todas dadas. Visitámos a simpática tasca que existia ao lado do hostel. Para aí pela terceira vez em 24 horas. Os sumos eram dos melhores que recordo em toda esta viagem pela América do Sul.

Agora era altura de recolher as mochilas no hostel e procurar o transporte para Cuenca. A empresa rodoviária que opera esta rota entre Alausí e Cuenca tinha-nos dito na véspera que não vendia bilhetes para o dia seguinte e que era uma questão de estar ali em frente aos escritórios à hora pretendida de entre as várias partidas.

Foi um conselho vão. Depois de subir a íngreme rua até ao local, o escritório da companhia estava encerrado e na rua estava uma série de pessoas que parecia diluir-se em transportes privados que por ali paravam. Creio que são uma espécie de táxis rurais, quase sempre pick-ups robustas, e a sua utilização, pelo que via, envolvia sempre complexas negociações.

Nesta imagem vê-se o nosso hostel em Alausí.

A hora veio e foi e nada de autocarro. Eventualmente chegou um, mas para outro destino. Já passavam uns 45 minutos e começámos a pensar em caminhar mais e ir até à estrada principal que passa na periferia de Alausí. Mas não foi necessário, porque nessa altura chegou o transporte. Não o autocarro esperado, esse não sei alguma vez terá passado. Era outro, de uma empresa que me era desconhecida. Mas o que importava é que íamos a caminho de Cuenca.

Chegámos umas horas depois. A estação rodoviária de Cuenca é um pouco afastada do centro histórico, mas não tanto que não desse para caminhar. Cerca de 2 km. Hora de ponta. Muito trânsito, muita confusão. E dessa confusão nunca me consegui livrar durante todo o tempo que passei na cidade.

Andando até ao centro para procurar um hostel de improviso e a cidade parece prometedora. Uma rua sem trânsito automóvel, depois uma ampla praça cheia de gente e animação.

Daí para a frente as primeiras boas impressões diluiram-se. Talvez tenha sido um caso de excesso de expectativas. Até então todos os viajantes que encontrei na estrada me tinham falado maravilhas da cidade e o mesmo tipo de conversa encontrava em blogs e guias de viagem. Eu? Detestei. A confusão permanente, o ruído do tráfego eram esmagadores ao longo do dia. Assim que acabava a hora de ponta vespertina, o centro histórico desertificava-se. Foi uma missão difícil encontrar um local onde comer qualquer coisa à laia de jantar. Tudo fechado ou a encerrar.

Não gostei de nada em Cuenca. A riqueza patrimonial não me impressionou, não lhe encontrei ambiente nem romance. Nada. Desisti da cidade depois de algum tempo às voltas. Ao serão valia-lhe a bem conseguida iluminação dos principais edifícios públicos.

Felizmente ficámos bem instalados, numa casa que seria partilhada com mais dois quartos mas que nesta época não tinha mais ninguém. E mais que tudo, como que por milagre no meio daquele caos sonoro de Cuenca, era tão sossegada que não se ouvia nada do que se passava lá fora. Gente simpática, negócio de família. Muito boa, a estadia.


 

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