Acordar cedo, com uma certa ressaca, um mal que me chegou com a idade, já depois dos cinquenta, após uma vida de perdição isenta desta desagradável taxa. Terei dormido, nem sei… quatro horas?

Deixo a chave e o cartão na recepção, onde o meu amigo que fala espanhol porque foi flatmate de um equatoriano nos seus estudos na Ucrânia se despede de mim ainda mais ensonado que eu próprio.

Vou à estação de metro verificar o saldo do meu Baki Card. Não quero ser convidado a sair do autocarro para o aeroporto por crédito insuficiente. Está tudo bem e de sobra.

Caminho portanto até 28 de Maio, o mesmo caminho percorrido há uns dias, ao serão, para apanhar o comboio para Sheki. Agora é uma manhã linda de Domingo. A cidade está a acordar, o trânsito é reduzido. O céu é azul e o sol brilha.

Encontro a paragem depois de perguntar a uns condutores de autocarros. À hora prevista estamos a rolar em direcção ao aeroporto. Ficam os pensamentos e Baku no coração. Tinha chegado com expectativas baixas, visitar só porque sim, e afinal encontrei aqui uma cidade onde não me importaria de viver, onde o antigo se conjuga com o moderno, o oriente com o ocidente, o exótico com o familiar. Uma cidade onde as coisas são simples de fazer, de entender, de solucionar. Comida para todos os gostos, supermercados bem providos, preços baixos e muita coisa para ver. Quando tudo se esgotar, há o ambiente fantástico, para viver e respirar até sempre.

O autocarro ia quase vazio. Chegou ao aeroporto em meia hora. Sem novidade faço o check in, vou para a porta de embarque depois de um controle rápido de passaporte. E estou no ar à hora prevista.

A chegada a Tashkent diz-me logo que o Uzbequistão não é o Azerbeijão. A manga para onde fomos afinal está inoperacional. Espera-se no avião, toda a gente de pé, que cheguem os autocarros que nos levam para o terminal, a uns 30 metros de distância, isto depois de darem uma longa volta para seguir um percurso imaginário.

As formalidades de entrada até se fizeram bem. Muito rápido. Depois, precisava de trocar dinheiro. Mas o pessoal acha por bem fechar para almoço. Cheguei às 13:30 e sentei-me à espera até às 15:00, hora em que as funcionárias se materializarem para aceitarem os meus Euros. Os meus Euros não, parte deles, porque uma das notas tem uma pinta de tinta de esferográfica, que a diligente uzbeque detecta e aponta com a ponta da unha: “próplêm!”. “OK, no problem”. Dou-lhe outra nota, que passa no crivo.

Compro um SIM card no posto de turismo antes de sair do terminal. 5 Eur por 5 Gb de dados e 30 minutos de conversação. Nada mal. O Ado, um jovem couchsurfer que não podendo hospedar ajuda pessoal estrangeiro de viagem em Tashkent, está à minha espera no exterior. Apanhamos o autocarro, depois outro autocarro e chegamos ao iHostel.

O dia está quente. A diferença climatérica em relação ao Azerbeijão é imensa. Em Baku estava uma Primavera portuguesa. Em Tashkent está um Verão português. O iHostel é porreirinho. Ficarei mais uma noite. Tenho um bom dorm só para mim, há silêncio. Gosto.

Vou com o Ado encontrar um couchsurfer indiano e um amigo dele, que estão na estação de comboios, onde aproveitarei para comprar já o bilhete para Samarkand, para dali a dois dias.

 
 

Depois vamos ver coisas. Autocarros, paragem para comprar Coca-Cola e pão, e seguimos para um local maravilhoso, a mesquita Hazrati Imom, o primeiro avistamento da arquitectura uzbeque que reside no imaginário de qualquer viajante.

No amplo espaço interior a comunidade festeja aquele Domingo alegremente. Não há muita gente, mas os que estão desfrutam do momento. Meninos de bicicleta, um, correndo com um papagaio colorido pelos ares. Famílias e turistas locais. Entramos na mesquita. Um momento de silêncio, de contemplação.

Cá fora disparo umas dezenas de fotografias. A luz está maravilhosa, com o céu totalmente azul e a luz dourada a realçar o contraste entre este e a estrutura histórica, que se doura aquela hora da tarde. A noite está prestes a cair e os meus amigos decidem mostrar-nos a Mesquita Menor, chamando para isso um carro Yandex, a correspondente em boa parte do universo ex-URSS da nossa Uber.

A Mesquita Menor é recente e toda branca. Chegamos à hora da última oração do dia, cujo chamamento capto no telemóvel. Acorrem homens, de passo certo, os últimos já apressados. O Abo, o amigo e o indiano entram, eu deixo-os ir, não me sinto confortável numa mesquita durante a oração.

Fico no exterior a apreciar o belo momento, com a noite que finalmente se abate sobre a cidade. Foi um belo primeiro dia no Uzbequistão, algo que não se repetiria no segundo dia.

O meu amigo indiano tem jantar marcado com o seu anfitrião e com a namorada, os ubzeques chamam-lhe um Yandex que convenientemente me pode deixar a uma distância razoável para caminhar para o meu hostel. Perfeito.

No cruzamento devido despeço-me e saio. Estou feliz. Está-se bem. Ando com gosto, são cerca de 1200 metros, e visito o supermercado que fica mesmo ao pé do iHostel. Compro bananas, o funcionário que as pesa pergunta-me de onde sou. Claro, “Portugalja!? Ahhhh Ronaldo”. Pois. Pago menos de 5 Euros por abastecimentos para dois dias.

No hostel a cozinha e sala comum estão cheias de hóspedes. São trabalhadores uzbeques e turcos que estão em Tashkent a trabalhar na construção de um empreendimento famoso, enorme e moderno. Como ali qualquer coisa e vou para cima, para o meu palácio, o meu dorm para 16 pessoas ocupado apenas por mim.

Está calor, é natural, esteve muito quente durante o dia. Estou arrasado. Andei um pouco durante o dia, com os meus amigos, e tinha dormido pouco e bebido bastante na véspera. Deixo-me estar a relaxar e durmo bem.

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