“Lembro-me de olhar para tudo aquilo e de pensar que estava perante a mais magnífica obra humana que até então tinha visto.”

A minha viagem pelo Uzbequistão pode ter sido decepcionante, mas nunca esquecerei o impacto no momento em que vi o Registan pela primeira vez.

Tinha acabado de chegar, larguei a mochila no hostel e saí para a rua à descoberta da cidade. O Registan seria o destino imediato mais natural, sendo a grande referência turística de Samarkand.

O Registan, que na antiga lingua Tajik significa “local arenoso”, era o coração da cidade de Samarkand a gloriosa, dos tempos áureos da Rota da Seda, quando por aqui até as pedras pareciam ser de ouro. Era ali que a população se reunia, ouvia os éditos reais e assistia a execuções públicas.

A área então, como hoje, demarcada por três madrassas monumentais.  A mais antiga, chamada de Ulugh Beg, foi construída entre 1417 e 1420. As outras duas, a Sher-Dor e a Tilya-Kori  surgiram num espaço de tempo relativamente curto, entre 1619 e 1660.

E foi à vista destes três colossos que cheguei num final de tarde muito cinzento. Sem conhecer o local aproximei-me por um dos lados do complexo, esbarrando numa barreira de segurança. Logo as simpáticas senhoras chamaram uma guia oficial para me conduzir à bilheteira, que se encontrava do outro lado.

Comprei o ingresso. 40.000 SOM, cerca de 4 Euros. E como atenção especial o funcionário anotou no bilhete que seria válido também para o dia seguinte.

Explorei os cantos e recantos do Registan como uma criança em loja de doces. Aquela hora já não havia muitos visitantes. Apenas gentes locais. Grupos de amigos. Homens que, como eu, demonstravam um fascínio infantil perante a grandiosidade do cenário.

A riqueza cromática dos pequenos azulejos que revestem as amplas áreas das madrassas é fascinante, assim como o são as cúpulas azuis e os detalhes arquitectónicos. Todo o Registan transpira grandiosidade e a iluminação nocturna acrescenta verdadeiramente algo ao local.

Um grupo de mulheres em roupas tradicionais e lenços na cabeça exploravam também as diversas áreas do Registan. Muitos dos espaços foram convertidos em lojas de recordações, quase todas encerradas a esta hora já tardia. De resto, o Registan que aqui poderíamos ver se recuássemos no tempo até ao início do século XX seria bem diferente. Séculos de negligenciamento apimentados por desastres naturais.

Foi o regime Soviético que recuperou os monumentos, de certa forma exagerando nos cuidados e adulterando-os aqui e acolá. Seja como for, foi um bom trabalho.

Lembro-me de olhar para tudo aquilo e de pensar que estava perante a mais magnífica obra humana que até então tinha visto. Não terei sido o primeiro. Em 1888 George Curzon, que viria a ser Vice-Rei da Índia, declarou: “Esta é a mais nobre praça do mundo”. Antes dele outros pensaram o mesmo. E fizeram-no quando beberam as influência arquitectónicas do império de Timur e as projectaram nas suas cidades: observamo-lo nas grandes obras Safávidas no Irão, nas grandes construções do Império Mughal, na Índia e Paquistão, e mesmo em São Petersburgo.

E como nasceu tudo isto? Bem, ironicamente, graças a Timur, apesar do grande imperador não ter vivido para ver o Registan. Foi só devido às suas conquistas, que incluíram todo o Cáucaso e a Pérsia e cidades de importância fundamental como Delhi, Damasco e Bagdade. De todos esses pontos trouxe Timur os melhores artistas e uma riqueza incalculável, que lhe permitiu prosseguir o engrandecimento da sua capital, Samarkand. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui