3 de Fevereiro de 2023

Ah este foi o dia em que a partir de Patan fomos conhecer Kathmandu. Logo pela manhã, de carro, usando um serviço nepalês tipo Uber, o Pathao. Do ponto de acesso mais próximo do nosso alojamento – estes veículos não podem entrar no centro histórico – até ao acesso do enorme complexo religioso Swoyambhu Mahachaitya.

Pagamos o bilhete – necessário para visitantes estrangeiros – e mesmo antes de começar a subir a escadaria que conduz ao topo da colina onde se encontram os templos já estou fascinado. É uma autêntica peregrinação, apesar de ser dia de trabalho e bem cedo de manhã.

Não encontro palavras para descrever a cor, a intensidade, as vistas e tudo o mais. Admiro o fervor religioso daqueles budistas (Budismo e Hinduísmo repartem os corações espirituais dos nepaleses) e os detalhes dos templos e altares. Os muitos macacos que por ali andam são só por si um motivo para um visitante aqui vir. As suas traquinices e disputas podem entreter durante horas. Existem vigilantes no recinto, equipados com varas, para manter os endiabrados animais sob controle, intervindo quando algum deles põe em causa a integridade física dos visitantes ou do património.


Estando num ponto elevado a vista é fabulosa, vendo-se Kathmandu e Patan e toda a malha urbana que rodeia a grande cidade.

Note-se que apesar de serem parte da mesma malha urbana, as diferenças históricas entre Patan e Kathmandu são imensas e eram na realidade dois reinos distintos.

Foi de facto uma grande ideia, vir até aqui, algo que considero indispensável para quem quer que visite o vale de Kathmandu.



Do complexo religioso caminhámos para a zona onde se encontra o Museu Nacional e o Museu Militar, face a face, cada um do seu lado de uma estrada.

Sempre a descer, foi uma caminhada simples. A temperatura também estava de feição e o céu azul convidava ao passeio.

Passando por uma zona com um ambiente de subúrbio semi-rural, chegámos, iniciando a ronda dos museus pelo maior.


O Museu Nacional é uma amálgama de conceitos e de temas com as coleções distribuídas por uma série de edifícios. Apesar das ideias serem obsoletas a colecção é fantástica, com notáveis testemunhos da história e da arte nepalesa. Poderia passar horas a admirar os detalhes daqueles artefactos!

O que me arrepiou foi o desleixo e a incompetência. Ver um grupo de mulheres sem qualquer preparação ou sensibilidade técnica abrir as vitrines – durante as horas de visita do público – e limpar aquelas peças como quem limpa as pecinhas decorativas que temos no armário lá em casa foi chocante (isto é o técnico de museu que há em mim a falar, depois de décadas de afastamento).

A exposição tem uma certa ordenação temática, com predominância para as peças de índole religioso e para os aspectos etnográficos. Existem anexos dedicados à numismática e filatelia e à história natural (animais embalsamados).

Para trazer ainda mais cor e alegria à vista ao Museu Nacional, encontravam-se por lá diversas visitas de estudo, com os meninos e meninas vestidos a rigor, com o uniforme escolar.

Terminada a visita foi só atravessar a rua. O Museu Militar encontra-se integrado num complexo marcial e por isso não surpreende a burocracia para o acesso, com registo e mostra de documentos.

Há uma área da exposição exterior, muito degradada, com o equipamento deixado ao abandono. Mesmo assim será provavelmente a parte mais interessante. O museu interior é fraco. Teoricamente os visitantes têm que ser acompanhado por um guia, mas o que nos calhou em sortes falava algo tão estranho que sinceramente só vagamente se parecia com inglês mas certamente não se conseguia perceber nada. Aquela situação bizarra manteve-se por um bocado e depois ele percebeu que não estava mesmo a funcionar e deixou-nos seguir a visita a sós.

Ao contrário das duas experiências anteriores neste dia, não recomendo mesmo gastar tempo neste museu.

Arranjar um carro para nos levar ao centro histórico de Kathmandu não foi fácil. Tivemos que esperar um bom bocado, sentados à sombra, que a esta hora o calor era intenso.


E dali para o Durbar de Kathmandu, que tal como o de Patan é pago para estrangeiros. Interessante sem ser fabuloso. Visitámos os pátios do palácio, uma sucessão de espaços rodeados por edifícios ricamente decorados, com destaque para as portas e trabalhos de madeira talhada nas fachadas.

Infelizmente o grande templo que se encontra ao lado estava encerrado ao público. Penso que temporariamente, pois via-se que existiam trabalhos de manutenção a decorrer.

Depois, almoçámos num terraço no topo de um edifício, onde me presenteei com uma bela (e cara) cerveja muito gelada. A comida demorou séculos a chegar, mas sem problema. Soube bem descansar ali de um dia que já ia longo. E as vistas eram fabulosas.

A chegada de um grupo de americanas foi o sinal para a partida. Dali seguimos para as ruas mais movimentadas da capital, aquilo a que em Portugal chamaríamos de “baixa”. Muito comércio, uma multidão intensa, compacta.

Aqui e acolá templos com rugas do tempo. Muitos motivos de interesse, é verdade, mas no seu todo, a área histórica de Kathmandu não impressionou tanto como as das outras cidades que visitámos.

Acabámos por voltar para trás, considerando que seria mais simples chamar o carro Pathao para a entrada do Durbar, no mesmo ponto onde onde nos tinham deixado. E assim foi. Rapidamente voltámos a Patan, a território conhecido que já sabia a “casa”.

Já noite procuro numa das ruas comerciais da cidade um par de t-shirts que preciso. Compro a bom preço e qualidade e uma delas com uma estampa de I Love Nepal, será muito útil, inesperadamente, na fase final desta grande viagem.

Seria a última noite em Patan. Ficariam as saudades daquelas ruas que depois de vários dias se nos tornaram tão familiares.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui