13 de Janeiro de 2020, Segunda-feira

A noite foi… digamos… agitada. Ao nosso dormitório chegaram três franceses. Um casal e um amigo. O casal era, por assim dizer, normal. Agora o amigo tinha má pinta e, provavelmente não sendo mau rapaz, veio a provar ser uma companhia pouco agradável.

O ser barulhento e falar aos berros por todo o lado seria o menos. O pior veio a meio da noite. Estava muito bem a dormir quando acordo com o rapaz inglês ao meu lado, um tipo robusto e grande como um touro, aos berros… histérico mesmo: “What the fuck!?”, “What a hell do you think you are doing!?”, “Stop that shit, right NOW”. Bem, numa fracção de segundo ocorreu-me que alguém se tivesse metido na cama dele com intenções carnais. Depois percebi que o objecto da sua ira estava do meu lado do dormitório, e ao mesmo tempo senti a minha cama a balouçar, como um navio em mar de temporal. Pois é… o meu querido vizinho, o tal francês xunga, estava no bem-bom, e como os beliches estavam todos ligados, a cada investida de cintura, eu abanava como se fosse a dama.

E o ciclo prolongava-se. Ao lado, tumba, do outro lado, “What the fuck!?”. E mais pumba e “What a hell!?”. O inglês, depois de ameaças, gritos e exclamações, ao que o francês e a dama se revelaram completamente indiferentes, saiu aos berros pelo hostel.

Pouco depois apareceu o rapaz do turno da noite, abriu a cortina do meu vizinho e saiu a fugir. Bom, o inglês mudou-se para outro dormitório e eu aguardei pacientemente pelo fim da borrasca. Passado um bocado ela injectou-se lá para baixo (estávamos ambos no andar de cima do beliche) e saiu a correr.

Ele, estava tão bêbado, que se manteve sentado, como se tivesse pensado em ir a algum lado e tivesse adormecido antes de o conseguir. Só lhe via os pezinhos pendentes. Adormeci. Passado umas horas, sei lá, pelas cinco da manhã, acordo com um baque seco. O francês tinha-se despencado lá de cima, caiu como uma fruta madura. Não se aleijou.

Passado o frenesim do fim-de-semana, Bogotá mostra hoje uma outra face, mais serena, com um toque de ressaca.

Nas ruas em redor do hostel, pela manhã, as pessoas deslocam-se em direcção ao trabalho. Mais abaixo, nas principais vias rodoviárias do centro histórico, o trânsito é intenso.

O tempo melhorou. Lá em cima o azul domina o céu, cortado apenas por alguns farrapos de nuvens que temperam o cenário.

Passeamos um pouco pelas imediações mas aquilo está um bocado esgotado. Sinto de novo que em 2016 este bairro era mais interessante.

Agora o que fazer? A Casa de Bolivar está fechada às Segundas-feiras. Subir a Monserrate? Porque não…? Vamos nessa. Caminhar até ao funicular. Na fila. Muita gente. De repente bateu-me uma falta de vontade de estar ali. E pensei… que tal chamar um Uber e ir lá acima? Vi e não era muito caro. Na realidade era mais barato do que o próprio funicular ou teleférico. Os dois sistemas estão montados e há uma certa confusão. Há preços cruzados que para aumentar o caos mudam conforme a hora.

Chamei então o Uber, indo-me colocar do outro lado da estrada, nas paragens de autocarro. Apareceu passado um pouco. Usei muito a plataforma em Bogotá e correu sempre muito bem, ao contrário do que é passado pelo feedback que surgiu quando fiz uma pesquisa no Google.


Agora vem a asneira. A minha asneira. Li mal o mapa e sem me aperceber fui confundido com os nomes dos lugares. Em vez de encomendar uma viagem para o Santuário de Monserrate, fi-lo para o Santuário Virgen de Guadalupe. Que é uma montanha ao lado. Só me apercebi a meio da viagem quando me comecei a ver a afastar do destino pretendido e fez-se-me luz.

Bem, nada a fazer. Até porque, como percebi mais tarde e confirmei com a condutora, para o de Monserrate não há mesmo estrada. A única forma é mesmo através dos meios mecânicos partindo do sopé da montanha. Ou a pé. Existe um trilho mantido em boas condições e muito popular entre os locais, que leva até ao topo.

Então lá chegámos. A 3300 metros de altitude sinto a falta de oxigénio. Mais tarde nesta viagem, este valor tornou-se sinónimo de estar em baixo e de alívio, depois de andar durante dias próximo dos 5000 metros.

Ainda por cima estou coxo, tenho uma pequena lesão num pé. É pequena mas doi e preocupa-me, porque em viagem não há muito tempo de repouso e a situação pode eternizar-se.

Para piorar as coisas, temos que ver o local de corrida. Como o Santuário é este e não o outro, é certinho que não teríamos como regressar à cidade. A condutora acedeu a esperar 15 minutos e não mais, porque tem que ir entregar o carro e já está atrasada.

Então a coxear e a correr lá fiz a última etapa da subida, vi as vistas – impressionantes – e olhei para a igreja e depois foi regressar com a mesma pressa.

O resto do dia foi para repousar. Não estava especialmente cansado mas o pé doía-me. No hostel, fizemos um ultimato por causa do francês: ou se arranjava outro sítio para dormir ou adios. Andámos a ver. Quartos privados não havia. Vimos um par de dormitórios mas não eram agradáveis por uma razão ou por outra. Então descobriu-se que havia espaço no dormitório mesmo ao lado. E que diferença. Este sim era o que estava nas fotos. O conforto físico e psicológico subiu em flecha. Agora tinha um quarto espaçoso e com vizinhos agradáveis, um hostel no seu melhor.

Ao fim do dia, já escuro, saímos para comer qualquer coisa. O meu fornecedor de deliciosos sumos estava encerrado, talvez por ser Segunda-feira. Mais à frente encontrámos uma pizzeria com pessoal simpático e um ambiente intimista de que muito gostámos. E foi assim o segundo dia em Bogotá.

 

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