Depois do choque à chegada com a multidão que enchia a cidade, decidi um despertar com a alvorada para sentir as ruas com a tranquilidade da hora matinal. Ainda a iluminação pública oferecia a luz tornada vã com a chegada do sol e já caminhava nas calçadas de Santa Fé de Antioquia.
Algumas pessoas circulavam já, a caminho dos seus postos de trabalho. Os carros que na véspera ocupavam cada espaço disponível de estacionamento tinham partido. As gentes de Santa Fé usam essencialmente motas para se deslocar e assim como assim nem essas estavam ainda activas.
O tempo estava ideal. Temperatura amena, céu predominantemente azul com algumas nuvens a temperar o horizonte. Foi tempo de passear, redescobrir aquelas ruas já conhecidas, espreitar becos abrigados, observar detalhes.
Depois, chegou a hora do pequeno-almoço. Regressámos a casa, onde na antiga mesa de madeira doña Patricia nos serviu uma maravilhosa refeição, pecando pela falta de abundância mas, por outro lado, feita de sabores naturais e intensos.
Nesta manhã queria visitar a Puente de Occidente, que como o nome indica se encontra a oeste da cidade, assegurando a ligação rodoviária com a província seguinte. Esta ponte tinha-me ficado atravessada desde 2016. Na altura, cansado, já no fim de uma viagem de dois meses, não arranjei energia para a visitar, especialmente depois de um condutor de tuk-tuk me ter pedido uma pequena fortuna para lá me levar.
Desta vez aconselhei-me com a anfitriã sobre o preço justo. Sinceramente já não me recordo quando seria, mas creio que o equivalente a 12 Euros. E assim, depois do pequeno-almoço, tomado com muita calma, saímos à rua em busca do condutor certo.
Não demorou muito. Chegados à esquina logo se estabeleceram negociações e o acordo ficou firmado com o primeiro condutor. Pelo preço justo. E como veria de seguida, com um serviço reforçado.
Saímos da cidade, por uma estrada coberta de sombras proporcionadas pelo alto arvoredo. Subidas e descidas, equilíbrios precários num veículo precário, olhos bem abertos e sentidos acariciados pela mistura de aromas e pelo vento fresco na face.
Mais ou menos a meio do caminho o condutor teve a gentileza de parar o tuk-tuk para nos mostrar um detalhe curioso: os garimpeiros de ouro, que ali próximo da estrada peneiravam o leito de um riacho em busca de um dia ganho. Contou-nos estórias sobre a procura do mineral precioso, explicou-nos como e onde se fazia o trabalho. Muito interessante.
Chegámos à ponte. Antes de baixar para a entrada do tabuleiro tem-se uma vista geral ideal para a fotografia.
Lá em baixo o nosso condutor, que, já se vê, será também um guia, sugere-nos que atravessemos a ponte a pé e que nos encontremos do lado de lá. Para que possamos observar com calma o cenário. E depois, no regresso, teremos a experiência de cruzar no veículo.
Assim foi. Passeio agradável através do tabuleiro e, na margem oposta, lá estava ele. Seguiu-se uma boa explicação da história da ponte e uma amostragem de detalhes que nos teriam escapado. Que belo investimento este dos 12 Euros!
Mostrou-nos os alicerces dos cabos de aço que suspendem o tabuleiro, uma perspectiva diferente, por debaixo, para mais umas fotos. O local está cheio de turistas, é um bocado de mais.
A ponte foi transformada numa atracção. Há lojas, esplanadas. O condutor levou-nos a uma. Muito simpático. Deu para perceber (ou então enganaram-me bem) que não é um daqueles casos de receber comissões. Apenas quis partilhar algo mais da sua terra. Sugeriu-nos umas bebidas baseadas no sumo de cana. Comprei uma rodada. E trouxe também caramelos de doce de leite. Foi um bocado agradável, na loja, surpreendentemente.
E estava na hora de regressar. Desta vez de tuk-tuk pela ponte, a fazer um barulho curioso, com o rodado a passar sobre as vigas de madeira que compõem o tabuleiro. Logo estamos no ponto de partida. Dinheiro entregue com mais um bocado pelo excelente trabalho do nosso amigo e pronto. Missão cumprida.
Mais tarde viríamos a encontrá-lo naquelas ruas. Passava na sua azáfama, com passageiros ou sem eles, já não me lembro. Os nossos olhos cruzaram-se e ele foi mais lesto a acenar, com muita alegria, um grande sorriso.
De tarde foi tempo de relaxar, usufruir da bonita casa de doña Patricia, ler um pouco esticado na rede. Ela saiu, ficou um ambiente mais privado, descartada ficou a inibição de tirar fotografias. E é como se vê:
Ao final da tarde fomos dar mais uma volta. Reencontrar uns cantinhos que ainda faltavam e mergulhar de novo no ambiente de festa. As igrejas continuavam activas, as vendinhas de rua dispensavam as suas guloseimas e a loja de sumos mereceu outra visita.
Passei pela farmácia onde encontrei o que precisava. A pizzaria que nos tinha sido recomendada continuava cheia e apesar de não encontrarmos uma mesa, deu para encontrar a anfitriã que ali acabava de jantar com um pequeno grupo de amigos. Que vida boa leva aqui esta senhora!
Ainda caminhámos um pouco mais, mas o dia seguinte seria longo e relativamente cedo regressámos a casa, onde já muito animados os convidados de doña Patricia conversaram um pouco connosco.